Dulce gostaria de poder controlar-se, de organizar os pensamentos dentro de si, mas seu coração mais parecia um emaranhado de sentimentos que não a levavam a lugar algum; tudo dentro dela era confuso e doloroso.
Pensar em Anahí, lhe doía. Pensar em Dante, em Noah, nos filhos perdidos, no quanto sacrificara sua relação com Christopher. Até mesmo pensar na família era algo que, agora, a machucava por inteiro.
Queria controlar-se, queria mudar, ela só não sabia como. E não soube.
Na guerra contra os próprios sentimentos, ela perdera. E o choro somente cessara quando a morena não tinha mais forças para aguentar e o corpo desmoronara no banco do carro.
Voltou a acordar quando sentiu a parada do automóvel, os olhos abriram-se ainda meio perdidos e elas os coçou sem pensar no quanto aquilo deveria borrar o pouco da maquiagem que ainda tinha.
Olhou para o lado de fora e viu a montanha vazia, os arredores silenciosos e isolados; tudo ali era calmo e longe do mundo.
— Dario, onde estamos? – ela assustou-se e buscou pelo motorista.
— A senhorita não me disse para onde ir. – ele tirou o cinto de segurança. – Eu escolhi o nosso destino. Venha, menina, por favor.
Dulce quis fazer uma nova pergunta, mas o senhor saiu tão rapidamente do carro, que ela simplesmente emudecera.
Logo o homem abriu a porta para ela e lhe deu um acolhedor sorriso. Olhou-o com confusão, mas confiava nele o suficiente para aceitar qualquer que fosse o propósito de tal parada, então lhe deu a mão e desceu do carro.
Mirou ao redor e sentiu o vento bagunçar seus cabelos, aquela montanha, alta e isolada, não parecia fazer parte da cidade grande e caótica que conhecia.
Viu Dario sentar-se sobre uma das pedras ali e, sem saber o que deveria fazer, apenas seguiu o senhor e sentou-se ao lado dele.
— Dario, o que está acontecendo? – franziu o cenho ao perguntar.
— Pensei que aqui seria um bom lugar. – ele encarava o horizonte. – Para derramar algumas lágrimas. O ar livre sempre sabe como nos acolher.
Dulce olhou-o e sentiu que não era capaz de expressar o quanto aquele gesto havia acertado em cheio seu peito; estava muda e impressionada.
Encostou-se no ombro do senhor e permaneceu em silêncio, sentindo o peito subir com dificuldade enquanto as lágrimas voltavam a inundar seus olhos; sua dor não cessava.
— Deus sempre sabe o que faz, menina Dulce. – disse, e não esperou que ela lhe desse qualquer resposta. – Sempre que as minhas forças se esgotam, eu venho até aqui. É um lugar especial e escondido, que descobri há mais de 30 anos, e escolho muito bem as pessoas com quem vou compartilhá-lo. – ela colocou a mão sobre a dele. – Trouxe o Christopher logo no início da campanha dele, depois de uma briga feia dele com a menina Anahí. Ficamos aqui por umas duas horas. – lembrou-se. – Depois eu o trouxe na segunda-feira, logo após a eleição, quando todos o aplaudiam por ser um novo senador, e ele não tinha você por perto. – sentiu as lágrimas dela molharem sua camisa. – Quando vim pela primeira vez aqui, havia acabado de perder o meu filho e não sabia se seria capaz de superar aquilo. Hoje, quando você entrou no carro, vi no seu olhar a mesma tristeza que eu tinha naquele dia.
Dulce fechou os olhos e apertou inconscientemente a mão do senhor, entregando-se ao choro angustiado que carregava em seu peito, queria encontrar uma forma de superar a dor que lhe cortava a alma; ela queria parar.
— Não perdoo, Dario. – soluçou. – Que tenham matado o meu filho, que tenham escolhido tirar a vida dele e interromper a nossa família. Não perdoo, não supero, vivo constantemente com uma raiva que não cessa, muito pelo contrário, se torna um ódio cada vez mais forte. E isso me consome. – confessou. – E não quero que o Christopher se torne esse ser humano cheio de ódio que eu me tornei, nem quero descontar na Anahí, ou em qualquer outra pessoa, toda a raiva que não é sobre ela, mas... mas tem sido cada vez mais difícil me manter equilibrada em meio a tanta raiva. – sentiu o gosto amargo da lágrima em sua boca. – As pessoas dizem que devo ser paciente, que vou superar, que a terapia ajuda e eu vou encontrar um sentido, afinal, Deus é justo. Mas a verdade é que não há justiça quando inocentes pagam pela ganância e a maldade de homens que não valem nada. Só me resta raiva, eu sinto que estou perdendo o controle.
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Jogada Paralela
RomanceEle queria o senado. Ela traçou o caminho. Ela buscava justiça. Ele entregou por inteiro. Atraídos como imã, foram cegados pela jogada perfeita. Desencontraram-se. Fizeram-se independentes. O jogo não para. O tempo corre. Arrisque uma Jogada Parale...