Capítulo 21, parte II

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Não quero me estender mais, prometo que já vou liberar todos vocês. – ele brincou e dobrou a folha ao meio. – Mas antes de me despedir, gostaria de pedir algo que, talvez não pareça ter nada a ver com política, mas ao mesmo tempo, tem tudo a ver com isso. – viu a assessora arregalar os olhos. – Por favor, Anahí, não se desespere! – ele riu e a câmera mostrou a loira. – São essas coisas que deixam a minha assessora maluca! – ele deu de ombros e a plateia riu. – Mas o que quero contar é uma experiência que vivi e que mudou a minha vida por inteiro. – Eu estava num elevador, conversava com uma pessoa sobre política, ela tinha algumas observações contrários às minhas, e em dado momento nós concordamos em algo e ela me disse o seguinte: não me diga que você tem consciência política! Porque ou você é sonhador ou você é louco! – disse, e Dulce endireitou-se instantaneamente na cadeira. – E eu disse a ela que consciência política é, na verdade, consciência de quem cuida do povo. – sorriu ao final. – E o cuidado, a preocupação, graça a Deus, não têm nada a ver com dinheiro. É possível cuidarmos e nos preocuparmos uns com os outros. E isso não é pago! – sorriu diante dos aplausos. – E por que eu digo que essa pessoa mudou a minha vida? Porque ela era muito diferente de mim, e a partir daquele momento, a vida dela tocou a minha de uma forma que jamais, dinheiro algum no mundo, vai poder tocar de novo. – fez uma pequena pausa, controlando os sentimentos dentro de si. – Eu me proponho a tocar positivamente a vida de todos vocês. E peço que, por favor, façam o mesmo por mim e por todos aqueles que vocês encontrarem. Sempre. – sorriu de lado. – Deixemos as amarguras de lado. Sejamos doce para o nosso próximo. Obrigado a todos.

Dulce pareceu despertar do mundo em que entrara com ele e desencostou-se da mesa, notando que tinha os olhos transbordando em lágrimas.

― Dul, tudo bem? – Abiane a olhou com espanto. – O que houve?

― Nada, nada, só... – tirou rapidamente os fones. – Me... emocionei.

― Está revisando o romance novo? – a editora jogou o corpo para o lado e mirou a loira. – Eu também me emocionei! Não consegui separar o lado profissional! Está na parte em que a garota morre?

― É... – Dulce forçou o sorriso. – Estou na parte em que os dois se separam.

― É lindo demais! Eu vou ter que revisar duas vezes! – a editora sorriu e voltou ao trabalho.

― Quer uma água? – Abiane voltou a mirar a loira.

― Não, obrigada. – Dulce secou o rosto por completo. – Obrigada mesmo.

― Estou aqui, caso mude de ideia. – Abi piscou, mas a loira apenas assentiu.

Dulce endireitou-se na cadeira e buscou recuperar a calma e o profissionalismo, ali não era o lugar adequado para expressar nenhum sentimento. O discurso de Christopher a havia pegado de forma tão desprevenida.

Jamais pensou que o homem pudesse se lembrar de um momento como aquele, afinal, fora a primeira conversa que tiveram! Não haviam trocado mais do que meia dúzia de beijos na boate e alguns outros perdidos no carro, nem mesmo haviam tirado as máscaras; como é que ele podia ter sido tocado por algo que parecia tão pouco?

Sorriu sozinha ao lembrar-se das últimas palavras dele: sejamos doce.

Ele não havia escolhido aquela frase à toa, não era possível que Roberta o tivesse acompanhado, não era possível que ele pudesse estar com outra pessoa... certo?

Mirou o celular sobre a mesa e encarou o aparelho por alguns segundos: enviar ou não enviar a mensagem? Confessar ou não que o havia visto? Deveria parabenizá-lo? Mencionaria o discurso? O que deveria fazer?

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