Uma lembrança preocupante

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Por volta das 14 horas daquela quinta-feira, Aisha estava para entrar dentro do carro, acompanhada de seu guarda-costas, no intuito de ir para a casa de Sônya. Quando ela entrou no veículo, antes que o seu segurança desse a partida, ela olhou pelos vidros e viu um homem a encará-la. Logo ela buscou em sua memória saber quem era aquele homem, mas em um primeiro momento não conseguiu se recordar.

Depois de andar por algumas ruas, ela forçando muito a memória, conseguiu lembrar que já havia visto aquele homem. Foi na festa de formatura de Saleh. Quando ela rememorou aquelas feições o seu coração bateu mais forte. Aquele era o irmão mais velho dele, chamado Andric, o membro daquela família que mais demonstrou revolta quanto a um possível relacionamento dela com Saleh.  

Imediatamente, ela muito assustada, falou para o seu guarda-costas:

- Senhor, eu acabei de ver um homem na rua a me encarar que teve desavenças familiares comigo enquanto morava na Inglaterra.

- Como assim Aisha? Se você morava lá, como esse homem pôde ter desavenças com você?

- Eu comecei um relacionamento com o irmão dele e a família dele não aceitava senhor. Eu tenho medo de que ele possa estar a me seguir aqui no Afeganistão. Acho que é muita coincidência ele me ver na rua e me olhar daquela forma.

- Estou aqui para te proteger Aisha. Foi para isso que você me contratou. O carro é blindado e eu estou armado para qualquer eventualidade. Estarei mais atento daqui pra frente. Tomarei cuidados especiais e acompanharei melhor no retrovisor para saber se estamos sendo seguidos por alguém. No momento pode ficar tranquila que ninguém nos segue. Essa família chegou a te ameaçar anteriormente.

- Sim. Eu não cheguei a te contar, mas fui sequestrada na Inglaterra, como uma ameaça para que não tivesse contato com esse meu amigo. E isso foi feito pela família dele.

Nesse momento aquele guarda-costas se assusta mais intensamente. Quando diz:

- A senhora tinha que ter me contado isso em um primeiro momento. É muito perigoso andar pelas ruas como a senhora estava andando tendo um desafeto declarado na cidade senhora. Eu estava a te proteger, mas certamente te protegeria com muito mais atenção e evitando determinadas coisas se soubesse desses perigos.

- Depois que eles me ameaçaram eu terminei essa amizade senhor e achei que eles não se importavam mais comigo. Por isso tive coragem de vir ao Afeganistão e não contei nada ao senhor. Eles não me ameaçaram mais depois disso. Achei que estava tudo bem, mas depois de ver aquele homem com um olhar ameaçador para mim, talvez eu estivesse enganada e agora estou com medo.

- Todo o cuidado é pouco daqui pra frente senhora. Mas, eu farei o possível para que tenha o mínimo de risco. Ficarei ainda mais atento daqui pra frente. Essa família deve ser muito importante, a senhora conhece eles?

- O pai de Saleh é um senhor que tem o nome de Sarwar. Me disseram que ele é um importante membro do governo senhor e muito rico aqui no país.

- O senhor Sarwar é um dos homens mais influentes politicamente da nossa sociedade Aisha. Se você teve algum tipo de atrito com ele, está sim a correr riscos e deve tomar muito cuidado. Você sabe que na nossa cultura as pessoas não costumam esquecer os seus desafetos, mesmo que os anos passem.

- Eu sei sim. Me desculpe por não ter te contado antes essa história. Mas, até então, eu julgava que ela era irrelevante por tudo o que aconteceu depois.

- Tudo bem Aisha. Eu estou aqui para te proteger independente de qualquer coisa. Daqui pra frente é bom ficarmos mais atentos. Afirma aquele senhor.

Eles chegam então próximos a casa de Sônya e aquele guarda-costas já começa a tomar maiores cuidados antes que Aisha pudesse sair do carro. Ao andar pelos becos, ele caminhava de forma mais atenta e a observar todos os lados, já preparado para reagir em caso de algum ataque. 

Apenas aquelas ações mais precavidas do seu guarda-costas, já traziam uma ansiedade maior para Aisha. Ela não via a hora de chegar na casa de sua família, para de alguma forma, se sentir mais protegida.

Depois de caminhar por alguns minutos, finalmente, ela chega na casa de Sônya que a recebe com um abraço apertado, sorrindo, demonstrando muita felicidade em revê-la. Então Aisha questiona:

- Como você está Sônya?

- Eu estou bem melhor Aisha. Aqueles remédios são uma maravilha. Fazia muito tempo que não dormia tão bem. Eu estou novinha de novo!

- Que bom que os remédios estão a fazer os efeitos desejados Sônya. Eu fico muito feliz que está com um semblante bem melhor.

As duas começam a conversar sobre assuntos diversos de suas vidas, com Aisha contando mais algumas das suas experiências na Inglaterra, no decorrer de boa parta daquela tarde, aguardando que os outros membros da família chegassem para que ela pudesse apresentar a surpresa.

A primeira pessoa a chegar foi Sahar. A recepção foi muito calorosa e Sahar ficou ao lado de Aisha por um longo tempo, demonstrando o carinho que tinha por ela e dizendo não acreditar que elas ficariam distantes de novo. 

Mesmo após muitos anos sem se ver, depois daquele reencontro, as duas sentiam uma proximidade muito grande. Aquela jovem se viu muito em Aisha. Moderna como era, ela encontrou em alguém que viveu na cultura ocidental um apoio maior para as suas ideias libertárias e gostou muito de conversar com Aisha sobre as suas experiências.

As percepções de Aisha quanto a enteada eram as mesmas. Ela ficou muito feliz em ter alguém de sua família com os pensamentos tão modernos, a fazer faculdade e lutar pelos direitos das mulheres naquele país. Para ela aquela era uma demonstração mais intensa de que a sua sociedade estava evoluindo rumo a uma igualdade de oportunidade de gêneros e isso a trazia uma felicidade enorme.

Logo em seguida, já a escurecer, chegou Mohamed Amiri o filho de Sônya. Ele se sentou junto a sua família e ficou a conversar com Aisha, dizendo que sentiria muitas saudades dela quando partisse e que ficou muito feliz com a sua visita. Aisha entendia que estava sendo amada por aquela família e isso era muito bom para ela, que teve muitas experiências de desprezo em sua infância. 

O seu coração ficava ainda mais feliz, quando ela recebia demonstrações de carinho. Aquela viagem, de alguma forma, estava restaurando uma parte dela que estava muito machucada por tudo que ela havia passado durante a adolescência.

Por fim, depois que escureceu, chegou então Alexsander. Aquele era um dia de muita expectativa para aquele rapaz, pois, ele era o único que sabia dos planos de Aisha e estava com uma enorme vontade de saber qual seria a reação da família quando ela apresentasse a todos a surpresa.

Depois que ele se acomodou na sala, Aisha disse:

- Bem, agora que toda a família está reunida, eu tenho que contar uma novidade para vocês.

Todos olham para ela de forma surpresa, quando ela continua a dizer:

- Eu pretendo voltar aqui no Afeganistão de forma mais frequente nos próximos anos. Eu vi que aqui está mais tranquilo do que eles falam no Ocidente e que posso fazer uma visita a vocês, pelo menos, uma ou duas vezes ao ano com maior tranquilidade. Portanto, eu decidi comparar uma casa aqui no nosso país para poder ficar nela sempre que vier visitar vocês.

Aqueles membros da família sorriem felizes. Saber que poderiam ficar mais próximos de Aisha alegrou a todos. Quando ela continuou a dizer:

- E agora eu quero levar vocês para conhecerem a minha casa. Vocês gostariam de ir lá?

Imediatamente, todos respondem que sim e Aisha os convida para saírem em direção ao carro, para chegar na sua nova residência.

Os membros daquela família se preparam um pouco para sair e dentro de pouco mais de quinze minutos eles estavam prontos para conhecerem aquele local recém adquirido por Aisha, ainda sem saber que na verdade aquela casa seria para a família.

Assim que chegaram na rua principal do bairro, onde o carro do segurança estava estacionado, Aisha sinalizou para um táxi que levaria parte da família, já que todos não caberiam em apenas um carro.

Animados, todos eles partiram em direção ao local indicado por Aisha, supostamente a sua nova residência naquele país. O coração de Aisha estava aquecido naquele momento, tamanha era a sua felicidade em poder fazer bem a aquelas pessoas que ela tanto amava.

Casamento forçado e abusivo IIOnde histórias criam vida. Descubra agora