Capítulo 14, parte III

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― Anna Irina Marchetti Pavaga Puente. – leu o papel em suas mãos. – Anthony Marc Puente Araiza.

Dulce levantou o rosto e pegou a certidão das mãos da ruiva, lendo-a com atenção, reparando em cada dado ali. Era claro em sua mente: Anahí só poderia ser sua irmã.

O resultado com Fernando fora positivo, e ela acreditava que Anna não teria registrado a loira à toa. No bilhete para Fernando, faltava um sobrenome, e agora Dulce podia completá-lo facilmente: Marchetti.

― Isso... – Dante tentava encontrar um sentido. – Poderia haver mais de uma Anna?

― Não. – Anahí disse logo.

― Existe uma segunda Anna. – Dulce contou e a loira a olhou. – A Anna Blanca, estudante da turma do meu pai, que também conhecia a Anna Irina, e que concordou em me registrar nessa loucura toda. – entregou a folha para a loira.

― Anna Blanca Saviñon Ruiz. – Anahí leu alto. – Fernando José Gutierrez Espinosa.

― Meu pai disse que a Blanca sempre foi uma grande amiga e o ajudou com toda essa história, ela me conhece e sabe de... tudo. – contraiu os lábios.

― E onde ela está? – Ailin arregalou os olhos. – Nós podemos falar com ela?

― Ficou doente há alguns anos. Vira e mexe volta para a clínica psiquiátrica. – mirou a ruiva.

― A clínica! – piscou seguidas vezes e a morena assentiu. – Ela é a Anna que você reconheceu!

― Que Anna? – Anahí franziu o cenho. – Quando?

― Quando fomos para a base do exército! – Ailin exaltou-se ao falar. – Lucía entrou no sistema da clínica e nós vimos a foto da sua mãe... digo, da Anna Irina. Mas também vimos a foto da Anna Blanca, e Dulce a reconheceu na hora!

― Meu pai disse que a Blanca conviveu com a gente por um tempo, mas quando o marido soube do tipo de ajuda que ela havia dado a um simples amigo, se irritou e aí as visitas pararam. – deu de ombros. – Eu tenho algumas lembranças da Blanca, mas honestamente, também me lembro da Anna Irina, eu não... eu não sei. Eu não entendo nada.

― Calma. – Anahí a encarou. – Você acha que tem lembranças reais da nossa mãe? Com você?

― Honestamente, não sei. – arfou. – Juro que tenho uma lembrança num parque e eu olho e vejo essa Anna. Só que não é uma lembrança de agora, é algo muito antigo, como se essa lembrança sempre tivesse existido.

― Só que você não a chamava de lembrança. – Dante completou. – Você não sabia que ela era, na realidade, uma lembrança.

― Algo assim. – Dulce assentiu.

― Eu acredito em você, é claro. – Anahí a olhou. – Mas ao mesmo tempo, não acho que o Anthony deixaria a nossa mãe se afastar dele assim. O tipo de vida que eu tive, o tipo de família que eu tive, não... não se parece a nada disso.

― Por quê? – Ailin perguntou por impulso. – Digo, perdão. Eu só... perdão.

― Porque eles brigavam muito. – a loira não pareceu incomodar-se ao responder. – Porque crescer com o Anthony foi como crescer em uma prisão luxuosa. Era tudo bonito e tudo muito caro, tudo tinha uma aparência incrível, mas por dentro não era nada disso. – confessou, e o fez enquanto encarava a morena. – Tanto dinheiro não serviu para nada. No final das contas, nós não fomos uma família, e ele terminou deixando a nossa mãe louca e inválida em uma cadeira.

― Ani... – Dulce mussitou, parecia lutar contra a vontade interior de acolher a loira.

― Me desculpe, Anahí. – Dante disse, atraindo a atenção dela. – Eu, honestamente, sinto muito que a sua infância tenha sido dessa forma. Criança alguma merece uma vida tão vazia assim. – disse, e a loira apenas assentiu. – Entretanto, não compro, e jamais comprarei, a versão de que a Anna Irina está inválida ou presa a lugar algum. Porque eu a vi, eu a ouvi! E estou bem certo de que ela não era um fantasma. – encarou-a. – Eu vivi todas as maldades que ela fez. Ela é tudo, menos inocente.

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