A chegada ao destino

209 17 5
                                    

Algumas horas após o amanhecer, nós chegamos a uma cidade, ainda reduto do Talibã, onde eles preparavam a resistência contra os rebeldes. Muitos solados estavam naquela cidade a aguardar orientações do comando militar daquele regime. Eles pareciam ter uma convicção muito grande de que poderiam vencer o exército inimigo.

Osnin, percebendo que aquela região, na medida do possível, estava ainda com uma aparência de certa normalidade, resolveu parar naquela cidade e alugar uma casa para que pudéssemos ficar por algum tempo.

Depois de muito negociar, ele parou com o carro em uma casa no centro da cidade, e ao entrar naquela residência, me lembro que Osnin ficou a me olhar de uma forma muito ameaçadora. Ele parecia muito chateado por eu ter o afrontado antes da partida. Coloquei as crianças para dormir e fui arrumar o restante da casa, juto a Parisa, pois, Marian estava muito debilitada naquele dia.

Em meio a aquela arrumação, Parisa, talvez, envenenada pela sogra, começou a me infortunar e nós começamos uma discussão. Logo Marian se aproximou e ficou ao lado dela, me criticando pelas minhas falas em resposta aos ataques de Parisa. Eu já muito chateada com tudo o que aconteceu, a respondi. Osnin logo apareceu e furioso mandou que eu me calasse, quando eu respondi que ele sempre protegia Parisa, mesmo que ela estivesse errada. Não sei o que deu em mim naquela manhã, eu estava com uma coragem muito acima da média. Talvez o estresse por toda aquela situação me trouxe uma coragem incomum.

- Sônya, você se arriscou muito ao afrontar Osnin dessa forma. O que aconteceu depois? Questionou Aisha perplexa e ao mesmo tempo assustada.

- Como te disse, foi a última vez que tive coragem de afrontá-lo em minha vida Aisha. Depois disso eu entendi o porque você estava tão desesperada para se livrar da violência dele, a ponto de atentar contra a sua própria vida. Para não passar pelo que passei naquele dia, talvez, eu teria feito o mesmo se tivesse tido oportunidade e não tivesse os meus filhos. Afirma Sônya com um semblante triste, enquanto Aisha olha para ela de forma perplexa.

Osnin me pegou pelos cabelos e me puxou para um dos espaços daquela casa que ainda estava desocupado. Logo ele começou a socar o meu rosto insistentemente, até que eu ficasse quase desfalecida, deitada no chão. Quando ele saiu daquele espaço, eu ainda estava desnorteada, minha consciência só retornou alguns minutos depois. Eu achei que tudo havia acabado, mas estava enganada. Ele retornou alguns minutos depois e trancou aquela porta, me deixando presa e com um chicote começou a me surrar de uma forma cruel. Foi a primeira vez que achei que fosse morrer em minha vida. Osnin não parava os golpes. Eu gritava, tentava movimentar pra dissipar um pouco aquela dor, mas era tudo inútil. Me lembro que resisti pelo tempo que foi possível, até que não aguentei mais me mover. Nessa hora achei que ele fosse parar, mas, ele encontrava-se tão irado com as minhas afrontas, que quando parei, ele pareceu aproveitar a oportunidade e utilizar toda a força que tinha para deferir golpes ainda mais insuportáveis contra o meu corpo. Fiquei por algum tempo em meio a aquela agonia, até que senti a minha consciência a sumir. Depois de muito tempo sofrendo impactos absurdos contra o meu corpo eu desfaleci e não vi mais nada.

Ao escutar aquele relato, Aisha ficou horrorizada. O seu corpo tremeu imensamente e ela começou a ter imagens em sua mente dos momentos de violência que sofreu de Osnin. Pelo terror que sentia, ela conseguiu observar através nos olhares de Sônya o desespero que ela havia sentido durante aqueles acontecimentos e que ela demonstrava, ainda atualmente, ao rememorar o fato.

Quando Sônya finalizou aquele terrível relato, demonstrando um terror extremo em seu semblante, Aisha fez aquilo que sempre desejou que alguém fizesse toda vez que ela era punida pelo violento marido. Se aproximou de Sônya e a abraçou fortemente, dizendo:

- Já passou! Tudo isso já passou Sônya e não vai acontecer mais nada com você! Pode ficar tranquila. Disse ela enquanto lágrimas desciam mais uma vez dos seus olhos. Sônya abraçada a ela também chorava muito. Quando disse:

- Parisa me contou depois que me viu gritando por aproximadamente 25 minutos, mas, que depois que parei, ela escutou ainda o barulho dos chicotes a chocar contra o meu corpo por, pelo menos, mais cinco minutos, enquanto eu provavelmente estava desacordada. Osnin tinha uma fúria tão grande que não parou de me agredir nem quando viu que eu não tinha suportado a sua violência. Quando ela me disse isso, eu tive certeza que naquele dia, ele queria me matar!

Aisha, assustada, disse, depois de engolir seco:

- Eu sei o que você sentiu Sônya. Eu também senti a fúria de Osnin por muitas vezes e em alguns casos, ele parecia que não teria mesmo qualquer limite. Por mais que tenha passado por situações difíceis, não entendo muito bem porque, mas, parece que ele descontou a ira em você, de uma forma muito mais intensa do que das vezes que ele me atacou. Afirmou Aisha ao demonstrar tristeza em seu semblante.

- Eu penso que sim. Eu nunca havia visto tanta violência em minha vida. Quando acordei, eu não conseguia me levantar. O meu corpo estava todo cortado e tenho marcas dessa surra de Osnin espalhada por todo o meu corpo até hoje. Ele estava incontrolável de ódio. Talvez o que ele não conseguiu fazer com você, ele tentou fazer em mim. Ele me agrediu da pior forma possível. Eu tenho certeza que ele queria me matar! Afirmou Sonya enquanto o seu corpo ainda tremia só de rememorar aqueles momentos de terror.

- Eu sinto muito por isso ter acontecido. Eu sinto muito mesmo. Afirma Aisha.

- Eu também sinto muito por tudo o que aconteceu com você Aisha. Que bom que estamos aqui, podendo contar essas histórias, que são tristes, mas, por outro lado, demonstram que tivemos força para superar tudo isso! Afirmou Sônya com um semblante mais aberto. Quando continua a relatar as suas lembranças.

Assim que acordei, na noite daquele dia, Parisa, muito preocupada e sentindo peso na consciência, estava no meu quarto. Ela havia passado remédio em minhas feridas e pediu perdão pela briga, dizendo se sentir culpada por Onsin ter sido tão violento comigo. Eu estava sentindo tantas dores, que disse apenas que não queria conversar sobre aquele assunto, pois estava muito machucada.

Quem não demonstrava nenhum remoço pelo que aconteceu foi Marian. Ela continuou a agir da mesma forma que antes e no dia seguinte veio me repreender por eu ter falado daquela forma com o meu esposo. Eu acho que nunca havia tido ódio por alguém, mas, naquele dia senti esse sentimento ruim com relação a aquela senhora. Eu fiquei por quase uma semana sem conseguir me levantar devido as consequências e as dores daquela surra, mas nada disso comoveu nem Osnin, nem Marian. Apenas Parisa ajudou a cuidar de mim, levando no quarto as minhas refeições e passando remédios nas partes machucadas do meu corpo, especialmente, nos primeiros dias.

- Depois disso eu tive a certeza que jamais poderia contrariar ou desafiar o meu esposo novamente. E não fiz isso até o dia que partimos novamente. Afirma Sônya.

- Fez o certo Sônya. Desde muito cedo eu entendi que Osnin não tinha limites para a violência e não era alguém que poderia se desafiar. Eu só tomei coragem de conversar com o líder religioso naquele dia, porque pensei que isso não fosse algo tão terrível para aquela sociedade e que ele interviria em meu favor. Mas, quando Marian me disse o quanto aquilo poderia ser terrível na avaliação de Osnin, eu me desesperei e atentei contra a minha própria vida. Afirma Aisha com um semblante triste.

- Acho que fiquei traumatizada Aisha. Só de ver Osnin se aproximar, a minha respiração acelerava e meu coração batia mais forte. Eu estava muito desesperada. Felizmente, todo aquele sofrimento durou pouco e logo partimos novamente.

Casamento forçado e abusivo IIOnde histórias criam vida. Descubra agora