Os primeiros meses do ano de 2014 passaram rapidamente. Aisha, com muito trabalho, não pensava muito em sua vida pessoal. Distante de Saleh, ela estava mais tranquila e não se sentia mais ameaçada por aquele grupo de criminosos que havia a sequestrado. Os seus contatos com Loren eram muito frequentes e ela se abria para irmã com relação a sua nova fase de trabalho intenso.
Saleh, no começo daquele ano, havia sido aprovado em um Programa de Residência Médica e estava focado nos seus estudos, não sentindo mais tanta falta de Aisha naquele momento de sua vida. Muito ligado as suas tradições religiosas, ele ia sempre ao templo religioso da capital nos fins de semana, encontrando algumas jovens durante aquelas cerimônias que poderiam lhe trazer algum interesse futuro, quando finalizasse aquela etapa de seus estudos. Saleh já estava a ficar velho para o matrimônio, de acordo com os padrões de sua cultura e pensava que em breve teria que arrumar uma esposa.
Loren também estava a estudar para poder se especializar. No segundo semestre daquele ano ela também tentaria a Residência Médica em uma das áreas que mais gostava de atuar. Muito feliz no seu casamento, ainda não pensava em ter filhos, mesmo havendo uma ansiedade enorme, por parte dos seus pais, cobrando um neto. O seu planejamento era terminar primeiro a sua especialização pra depois tentar engravidar.
Na noite do dia 15 de março de 2014, Aisha estava se sentir sozinha e com muita saudade de seu pai biológico. Tendo muitas lembranças de seu passado, ela resolveu entrar na página de Facebook de Rashid, pois, de alguma forma, aquela página parecia ligar os seus pensamentos ao Afeganistão.
Após aquele primeiro contato, quando perguntou sobre o paradeiro de seu ex-marido, muito preocupada com a questão das ameaças sofridas pelo pai de Saleh e também com o acumulo de tarefas no trabalho, ela não havia trocado mais mensagens com Rashid. Por um tempo, os seus problemas do presente ocuparam tanto os seus pensamentos, que ela até se esqueceu do seu passado. Entretanto, agora, sem ameaças, ela voltou a pensar nas suas origens.
Uma das questões que mais trazia preocupação a Aisha era com o seu pai biológico, que chegou a ser ameaçado por aquele grupo de criminosos, quando ela foi sequestrada. Ela queria saber como estava o seu estado de saúde e se ele estava passando por alguma dificuldade financeira. Mesmo com todos os problemas que teve com o pai enquanto morou no Afeganistão, após anos tratamento psicológico, Aisha entendeu que aquilo fazia parte do seu contexto cultural e começou a compreender melhor o seu pai e perdoá-lo, pelos atos de violência que ele realizou contra ela em alguns momentos de sua vida.
Nos momentos de solidão, depois de resignificar o seu passado, sempre vinha em sua mente os momentos bons que teve com o seu pai, como por exemplo, quando ele a levava para as festas religiosas e segurava em suas mãos, a mantendo segura. Ela também se lembrava de quando ele a buscava na escola e elogiava o seu desempenho, dizendo que ela era muito inteligente. Nos seus aniversários, quando ele comprava roupas novas e vinha feliz lhe entregar. Aqueles momentos eram de felicidade extrema para a pequena Aisha, e aqueles gestos de carinho nunca apagaram de sua mente.
Naquela rede social ela começou a ver os amigos de Rashid com curiosidade, buscando alguém familiar que pudesse lhe dar novas informações sobre o seu passado. Então, ela conseguiu ver o perfil de uma das professoras daquela cidade em que morou enquanto esteve casada. Muito curiosa, ela entrou no perfil dessa senhora e começou a ver os perfis que ela tinha como amigos. Depois de olhar atentamente por um momento, ela se deparou com uma das professoras que havia lhe dado aula na sua cidade de origem. Encontrar aquela mulher foi uma surpresa muito grande.
Pelo contexto em que viveu naquele país, enquanto ele era dominado pelo regime Talibã, Aisha não imaginava que a sua professora da época pudesse ter um perfil nas redes sociais, pois, até aquele tempo as mulheres não tinham liberdade nenhuma e era imaginável que elas pudessem ter acesso a uma rede social.
Ainda muito surpresa, por curiosidade, logo ela explorou os amigos daquela professora e encontrou novas pessoas de sua comunidade. Aisha ficou feliz que as coisas pareciam estar mudando na sua cultura, reconheceu algumas meninas com quem conviveu durante a infância naquela pequena cidade e continuou a explorar as amizades de pessoas conhecidas.
Sem muitas coisas para fazer naquele dia, ela focou ainda mais a sua atenção naqueles perfis conhecidos, quando logo em seguida veio a surpresa. Ao entrar em um das páginas de outra professora daquela escola, ela encontrou um homem, muito bem aparentado, com o nome Caivan. O seu coração quase saiu pela boca! Tudo que vinha na mente dela era a possibilidade daquele ser o primeiro amor da sua vida. Mas, como ela iria confirmar aquela informação? Questionava em seus pensamentos.
Ela abriu a foto daquele perfil e observou atentamente os detalhes, para ver se encontrava vestígios do primeiro amor de sua vida naquele homem. Ele estava com uma roupa característica de seu país, tinha um semblante muito parecido com o Caivan adolescente, o que ascendeu ainda mais o alerta de que aquele poderia ser o primeiro amor de sua vida. O que deixava Aisha com uma expectativa maior, era que aquele não era um nome comum para pessoas do seu país, o que aumentava mais a chance daquele ser o Caivan que ela deu o primeiro beijo de sua vida. Só de pensar nessa possibilidade o seu coração batia mais forte.
Depois de explorar as fotos liberadas de seu álbum, ela não conseguiu chegar a conclusão de que aquele era o adolescente que conheceu na escola. Então ela foi na página das informações pessoais de Caivan e percebeu que ele havia estudado na mesma escola que ela, o que aumentava os indícios de que aquele era o homem que conhecera.
Diante dessas novas evidências, todas as lembranças que tinha daquele menino, começaram a vir em sua mente. Aquele beijo que eles deram no último dia em que se viram, logo apareceu em sua memória. Aisha suspirou profundamente e lágrimas começaram a percorrer as suas bochechas. Caivan parecia estar vivo e havia se tornado um lindo homem!
Então, ela criou coragem e adicionou aquele homem como seu amigo, para saber novas informações sobre ele e se aquele era o seu primeiro amor. A expectativa dela era enorme por aquela confirmação. Uma das coisas que sempre vinham em sua mente, quando se lembrava dos momentos felizes do seu passado, era as imagens dela com aquele menino que tanto amou. Se fosse ele mesmo, aquela história de alguma forma poderia ser reatada.
Aisha queria saber tudo sobre a vida de Caivan, caso, ele fosse quem ela imaginava. Por muitas vezes, enquanto conversava com as suas psicólogas, ela comentava sobre esse amor proibido e foi, por muitas vezes, aconselhada a buscar informações do seu passado, para poder lidar com aqueles traumas e seguir a sua vida em frente.
De acordo com as suas psicólogas, ela precisava entender melhor os desdobramentos do seu passado, para poder construir o seu presente e um futuro. Caso Caivan aparecesse em sua vida, aquele poderia ser o primeiro passo para que ela resolvesse as suas questões do passado, no sentido de construir esse futuro que ela sempre sonhou. Aisha estava muito feliz com essa possibilidade!
Sabendo que já era mais tarde no Afeganistão, ela percebeu que dificilmente aquele homem acessaria a rede social naquele dia. Então, mais alegre com essa possibilidade, ela conseguiu deitar e dormir naquela noite, sonhando inúmeras vezes com Caivan, inclusive, com um encontro com ele, a partir daquela imagem atual que encontrou no Facebook. Aqueles sonhos foram muito bons!
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Casamento forçado e abusivo II
General FictionApós passar por muitos percalços em sua história, Aisha consegue finalmente se livrar do seu casamento e tenta construir uma nova vida. Entretanto, os fantasmas do passado a assombram constantemente e ela tem dificuldades de superar os seus diversos...