Capítulo 9, parte II

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14 de julho, sábado

Dulce acordou antes mesmo das oito horas da manhã, e não é que não desejasse dormir algumas horas mais, mas Santiago passara cedo no apartamento da morena. Decidido a tirá-la de casa, convenceu-a a dar uma volta de carro com ele.

Andaram por mais de quarenta minutos pela cidade, sempre de vidros fechados, mas ele contentava-se com o fato de que, pelo menos, ela via rostos diferentes.

A morena até mesmo se animara quando passaram por uma loja de almofadas, e ao ver certo modelo na vitrine, pediu que o amigo descesse e a comprasse para ela.

Deixaram o local em seguida, e quando voltaram ao apartamento, Remedios e Fernando já os esperavam com o café da manhã pronto. Santiago encaixava-se tão bem na família, que às vezes Dulce questionava-se por que não fora capaz de engatar um romance com o espanhol; seus problemas seriam claramente menores.

Logo caía em si e ria dos próprios pensamentos, um romance apenas estragaria uma amizade que jamais tivera qualquer defeito. Um romance a colocaria na mesma situação difícil que mantinha com Christopher e Dante.

Ao final da manhã, a morena recebeu a ligação do alemão, que contou animadamente que finalmente deixaria o hospital; a vida parecia, pouco a pouco, voltar aos eixos.

— Dulce María! – Fernando a chamou da sala.

— Já vou! – gritou em resposta.

— Parem de gritar neste apartamento! – Remedios olhou de soslaio para o homem enquanto limpava o rack da televisão.

— Ela nunca me escuta! – Fernando justificou-se.

— Ela escuta, você que é muito apressado. – arqueou uma sobrancelha e ele negou com a cabeça. – E tem coragem de negar, é?

— Eu digo a verdade! – deu de ombros.

— O que foi? – Dulce entrou na sala. – O almoço está pronto?

— Quase pronto. Estava bom o banho, querida? – Remedios reparou nos cabelos molhados dela.

— Uhum. – sentou-se ao lado do pai.

— Isso chegou para você, minha filha. – lhe deu a caixa de papelão.

— De novo? – franziu o cenho. – Agora todo dia no almoço terá comida de fora?

— Eu não acho que seja comida. – ele sorriu de lado. – Não tem cheiro.

— É pesado. – franziu o cenho e abriu a embalagem.

— Me conte o que é! – Remedios limpava o rack. – Eu quero saber!

— Já vou contar, sua curiosa. – rasgou com pressa a embalagem. – Ah!

— Fale! – a senhora parou de limpar. – O que é?

— Que caixa é essa? – reparou na embalagem azul.

— É uma Alexa. – Dulce riu ao falar. – Uma assistente virtual que... – estalou a língua e calou-se.

— Que...? – o pai a encarou. – O que é que tem?

— Christopher é completamente dependente dela. – mirou a caixa. – Inteiramente. Isso é tão dele.

— Como funciona essa coisinha? – Remedios aproximou-se. – Ela limpa a casa também?

— Reme! – acabou rindo. – Claro que não. Ela só diz alguns lembretes, pode ler algumas receitas, ela fala...

— Receitas! – a senhora sentou-se no sofá. – Quero um livro de receitas!

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