As semanas seguintes

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Com medo de que os recursos da família acabassem, Osnin foi em busca de trabalho e conseguiu um emprego no mercado. Nas primeiras semanas, após a minha recuperação, ficamos em casa a cuidar da limpeza e da organização. Era uma casa simples, mas muito aconchegante e os nossos filhos estavam felizes. No final daquele ano, não recebemos notícias de novos conflitos e a nossa vida estava tranquila.

Entretanto, ao chegar o mês de janeiro de 2002, a guerra se intensificou e acuado, com as fronteiras já sofrendo alguns ataques, o exército Talibã convocou todos os homens daquela cidade para a luta e Osnin foi um deles. Desesperado, ele mandou que partíssemos junto aos refugiados, rumo ao Irã e no dia 15 de janeiro partimos, com um grupo enorme de pessoas rumo a aquele país vizinho, com uma certa quantia em ouro, que ele nos disponibilizou.

- No momento daquela partida, toda a nossa família ficou muito desesperada. Os meninos abraçavam o pai com um medo enorme de que não voltassem a vê-lo e infelizmente foi isso que ocorreu, nunca mais vimos Osnin. Mesmo depois de tudo o que aconteceu e da violência de Osnin contra mim, não era isso que eu desejava para o meu marido. Eu sempre quis o melhor para ele e para a nossa família. Além disso, por pior que fosse estar casada com Osnin, você sabe como é ser viúva nessas terras não é Aisha? Questionou Sonya com um semblante triste.

- Eu sei sim Sônya e posso imaginar o que vocês passaram. Afirma Aisha, após engolir seco, quando ela complementa a sua fala: - Mesmo com todo o medo que tinha de Osnin atentar contra a minha vida, eu também, jamais desejei mal a ele.

- Se com ele era difícil Aisha, depois que nos separamos tudo piorou muito. Ainda durante a viagem as dificuldades foram enormes.

Caminhamos naquele primeiro dia até uma cidade que ficava mais a leste, há mais ou menos uns 30 quilômetros da cidade em que moramos. Andar, com o pouco que carregávamos de alimento, roupas e com as crianças era muito difícil. O peso era enorme, o frio naquela época do ano era muito intenso e maltratava muito as crianças. Com o tempo de caminhada, mesmo muito cobertos, parecia que iríamos desmaiar a qualquer momento devido as baixas temperaturas.

Durante o trajeto, Marian parou por várias vezes, dizendo não suportar mais caminhar daquela forma, quando finalmente, nós chegamos naquela cidade e conseguimos pagar um bom dinheiro para nos hospedar em uma pousada. Foi um alívio para toda a família, quando avistamos as luzes daquela cidade, quase a escurecer. Ficar ao relento em meio ao frio do inverno, com fortes ventos, estava a deixar aquela viagem insuportável, passar a noite em outro lugar que não fosse uma casa, seria algo muito desumano e tínhamos receio de que parte da nossa família não suportasse.

Ficamos naquele local por dois dias para nos recuperar um pouco. Ao final desse segundo dia, recebemos a notícia de que a cidade que estávamos a morar com Osnin foi dominada. Ao receber essa informação, o nosso pavor cresceu ainda mais. O que havia acontecido com Osnin era algo que ninguém conseguia nos informar. Era impossível saber se ele foi preso ou morto e isso nos desesperava muito, especialmente, Marian, que estava muito desanimada com tudo o que estava a acontecer em nossas vidas.

Na noite do dia 18 de janeiro, barulhos de bombas puderam ser ouvidos, vindos de comunidades próximas e o desespero tomou conta daquela população, que saiu as pressas para fugir dos conflitos, caminhando pelas estradas, assim que amanheceu.

Com os recursos em ouro que tínhamos, conseguimos pagar um caminhoneiro para nos levar na carroceria até a cidade de Herat, um dos últimos fortes redutos do regime. Saímos logo cedo e o frio naquela viagem estava insuportável. As crianças estavam desesperadas em um sofrimento terrível e nós também, tanto pela situação, quanto pelo fato de vê-los daquela forma.

Casamento forçado e abusivo IIOnde histórias criam vida. Descubra agora