O segundo dia no Vilarejo em que nasceu

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 A terça-feira amanhece e Aisha acorda com os raios de sol a entrar pela fresta da janela de seu quarto. Quando olha para o relógio, nota que era tarde para a realização da sua primeira oração do dia. Ela estava muito cansada da viagem e acabou se atrasando para acordar, o que de alguma forma atrapalharia o seu planejamento para aquele dia.

Aisha queria visitar novamente a sua escola e ver se reencontraria pessoas conhecidas de sua época. A visita no hospital era apenas atarde, então ela teria a manhã inteira livre para poder relembrar daquele Vilarejo em que nasceu.

Assim que tomou o café da manhã, ela chamou o segurança e conversou com ele sobre a sua vontade de andar a pé pelas ruas daquele Vilarejo. Um pouco receoso, ele disse que isso poderia a trazer um risco maior, pois ela não estaria sobre a proteção da blindagem.

Depois de refletir um pouco, Aisha entendeu que não estava a correr tanto risco assim em seu país e resolveu caminhar um pouco por sua cidade. O guarda-costas ficava fortemente armado o tempo todo ao seu lado, mas isso não chamava tanta a atenção daquela população, pois, naquele território ainda em disputa, não era incomum ver pessoas fortemente armadas.

Aisha passou pelo centro daquela cidade e muitas memórias vieram daquele local. Havia um ponto na praça em que, por duas ou três vezes, quando o seu pai tinha algum dinheiro sobrando e ela havia tirado boas notas na escola, ele a levou para que ela pudesse chupar uma espécie de picolé da região. Aquela sensação para ela, quando criança, era a melhor do mundo! Ao relembrar desses momentos que passou com o pai, Aisha novamente sente lágrimas a percorrer o seu rosto.

Depois de caminhar por mais alguns minutos, ela chegou então na escola e logo o homem que estava na porta pediu para que o segurança não entrasse naquele espaço armado. Foi quando Aisha pediu que ele ficasse a espera dela na parte de fora, que ela iria entrar na escola para ver se reencontrava com alguma de suas professoras.

Ao chegar na secretaria, Aisha contou um pouco de sua história e disse que estudou naquela escola no final da década de noventa. Logo depois de se apresentar, ela questionou se alguma das professoras que lhe deu aula ainda lecionavam naquela escola. A mulher que estava a atender disse que todas as professoras mais novas se mudaram depois da guerra, buscando melhores oportunidades nas maiores cidades. Que as professoras que ali habitavam, eram mais novas, de famílias da região e que não se mudaram.

Depois de receber essa informação, Aisha começou a caminhar em direção a portaria daquela escola. A sua sensação naquele momento, por um lado era de tristeza por não poder encontrar com as professoras que tiveram um papel tão importante em sua vida, por outro era de felicidade, pois aquele Vilarejo era muito longe de tudo e em outros lugares elas poderiam ter uma vida melhor e mais próspera.

Assim que chegou na porta, para sair daquele espaço, ela escutou a secretária chamando e então parou para ver se queria lhe dizer alguma coisa. Aquela senhora então se aproximou e disse:

- Eu esqueci de te questionar uma coisa. Eu me lembrei das professoras de sua época, mais novas, mas esqueci de te perguntar se a professora Khadija te deu aula. Ela foi a sua professora?

- Sim. Ela já era uma senhora naquela época. Ela lecionou para a minha turma no terceiro ano.

- A professora Khadija não foi embora, ela mora em uma das casas do vilarejo. Já que você deseja tanto ver alguma de suas professoras acho que ela vai gostar de te ver também e saber que evoluiu tanto na Inglaterra.

- Eu agradeço muito, poderia me passar o endereço dela certinho.

- Claro. É bem pertinho daqui. Você vira a segunda rua a esquerda e a primeira a direita que vai encontrar uma casa verde. É a casa mais bonita da rua. Não tem como errar.

Casamento forçado e abusivo IIOnde histórias criam vida. Descubra agora