O começo do ano de 2015

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Antes de retornar para casa, Aisha, em meio a uma conversa descontraída com a irmã, resolveu lhe contar as suas intenções para aquele ano e que uma delas era visitar o seu pai que estava doente em um hospital do Afeganistão. Loren muito preocupada respondeu:

- Aisha, pelo que vejo nas notícias o seu país ainda tem muitas terras em disputa com os Talibãs. Muitos atentados terroristas ocorrem diariamente na capital, tem certeza que é viável retornar nesse momento?

- Eu preciso disso Loren. Todos os meus amigos, sempre me recomendaram resolver os meus problemas do passado para que eu pudesse construir o meu futuro. Desde que chequei aqui na Inglaterra que todos me falam isso. Acho que chegou esse momento. Afinal de contas, já faz quase 15 anos que estou aqui. Agora já sou adulta e já sei me cuidar.

- Me preocupo muito com você Aisha. Essas suas ideias de retornar ao seu país não me trazem boas sensações. Você disse que o seu pai não está reconhecendo ninguém lá?

- Sim. Caivan foi visitá-lo e ele está em um hospital muito doente. Segundo Caivan, depois que foi recrutado para a guerra, ele retornou muito ferido, sem nenhuma lembrança do passado.

- Se ele não reconhece ninguém, o que vai fazer lá?

- Eu preciso ver como ele está Loren. Com todos os problemas que passei na minha relação com ele, o meu pai sempre cuidou de mim e teve muito cuidado durante a minha infância. Não posso abandoná-lo dessa forma, nesse momento em que ele mais precisa. Ele cuidou de mim sozinha desde bebê, pois minha mãe morreu no parto.

- Eu entendo, mas, não concordo com a sua ida.

- Vai ficar tudo bem minha irmã. Eu prometo que tomarei todo o cuidado do mundo!

- Espero mesmo que fique tudo bem minha irmã! Eu te amo!

- Eu também te amo muito Loren. Afirma Aisha antes de abraçá-la e mudar de assunto.

No decorrer da noite de despedida de Aisha esse assunto retornou na mesa do jantar, quando o seu pai disse:

- Aisha, minha filha, eu gostaria que você pensasse muito bem antes de tomar uma decisão quanto a retornar ao Afeganistão. Eu tenho contatos constantes com os meus amigos militares que estão lá e a situação do país está mais instável do que nunca, com atentados ocorrendo diariamente, inclusive, na Capital. Os Talibãs ainda continuam fortes e disputando territórios. Eu não gostaria de te ver em meio a tamanho risco.

- Eu entendo as suas preocupações meu pai, mas tenho muita vontade de retornar a minha terra natal. Caso eu vá mesmo para o meu país, farei isso com todos os cuidados possíveis, não precisa se preocupar. Eu vou cuidar de tudo!

- Além disso, outra coisa me preocupa, você sofreu ameaças de Sarwar aqui na Inglaterra. No Afeganistão ele tem muito poder. Lá você pode se tornar uma presa fácil para ele.

- Eu não tenho mais nada com Saleh meu pai e há muito tempo não me encontro com ele. Todas as ameaças que eu recebia cessaram. Acho que não represento mais nada para aquele senhor.

- Eu não teria tanta certeza assim Aisha. Peço que pense muito bem antes de tomar essa decisão minha filha. Aqui você ainda tem alguma proteção. Lá você está completamente vulnerável.

- Prometo pensar meu pai. Se não tiver segura, eu não vou, mas, se sentir que ficarei bem, eu irei visitar o meu pai biológico. Além de sentir muita falta dele, penso que ele pode estar precisando muito de mim.

Nesse momento Evelyn intervém:

- Aisha, essa sua intenção me preocupa muito. Não é bom que você vá para um país com as características do seu, sozinha.

- Eu vou ficar bem minha mãe. Pelas informações que tenho recebido, mesmo com todos os problemas que meu povo ainda vive, o meu país mudou muito. Em muitas partes deles, as mulheres tem mais direitos do que quando vivia lá. Mas, ainda vou pensar direitinho sobre essa vontade. Não se preocupem. Só tomarei essa decisão se me sentir mesmo segura.

- Pense muito bem minha filha. As possibilidades de ameaças são muitas, tem o seu ex-marido, que pode ter deixado pessoas avisadas sobre a sua situação com ele. Tem essa questão das ameaças que sofreu de Sarwar, que foram muito diretas. Se aqui já era arriscado, lá ainda é pior. Ele tem totais condições de fazer algo contra você se quiser. E ainda tem a possibilidade de atentados e sequestros que estão ocorrendo de forma muito frequente no seu país Aisha. Acho que ir pra lá no momento é uma temeridade muito grande.

- Eu vou levar tudo isso em consideração antes de decidir minha mãe. Pode ter certeza. Eu só irei se me sentir realmente segura. Muito obrigada por se preocuparem comigo. Diz Aisha.

Após essa fala, aquela conversa mudou de rumo novamente e tudo ficou daquela forma, com a família inteira preocupada com essas ideias de Aisha de retornar para o seu país de origem, mesmo diante de tantas ameaças.

Na manhã do dia seguinte Aisha retornou para Oxford pensando nas falas de seu pai e de sua mãe sobre os riscos que poderia correr se retornasse ao seu país de origem, entretanto, assim que entrou nas redes sociais de Caivan que viu as suas fotos, aquelas preocupações todas saíram de sua mente, o seu coração bateu mais forte e logo aquelas dúvidas se era prudente retornar para a sua terra natal, se tornaram uma certeza ainda maior do que era aquilo que ela queria. Na mente de Aisha arriscar valia a pena para reencontrar novamente o seu primeiro amor.

Casamento forçado e abusivo IIOnde histórias criam vida. Descubra agora