A situação se complica

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A medida que a noite se aproximava e não encontrávamos nada ao nosso redor, o desespero aumentava. O frio se tornava cada vez mais intenso. No Afeganistão, nessa época do ano, durante a madrugada, as temperaturas chegam a ficar abaixo de zero, algo insuportável quando não se tem um lugar coberto para dormir. Aquela região possui vilarejos distantes uns dos outros, o que pode fazer com que pessoas que encontram-se a caminhar como estávamos, não encontre um lugar para poder pedir ajuda com facilidade.

Quando deu por volta das 20 horas, estava insuportável andar, com os fortes ventos que batiam em nosso corpo. As crianças paravam de andar, sentando no chão e Marian também parava. Em uma dessas paradas deles, resolvemos olhar ao redor, no escuro, se encontrávamos um bom lugar para dormir. Todas nós estávamos com muito medo e Parisa, começou a andar para lugares mais próximos tentando desbravar algum lugar que fosse mais suportável passar aquela noite.

Ficamos todos encolhidos embaixo dos cobertores que carregávamos, tentando ficar o mais juntos possível para pegar o calor uns dos outros. As crianças se misturavam em meio aos nossos corpos, para tentar não sentir tanto frio, mas a cada minuto que passava o ambiente ficava cada vez mais inóspito.

Depois de mais ou menos meia hora, Parisa chegou, muito cansada, afirmando que havia encontrado um bom lugar para que pudéssemos passar aquela noite. Ela encontrou uma pedra que poderia servir de abrigo, pelo menos para nos livrar do vento frio que diminuía ainda mais a sensação térmica.

Começamos então a caminhar para esse local indicado por ela. Ao chegar lá, a temperatura estava mesmo mais suportável, mas, o frio ainda persistia terrivelmente e as crianças estavam a sofrer muito. Como não tínhamos como fazer fogo, ficamos naquele local, deitados uns misturados aos outros em meio a aquelas cobertas e roupas espessas que carregávamos. Mas, apenas as crianças mais jovens conseguiram dormir, por estarem muito cansadas. Os demais ficaram a bater queixo por boa parte da noite. O frio nos impedia de dormir, mesmo muito debilitadas. Ficamos em uma expectativa enorme de que o dia amanhecesse logo, com medo de não suportarmos aquela noite.

O sofrimento de todos era nítido, mesmo em meio aquela noite escura na caverna, pelo barulho em que os nossos queixos faziam a bater devido ao frio que tomava conta de nossos corpos. Ao tocar nos nossos filhos acordados, sentíamos o corpo deles a tremer de forma incontrolável e aquilo partia os nossos corações. Em meio a madrugada Marian começou a gemer intensamente, dizendo não estar aguentando as dores que estava a sentir nos ossos. Depois de algumas horas o seu choro ficou tão forte, que as crianças que conseguiram dormir, acordaram e entraram em sofrimento junto aos demais, devido ao frio.

Amanhecemos todos em claro, com Marian chorando muito de dor. As crianças estavam fracas e nós mulheres também. Sem se alimentar direito, caminhando a dias em meio a aquele frio terrível e sem dormir, estávamos no nosso limite físico, mas tínhamos que ter forças para caminhar mais e achar o acampamento que poderia nos dar abrigo.

Continuamos a andar, agora, iluminados por um sol fraco, mas que fazia aquela caminhada se tornasse suportável. A temperatura estava baixa, mas não dolorosa quanto durante a noite. As crianças não conseguiam mais andar por muito tempo devido a fraqueza e, por esse motivo, tínhamos que parar por várias vezes para que eles tivessem forças para continuar. Marian demonstrava cada vez mais fraqueza e caiu por duas vezes enquanto atravessávamos um campo aberto.

As horas iam passando e em meio a aquele sofrimento, não conseguíamos andar mais do que alguns quilômetros. Era impressionante, quanto mais andávamos, mais tínhamos a sensação de que estávamos em meio ao meio do nada. Naquele dia não tínhamos mais alimento e as crianças ficaram por todo o tempo a reclamar da fome e da sede.

Casamento forçado e abusivo IIOnde histórias criam vida. Descubra agora