Capítulo 40, parte II

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Anna estava completamente diferente do que ele se lembrava. Aquela delicada menina de olhos amendoados e exalante simplicidade, agora se transformara em uma forte e poderosa mulher, que caminhava firmemente sobre o fino salto alto.

Usava a saia preta midi e a blusa de seda amarela, deixando transparecer as clavículas saltadas e os braços finos. Os cabelos loiros, assim como ele se lembrava, estavam soltos e sedosos.

— Ele acabou de chegar, senhora. – a recepcionista adiantou-se, fazendo o homem encará-la outra vez.

Só então Fernando reparou na decoração do local e nas letras pregada à parede: M.A Assoc.

Por um instante questionou-se sobre a tradução de tais siglas, talvez a loira tivesse decidido usar o primeiro sobrenome Marchetti Anna. Se assim fosse, por que ela havia escolhido seguir com um Associados ao final?

— Fernando. – ela se aproximou e então sorriu. – Obrigada por vir. Este é um ambiente seguro.

Ela disse com naturalidade, mas o homem seguia quieto, encarando tudo ao redor, como se internamente tentasse compreender o que acontecia.

— Me acompanha até a minha sala? – ela pediu, fazendo um leve gesto para o interior do escritório.

Fernando assentiu sem nada dizer, passou a seguir a loira pelo extenso corredor, reparando nas salas de vidro, no movimento de pessoas e nas mesas cheias. Tudo ali soava tão profissional que ele quase acreditou que realmente se tratava de uma agência, entretanto, conhecia a família de Anna suficientemente bem para saber que não, aquilo era tudo... menos uma agência.

Entrou com ela em uma das últimas salas, reparou nos sofás espaçosos e caros, olhou os quadros coloridos, e pela primeira vez sentiu-se identificado com a imagem de Anna que guardara dentro de si.

Passeou os olhos pelo restante da sala, tudo muito fino e caro, desde a água saborizada até os doces colocados deixados ali.

Chegou até a mesa da mulher, viu o caro iMac e a mirada caiu sobre os dois porta-retratos deixados sobre o local: a foto de Anahí e a foto de Dulce. Sentiu o sangue ferver dentro de si e pegou o porta-retrato da morena.

— Fernando...

— Nunca mais! – ele segurou a foto contra o peito. – Nunca mais use uma foto da minha filha assim!

— Ela também é minha filha! – arqueou as sobrancelhas.

— Não! Você perdeu o direito sobre ela no instante em que escolheu se casar com aquele demônio! – apertou os dedos sobre o porta-retrato. – Portanto, Anna, não venha agora atrapalhar a vida dela!

Anna fechou os olhos e abaixou o rosto, Dulce não a conhecera no passado, Anahí não a conhecera no passado, mas Fernando sim. Fernando a vira quando o mundo ainda não a encontrava, Fernando a desvendara, a curara, a fizera sentir inteira quando tudo ao redor a partira em pedaços; com ele não havia segredos.

Sem coragem para mirá-lo, ela caminhou de cabeça baixa até o sofá e sentou-se ali, esperando que o homem fizesse mesmo.

Mas Fernando parecia irredutível e não moveu um só centímetro de onde estava, segurava o porta-retrato de Dulce como quem segurava o maior tesouro em suas mãos; não estava disposto a soltá-lo.

— Fernando... – ela disse baixo, sem saber como começar tal explicação.

— Por que está fazendo isso? – ele a cortou. – O que quer com a Dulce agora?

— Quero vê-la. – pediu. – Conviver com ela.

— Jamais! – respondeu firme.

— É a minha filha! – voltou a dizer, e ele negou outra vez. – Ela tem o direito de saber!

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