Capítulo 43, parte II

484 56 502
                                    

— Boa tarde, Dulce. – o sotaque russo, tão caracteristicamente carregado, a fez olhar com rapidez para a mulher.

Viu Anna parada ao seu lado. Usava uma saia lápis preta, com o detalhe Chanel no cinto. Por dentro, a blusa de seda branca, e por fim, o blazer Gucci de um tom azul tão escuro que poderia facilmente confundir-se com o preto.

O cabelo loiro estava preso em um rebuscado coque, usava um chapéu de mesma cor e óculos escuros, e o colo desfilava os colares de ouro Bulgari.

A bolsa Chanel combinava perfeitamente com o salto alto Louboutin que ela escolhera para finalizar o look.

Dulce a olhou de cima a baixo, era claro que, depois dos encontros com Anna, já sabia que a mulher tinha dinheiro e estilo, mas algo soava diferente daquela vez, era como se ela aparentasse... muito.

Havia muito. Muita marca, muito dinheiro, muita informação. Muito de Anna. Muito.

— Onde é a festa beneficente? – Dulce arqueou as sobrancelhas. – Pra você desfilar com esse dinheiro todo aparente?

— Precisamos conversar, Dulce. – ignorou tal provocação. – Podemos fazer isso?

— Ah, agora você pergunta? – riu. – Cansou de me sequestrar ou de impor as suas vontades?

— Dulce María. – pontuou.

— O sol já caiu. – apontou a rua. – Pode tirar os óculos.

— Não quero ser reconhecida. – resmungou.

— Se busca anonimato, não deveria aparecer andando pela rua com uma roupa que alimentaria uma família por meses. – sorriu com ironia e voltou a encarar a rua.

— Venha comigo. – pediu. – Temos muito o que conversar.

— Hoje? – riu e negou com a cabeça. – Nem pensar.

— Não foi uma pergunta. – tocou o braço dela.

— Mas foi a minha resposta. – abaixou o olhar e mirou a mão esquerda da mulher sobre seu braço. – Me solte. – disse baixo. – Me solte, Anna.

— Disse que não havia sido uma pergunta. – apertou um pouco mais a mão no braço dela.

— E eu disse para me soltar. – encarou os olhos dela através das lentes escuras do óculos. – Me solte agora.

— Preciso que venha comigo. – soltou-a. – É urgente.

— Da última vez não era tão urgente, e eu abri mão de estar com quem realmente me importava. – arqueou as sobrancelhas. – Não caio mais no seu papo.

— Dulce. – tocou o rosto dela. – Isso não é sobre você e também não é sobre mim. É sobre um mundo inteiro. Eu preciso que venha comigo.

— Se quer uma filha, já te disse quem é a única disposta a enxergar algum tipo de bondade em você. – tirou a mão dela de seu rosto. – Você sabe o que quero.

— Dulce. – pigarreou e firmou a voz. – Dulce María.

— Já disse o que quero. – deu de ombros. – Não vou falar mais nada.

— O que você quer? – perguntou, e viu a morena franzir o cenho. – O que realmente quer?

— Não se faça de cínica! Dê às duas crianças o direito à uma família. – o uber parou próximo à elas. – Você sabe que pode.

— Por quê? – perguntou, mas a morena apenas afastou-se. – Dulce María! Por quê?

— Ué, você não diz que tem um coração batendo aí dentro? – deu de ombros. – Coloque-o para jogo.

Jogada ParalelaOnde histórias criam vida. Descubra agora