Capítulo 30, parte IV

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Para alguém acostumada a tanto poder e domínio, não era de se esperar que Anna desejasse apenas um momento com a filha com a qual jamais quisera contato antes.

Anna não a queria. Anna queria o poder das fronteiras. E ali, diante dos olhos aflitos do deputado, Dulce entendera que tinha, dentro de si, o poder da troca.

E trocas, naquele contexto, significavam muitas informações. Mencía não fora obra do caso, não estava desaparecida por acaso, e agora a morena estava disposta a saber o real valor da mãe de Marisol.

A moeda de troca desenhou-se em sua mente: uma conversa pela vida de Mencía e Noah.

Anna não poderia negar.

— Já bati a cara na porta diversas vezes. – Alfonso seguiu, sem imaginar a quantidade de pensamentos cruzados que a morena tinha naquele momento. – Quando acho que estou perto de encontrar, o detetive me diz que perdemos sinal dela. Sempre termino voltando à estaca zero.

— Acho que posso te ajudar. – Dulce piscou algumas vezes, voltando a concentrar a atenção nele. – Já estou somando forças para encontrar o Noah, posso ser útil com a Mencía. Não é uma garantia, mas acho que quanto mais possibilidades tivermos, melhor.

— Não quero que se envolva muito. – disse e ela arqueou uma sobrancelha. – Não estou negando ajuda, não é isso. Mas compreendo o risco nesse tipo de busca, e se eu te expor a isso, sei que arranjarei encrenca com o Christopher. E não quero isso.

— Prometo me cuidar. – levantou uma das mãos, em sinal de compromisso.

— Dulce! – tentou soar sério, mas ela apenas sorriu.

— Anda, Uckermann! – sorriu de lado. – Você veio me pedir ajuda, não tente negar. Eu estou disposta, e você?

— Certo. – cedeu e ela ampliou o sorriso. – Mas você apenas me ajudará a reunir novas informações e a pensar mais claramente. Quando eu precisar procurá-la pessoalmente, irei sozinho.

— E que droga de parceira eu serei nessa investigação? – girou os olhos.

— O tipo que se mantém viva, a salvo, e de preferência, do lado meu irmão. Não vou arranjar encrenca com ele. – disse firme e ela gargalhou. – Dul! É sério.

— Está bem, está bem! – voltou a comer. – Assumo que é bem bonito o tipo de consideração que você tem por ele e como faz questão de cuidá-lo.

— Às vezes temos uns arranca-rabos. – confessou. – Mas ele e Marisol são as pessoas mais importantes da minha vida, e faria qualquer coisa por eles.

— Eu sei. Ele faria qualquer coisa por você também. – piscou com um olho só.

— E por você. – complementou rapidamente e a morenas abaixou o olhar, parecia buscar um ponto onde apoiar-se. – Ele dá a vida por você.

— Poncho...

— Nunca tive a oportunidade de dizer isso a você pessoalmente, mas... – passou a língua pelo lábio inferior e fez uma pausa longa. – Eu sinto muito pelo bebê de vocês.

Dulce passou uma das mãos pela nuca, ainda era incômodo, doloroso e difícil falar sobre o bebê e sobre a vida que deveria ter vivido com Christopher. Era difícil lembrar-se que agora poderiam ser três, mas não restara nem dois, e ela era apenas uma.

— Estava atordoado com as mentiras da Anahí, o divórcio com a Jimena, a verdade sobre a Mencía, a revelação da Marisol e o câncer que ela tem. Não estive para o Christopher quando ele mais precisou. – disse pausadamente, parecia sentir o peso de cada palavra proferida.

— Eu também não estive. – a voz da morena saiu entrecortada. – Eu o afastei de mim. De nós.

— Ele sofreu muito essa perda, sei que ele imaginava e desejava uma completa com você, sei que isso ainda ecoa dentro dele. – viu-a remexer-se desconfortavelmente na cadeira. – Ecoa em você também.

— Poncho... – os olhos marejaram.

— Ecos matam, Dulce. – tocou o ombro dela, fazendo-a parar de mover-se. – Ecos geram feridas internas e vozes confusas que nos deixam perdidos e machucados. É assim que se morre, e eu não desejo isso para vocês.

— Está morto por dentro? – a lágrima rolou lentamente pela bochecha, e ele assentiu.

— Estou morto por dentro.

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