— Christopher, eu realmente sinto muito por tudo o que fiz com a gente. – ele não a encarou mais. – Perdão. Por favor. – ele contraiu os lábios, sem mover-se. – Não pode nem... não consegue nem me olhar mais?
— Não... – a voz saiu perdida e baixa. – Não sei como te olhar.
— Por favor, só... – fechou os olhos e desesperou-se. – Por favor, não me odeie assim. Por favor.
Ela esperou alguma palavra, qualquer mísero resmungo ou sinal de que ainda poderia haver uma conversa, mas Christopher não parecia mais disposto a lhe entregar nada.
Levantou-se e deixou a mesa, caminhando a passos tortos até chegar à sala, não queria chorar na frente dele e dar ao senador o peso de lidar com a dor dela.
Sentou-se no sofá, levando as mãos ao rosto para só então desprender o choro que tanto se esforçava em guardar dentro de si.
Chorou como há meses não conseguira chorar.
Chorou pela dor de perder mais um filho, mais uma criança que ela desejava ter amado, cuidado, ter visto crescer.
Chorou pelo fim de uma relação que ela desejava ter durado para sempre, ter aprendido, reaprendido, e se esforçado sempre um pouco mais para mantê-la firme.
Chorou pela necessidade que sentira de tirar de si o sonho que cultivara desde criança e o objetivo que criara de ser uma mãe melhor do que aquela que Deus escolhera para ela.
Chorou porque abrir mão de uma gestação seria a necessária dor que carregaria até o fim.
Chorou porque precisara machucar a si mesma e levara consigo Christopher e Dante, privando a ambos de um filho.
Chorou porque, pela segunda vez na vida, pensou que desejaria não ter que lidar com nada daquilo.
Chorou ao perceber que estava vazia. Que sempre estaria. Que aquele final não mudaria.
Chorou. Com a dor que não havia cessado, mas somara-se à nova ferida aberta, ela chorou.
Christopher entrou na sala algum tempo depois, sentou-se ao lado da morena, e ela levou alguns segundos para levantar o rosto e mirá-lo.
Os olhos voltaram a inundar-se de lágrimas ao ver a expressão triste dele e o vermelho que agora rodeava o olhar antes tão alegre e esperançoso do senador.
— Desculpe. – levantou-se. – Eu já estou indo. – sentiu a mão dele sobre a sua e então olharam-se outra vez. – Christopher?
Ele a puxou com leveza e a morena sentou-se outra vez, olhando-o com dúvida. Christopher a puxou contra si, colocou-a em seu peito e fechou os olhos ao abraçá-la.
O choro dela voltara no mesmo instante, apertou as mãos no suéter e escondeu o rosto sobre o peito do homem enquanto o sentia apertá-la contra si e deslizar carinhosamente uma das mãos entre seus cabelos.
Sentia a respiração agitada dele contra si, e sabia que, talvez, o mais indicado seria tranquilizar-se e tranquilizá-lo, mas estava tão imersa no carinho inesperado que recebera de Christopher, que não conseguia pensar em mais nada além de senti-lo. Ela apenas precisava senti-lo, ainda que fosse por uma última vez.
O coração desacelerou quando os lábios dele tocaram o alto de sua cabeça, em um demorado beijo, que caiu até a testa dela e deslizou até ambas as pálpebras de seus olhos. Terminou sobre a maçã de seu rosto.
Dulce permaneceu em silêncio por mais alguns segundos, tinha medo do que encontraria quando abrisse os olhos, tinha medo da despedida que ele, provavelmente, lhe daria. Não queria ouvir, não queria ver, não queria enfrentar. Talvez simplesmente preferisse guardar dentro de si a expressão rotineiramente alegre que ele sempre tivera.
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Jogada Paralela
RomanceEle queria o senado. Ela traçou o caminho. Ela buscava justiça. Ele entregou por inteiro. Atraídos como imã, foram cegados pela jogada perfeita. Desencontraram-se. Fizeram-se independentes. O jogo não para. O tempo corre. Arrisque uma Jogada Parale...