A recuperação

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Na segunda-feira, dia 11 de novembro de 2002, Johnson marcou um horário com a psicóloga de Aisha no intuito de explicá-la o que havia ocorrido e buscar orientações do que poderia ser feito para que ela tivesse um melhor tratamento.

Logo ele explica sobre o acidente sofrido pela jovem e a profissional se assusta intensamente:

- E como ela está senhor Johnson?

- Ela está bem. Felizmente o motorista conseguiu frear e Aisha foi atingida quando o carro estava em baixa velocidade. Mas, de qualquer forma estou muito preocupado com a situação dela. Ela tem muito medo do seu ex-marido aparecer aqui na Inglaterra e disse que estava a ser seguida por ele no momento do acidente. Já faz algum tempo que Aisha está a demonstrar que tem visto imagens do seu esposo pelos espaços de casa. Eu vim aqui buscar dicas de como resolver essa situação. Afirma Johnson com um semblante preocupado.

- Como o senhor deve saber a infância de Aisha e o seu casamento foram muito difíceis. Ela passou por muitos momentos de pânico com o seu pai e com o seu esposo. É compreensível que ela tenha essas reações em momentos de maior estresse. Esses momentos de estresse acontecem devido a uma ansiedade extrema, a qual Aisha sente um perigo eminente de ser capturada por alguém de seu passado que pode vir a agredi-la no presente. Especialmente o seu esposo, com quem me parece que ela saiu brigada do seu país de origem. Nesse sentido, eu recomendo ao senhor que ela passe por um acompanhamento psiquiátrico para ajudá-la a evitar essa ansiedade extrema e essas crises de pânico, que podem ser muito arriscadas. Já faz algum tempo que eu gostaria de passar essa recomendação, mas queria saber como ela reagiria depois dos ajustes que foram feitos em seu quarto. Ela me contou que estava mais tranquila com algumas mudanças que foram feitas. Mas, depois dessa reação dela, vejo que ela precisa desse acompanhamento também de um outro profissional médico que atue na área da psiquiatria. Afirma a psicóloga.

- Eu entendo doutora. Eu também já tinha notado essa necessidade. Mas, esperava que ela fosse avançar um pouco depois de ter mudado para o quarto da irmã. Em um primeiro momento os pesadelos dela haviam acabado, ela estava a reagir bem. Entretanto, depois desse susto, acho que esse será mesmo o caminho. Eu tenho um amigo que é psiquiatra, acho que ele poderá ajudar muito nesse sentido.

A doutora observa a fala de Johnson e curiosa questiona:

- Esse seu amigo é homem ou é mulher senhor Johnson?

- É um médico que atendeu algumas pessoas da minha família doutora.

- Posso te dar uma sugestão?

- Claro que sim. Afirma Johnson.

- Os maiores problemas que Aisha passou em sua vida foi com relação a atuação violenta de homens próximos. Aisha tem uma dificuldade grande em confiar nas pessoas, uma parte disso, devido a cultura dela e outra devido a própria personalidade dela que é bastante introvertida. Dificilmente ela vai conseguir confiar em curto prazo em homens que não sejam o senhor e o doutor Wilian. Os traumas do passado que ela teve, a maioria, estão ligados as próprias ações de violência que os homens causaram contra ela. O senhor deve entender que é muito difícil para ela, por tudo que passou, confiar em um homem desconhecido. O senhor deve saber a história que ela teve com um líder religioso de sua terra, em quem ela confiou que poderia lhe ajudar e na verdade ele a levou a um desespero tão grande que ela quase perdeu a vida. Afirma aquela psicóloga preocupada.

- Sim senhora. Eu me recordo disso. Acho que a senhora tem mesmo razão. Aisha não conseguiria se abrir facilmente com um homem. Pois, da última vez que fez isso, o seu marido queria acabar com a sua vida e quase conseguiu isso. Afirma Johnson em tom reflexivo.

- Então, sabendo desse contexto, eu recomendo fortemente que o senhor pense em procurar uma médica com essa especialidade e não um médico. Acho que isso poderia ajudar muito Aisha a se abrir de forma mais rápida, acelerando os resultados dessas consultas.

Johnson pensa um pouco após a fala da doutora e afirma:

- Acho que a senhora tem razão. A senhora tem alguma recomendação de psiquiatra que poderia realizar esse atendimento em Aisha?

- Eu tenho uma pessoa que é de minha confiança. É uma parceira de minha clínica de muitos anos. Acho que pode ajudar o senhor e Aisha. Ela passará mais confiança a jovem. O senhor viu como foi difícil ela se abrir pra mim nos primeiros meses de tratamento. Acho que se eu fosse do sexo masculino seria ainda mais complicado. Afirma a psicóloga.

- Eu entendo e concordo, foi uma ótima dica. Diz Johnson ao pegar aquele catão com os dados da profissional indicada pela psicóloga. Em seguida ele se despede dela e vai para casa.

Naquele dia Aisha, mesmo estando muito bem, ainda não havia recebido alta e estava em observação. Ela já estava mais tranquila depois de todo aquele ocorrido e brincava algumas vezes com a sua irmã e sua mãe, enquanto elas realizavam as visitas.

Na quarta-feira daquela semana, ela finalmente foi liberada e retornou para casa com algumas escoriações. Ela andava também com dificuldade, devido aos impactos que recebeu no tornozelo. Mas, se sentia bem e estava feliz por ter retornado para casa.

Aos poucos ela foi se recuperando e foi retornando as suas atividades normais. Após duas semanas ela voltou a ser atendida pela psicóloga. Na mesma semana Johnson marcou uma consulta com a psiquiatra para Aisha. Ela foi acompanhada de Evelyn que explicou a situação para aquela médica, enquanto Aisha ficava acanhada ao seu lado. Foi então receitado um remédio ansiolítico para que a jovem pudesse diminuir um pouco a ansiedade.

Com o tratamento psiquiátrico e tomando alguns remédios para diminuir a ansiedade, Aisha começa a sentir melhoras no seu quadro. Os pensamentos ameaçadores com Osnin começam a ficar cada vez mais raros e ela se sente mais confiante de que estava segura na Inglaterra.

Depois de muito estudar para conseguir realizar a prova do supletivo referente a quinta séria ainda naquele ano, ela fica com a cabeça um pouco mais ocupada e a pensar cada vez menos nos seus problemas do passado. As consultas a aqueles dois ótimos profissionais também estavam ajudando Aisha no seu processo de autoconhecimento.

Ela estava evoluindo muito emocionalmente e em meados do mês seguinte a aquele atropelamento, ela já conseguia sair novamente para passear com a irmã, inclusive, indo ao mesmo shopping, demonstrando tranquilidade, após ver as imagens conseguidas por Johnson e compreender que aquelas visões de Osnin a persegui-la, na verdade, eram fruto de sua imaginação e do estresse que estava a passar naquele período.

Casamento forçado e abusivo IIOnde histórias criam vida. Descubra agora