Capítulo 16, parte II

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― Ela ficará danada com isso, se o resultado for realmente positivo. – assentiu e logo voltou a suspirar. – Embora eu gostasse muito da Anna e nós nos déssemos bem, Anthony era um homem muito difícil. Sempre teve muito dinheiro, a família era influente e nós nunca conseguimos nos entender. Acho que ele só não me matou porque a sua mãe não permitiu, porque... – estalou a língua. – Vontade não lhe faltou. Ele nunca fez questão de esconder.

― Ele... – a loira pareceu pensar. – Ele era difícil em casa também. Sempre foi.

― Eles tinham uma relação complicada, eu diria que abusiva, mas Anna sempre o defendeu de todos. – deu de ombros. – Não sei, acho que, no final das contas, ela o queria.

― Hm. – Anahí não teve coragem de responder.

― Anna não queria me contar que havia engravidado, depois não queria me deixar fazer o exame de DNA, e por fim, me entregou a Dulce e desapareceu sem qualquer explicação. Era como se ela jamais tivesse sequer existido. – mirou a mão da loira sobre a sua.

― Dulce nunca a viu? – perguntou e o homem negou. – Ela também nunca viu a Dulce?

― Não, nunca! Anna jamais apareceu. – exalou. – Nem para mim e nem para Blanca, que era uma amiga que tínhamos em comum, e foi quem registrou a Dulce. Anna foi... como um fantasma na minha vida... nas nossas vidas. Por isso me parecia tão absurdo pensar em ter uma segunda filha, porque... como?

― Eu compreendo o susto que isso foi para todos vocês. – disse sem graça, e ele não a soltou.

― Eu disse para a Dulce: como vou corresponder a tudo o que a Anahí espera de um pai? – ele sorriu ao confessar e a loira negou com a cabeça. – Olhe, não sou o melhor pai do mundo, querida. Eu errei muito com a Dulce... muito! – colocou a outra mão sobre a dela. – Mas eu sou o pai que melhor tenta nesse mundo, isso sim! Portanto, menina... – lhe sorriu. – Se eu for o seu pai, saiba que farei o melhor que eu puder para que você se sinta bem, acolhida e amada por mim e por toda família... ainda que a família não seja a mais fácil de lidar. – riu baixo. – Dul não gosta de ir à Guadalajara. – a loira negou de leve. – E ainda que eu não seja, e isso tudo não tenha passado de uma grande confusão, você é bem-vinda à esta casa e a esta família. É tudo pequeno por aqui, mas o amor é grande. – ela abaixou o rosto. – Sim? É algo bom! Estou falando algo bom!

― Sim, claro... só... – os olhos marejaram. – Não escuto nada parecido desde que a minha mãe ficou doente.

― Ora, menina... – soltou a mão dela e abriu os braços. – Anda, me deixe te dar um abraço!

― Eu...

― Venha, venha! – pediu, e ela cedeu, rodeando o pequeno corpo dele com os braços finos e ainda receosos. – Nesta família nós resolvemos tudo com amor e oração. – acariciou levemente os cabelos dela. – Não há nada que um bom abraço e uma conversa com Deus não possa curar.

Anahí fechou os olhos e apertou involuntariamente o corpo do homem, com o desespero e o pedido de ajuda da criança que ficara presa dentro de si, da menina pequena que sofrera e jamais tivera um carinho como aquele; abraçou-o com o amor que nunca aprendera a sentir.

Não pôde controlar as lágrimas que desprenderam-se de seus olhos e o quanto sentiu-se bem ao estar tão vulnerável, gostaria de poder não sair mais do colo de Fernando.

Sentiu os novos braços ao redor de seu corpo e o perfume doce que lhe invadiu as narinas enquanto os lábios delicados beijavam sua bochecha demoradamente.

Anahí abriu os olhos e viu que estava envolvida também no abraço da morena, que só a soltou alguns segundos depois.

― Se você disser a alguém, eu nego até a morte. – Dulce adiantou-se ao ver o sorriso nos lábios da assessora. – Jamais fiz nada disso! Nada! – a loira riu e a puxou para o seu colo, abraçando-a em seguida. – Anahí! Não! Satã! Me largue! Argh! – bufou. – A culpa é toda sua, pai! Antes tivesse me deixado quieta!
― Não contarei a ninguém. – Anahí lhe beijou demoradamente a bochecha. – Mas não sei se sou capaz de esquecer isso. – Dulce a encarou. – Acho que não.

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