Capítulo 30
Dulce acordou após o décimo toque do despertador, e o fez com extremo cansaço e dificuldade. Abriu os olhos pouco a pouco e viu que o relógio marcava sete horas da manhã.
O fuso-horário judiava de seu corpo, mas ela sabia que não podia deixar que o pai ou Remedios percebesse que algo com ela estava diferente.
Levantou-se ainda com os olhos semifechados e caminhou preguiçosamente até o banheiro, entrando no chuveiro sem pensar muito.
Somente sentiu que estava desperta quando terminou o banho, e preferiu arrumar-se antes de sair do quarto.
Passou a base por todo o rosto, atentando-se aos machucados deixados por Yelena, para que nem o pai e nem os amigos notassem tais marcas. Marcou o contorno das bochechas, sem afiná-las em excesso, ainda sentia-se magra demais para tal coisa.
Tirou alguns pelos da sobrancelha, depois passou o lápis para desenhá-la e então escolheu a sombra clara para os olhos.
Desenhou o delineador em uma fina linha, puxando ao final para levantar os olhos. Contornou os lábios com o lápis nude e depois passou o batom mate de tom rosa extremamente claro.
Preencheu todos os sete furos da orelha, colocando apenas uma argola no primeiro furo, e optando pelos pontos de luz nos demais.
Vestiu a calça de couro preta e o cropped de mesma cor, deixando apenas um fino espaço de pele à mostra.
Vestiu a bota também preta e a jaqueta de couro, seguindo a mesma cor. Pensou que Anahí estaria orgulhosa por tão pouca cor. Sorriu sozinha.
Prendeu o cabelo em um alto rabo de cavalo, todo para trás e sem nenhum fio fora do lugar.
Saiu do quarto e logo encontrou o pai lendo o tradicional no sofá da sala.
Aceitou tomar o café da manhã com o homem e Remedios, somente depois é que saiu de casa, dizendo a ele que iria para a editora.
Mentiu. Mas sabia que era necessário fazê-lo.
Colocou os óculos escuros, pediu o Uber e seguiu ao destino final. O caminho fora, como ela bem se lembrava, demorado e cansativo.
Chegou ao prédio quase 40 minutos depois, e apenas abaixou levemente os óculos ao passar pela portaria, dando um leve sorriso ao homem que, por tantos anos, se acostumara com sua presença.
Pegou o elevador, manteve os óculos no rosto até que as portas se abrissem e ela visse o local que a acolhera por tanto tempo.
Caminhou a passos firmes até a recepção, parou ao ver a menina jovem ali, ocupando a mesa que fora dela. Tudo parecia igual. Menos ela.
― Bom dia, senhorita. – a garota sorriu com simpatia. – Posso ajudá-la?
― Sim, por favor. – Dulce aproximou-se da antiga mesa. – Vim conversar com a Alisson.
― Perfeitamente. – assentiu. – A senhorita tem hora marcada?
― Não. – o sorriso surgiu de lado. – Eu não marco hora para falar com ela.
― Desculpe, senhorita. – sorriu sem graça. – Sem hora marcada não é possível falar com a senhora Araiza.
― Eu também já acreditei nisso. – Dulce tirou os óculos escuros. – Mas saiba que ela é esperta o suficiente para abrir exceções. Aposto que ela já chegou, não? – olhou o relógio na parede e assentiu sozinha. – Oh, já chegou, sim. Até já deu tempo de tomar o café com baunilha, não é?
― Uau! – a menina a olhou com visível admiração. – Você é a jornalista que trabalhava aqui, você... é a jornalista do senador!
― Não. – Dulce sorriu. – Eu sou apenas uma jornalista. – piscou. – E espero que você seja uma jornalista inteligente o suficiente para não vender a minha presença aqui.
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Jogada Paralela
RomanceEle queria o senado. Ela traçou o caminho. Ela buscava justiça. Ele entregou por inteiro. Atraídos como imã, foram cegados pela jogada perfeita. Desencontraram-se. Fizeram-se independentes. O jogo não para. O tempo corre. Arrisque uma Jogada Parale...