Capítulo 56, parte IV

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A sala ficou em silêncio, Dulce mantinha os olhos murchos e presos aos de Blanca, Alfonso e Christopher trocavam olhares, Lucía e Ailin pareciam conversar em silêncio. E Dante... Dante tinha os lábios entre abertos e a respiração acelerada.

Podia ver em Blanca uma imagem de si mesmo, era capaz de lembrar-se de cada agressão de Anna; tudo o que Blanca dizia, soava como a mais crível das verdades.

— Eu acredito em você. – Dante disse e a senhora o encarou imediatamente. – Ela fez o mesmo comigo.

— O que? – Blanca respirou com alívio, era a primeira vez que encontrava alguém que a compreendia.

— A maneira como te olha enquanto te tortura, como pronuncia pausadamente cada ameaça, como machuca, como encara nos enlouquecer. – Dante disse, e as lágrimas escorreram devagar pelo rosto. – Ela te marca de um jeito que se torna impossível esquecer.

— Como se gostasse, como se desfrutasse, como... – Blanca chorou em silêncio. – Como se aquilo fosse um abastecimento para ela, como se aquilo a enchesse de...

— Poder. – Dante completou e a senhora escondeu o rosto entre as mãos ao cair no choro.

O alemão levantou-se e foi até a mulher, abaixou-se ao lado dela e lhe estendeu a mão, esperando até que ela aceitasse o contato. Encarou os olhos emocionados dela e lhe deu um breve sorriso.

— Você não está sozinha. – disse firme. – Sei que perdeu a sua família, eu também perdi a minha. E não poderei recuperá-la. – a voz embargou outra vez. – Mas você, sim. Não permita que digam que você está louca, não se permita acreditar na realidade que ela desenha, porque é tudo falso. Você tem para quem voltar.

Blanca assentiu em meio a tantas lágrimas, curvou o tronco e abraçou o homem, desafogando a angústia que levava dentro de si; jamais tiver tanta compreensão e respeito daquela forma.

— Eu não... – ela o soltou aos poucos. – Eu não sei o que Anna pretende. Nunca soube. – então mirou a morena. – Mas, minha filha, lhe direi o que disse ao seu pai tantas e tantas vezes: não se aproxime daquela mulher. Ela não é coisa boa. – tocou a mão dela. – Gostaria tanto que Fernando tivesse me escutado antes. Tanto!

— Voltaram a se ver? – Lucía perguntou e a mulher a olhou, sem saber o que falar. – Perdão por perguntar assim, não quero soar mal, mas temos pouco tempo. Você voltou a encontrar o Fernando?

— Ele foi me visitar poucas vezes. – fungou. – Há anos não o vejo. Meus filhos foram poucas vezes, mas meu marido sempre me visitava com frequência.

— Sei... entendo. – Lucía murmurou, lembrava-se de ter visto informações diferentes na ficha da clínica.

O celular de Ailin tocou, atraindo a atenção de todos na sala, a ruiva apenas desligou a chamada e respondeu a mensagem rapidamente.

— Martín chegou. – Ailin anunciou. – Precisamos levá-la de volta.

— Perdão se... se não pude ser mais útil. – Blanca levantou-se. – Só... tenham cuidado com qualquer que seja a coisa que estão procurando. – mirou a morena. – Principalmente você, você... você é uma joia, querida.

Dulce a olhou e viu a mirada carinhosa e acolhedora de Blanca, encontrou ali o olhar que sempre desejara receber de uma figura materna.

Levantou-se e abraçou a mulher, apertou-a com força e chorou em silêncio, seu coração batia como nunca.

— Eu teria adorado ser a sua mãe, Dulce. – sussurrou. – Teria adorado proteger, cuidar, educar você... teria adorado viver a chance de te fazer feliz. Você é uma alma fora do comum, um anjo de luz. – beijou-lhe o rosto. – Veio para cuidar do seu pai, é o presente que ele sempre mereceu. Não tem nada de ruim em você, nada... nem mesmo um pouquinho. – não soltou a morena. – Você continua sendo aquela criança iluminada. Deus saberá te recompensar por todo o bem que você faz, querida.

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