O dia 13 de julho de 2015 amanhece e Aisha sabendo que o seu voo era bem cedo, assim que acordou, finalizou a arrumação de suas malas e foi para a sala, antes mesmo de tomar café, para esperar Rashid a levar até o aeroporto. Naquele dia, ela preferiu fazer esse lanche no local de embarque.
As esposas mais velhas de Rashid, gostaram tanto da presença de Aisha naquela casa, que fizeram questão de acordar bem cedo para poderem se despedir dela. Muito atenciosa, ela agradeceu a todos pela ótima recepção, prometendo retornar, mas cobrando também uma visita de todos a Inglaterra. Com um sorriso no rosto, aquelas senhoras, afirmaram que assim que possível, retribuiriam a visita.
Durante o trajeto, Aisha questionou novamente Rashid quanto a segurança no seu país, tema que ela já havia comentado no dia anterior. Aquele senhor disse novamente que, infelizmente, tem ocorrido muitos atentados a bomba e trocas de tiros nas estradas. Mas, que em sua última ida na cidade em que Aisha morou depois de casar, ele não teve nenhum incidente. Então, ela ficou mais tranquila.
Chegando na porta do aeroporto, aquele senhor a levou até o local de embarque e se despediu dela lhe dando um abraço apertado. Mais uma vez aquela jovem o agradeceu por todo o carinho em sua recepção e também pela sua ajuda no passado. Muito cordial Rashid disse que sempre teve uma admiração enorme por ela e que essa admiração, nesse encontro, apenas aumentou, se despedindo carinhosamente.
Horas depois, ela finalmente pegou o Avião que a levaria ao aeroporto de Mazar-i-Sharif. Durante aquele trajeto, rezou muito para que a sua viagem fosse tranquila. Mesmo com muita confiança de que queria fazer aquela visita, ela tinha muito receio por conhecer o seu passado e saber que as terras do seu país ainda estavam em disputa.
No início da tarde o avião pousou no Afeganistão e a tensão que Aisha demonstrava em momentos anteriores, se tornou ainda maior. Para descer as escadas e pisar no solo de sua terra natal, ela estava a tremer as suas pernas. Aisha não estava conseguindo entender o porque daquela reação.
Apenas depois de ver o segurança no saguão e ele se apresentar, contando a sua experiência como ex-militar do exército afegão é que Aisha teve um pouco mais de confiança, de que, em certa medida, estava segura.
Ao entrar no carro e andar por aquelas ruas, ela sentiu novamente o clima daquele país e veio uma sensação boa em seu coração. Mesmo com todas as adversidades de sua cultura, a pobreza que poderia ser vista pelos vidros do carro, estar ali a trazia uma sensação diferente. Aisha sentiu um aconchego por estar no lugar em que viveu uma parte importante de sua vida. Nem ela conseguia explicar muito bem o que estava a sentir. Era um reencontro com o seu passado e aquilo, de alguma forma, tinha um sabor especial.
O segurança estava a dirigir o carro com armas grandes ao seu lado. Era um homem de aproximadamente 35 anos de idade e tinha um semblante sério, trocando poucas palavras com Aisha durante os primeiros momentos que estavam juntos.
Por algumas vezes, enquanto percorria as estradas, ele olhava o endereço que foi lhe entregue em um papel e continuava a percorrer os caminhos esburacadas no intuito de chegar a uma estrada de terra que levava ao vilarejo em que Aisha nasceu e seu pai estava internado.
Após uma hora de viagem, Aisha disse a ele que estava com fome o questionando se existia naquela estrada algum lugar que ela pudesse almoçar. Ele afirmou que existia um local em uma pequena cidade há alguns minutos e continuou a dirigir sem dar detalhes.
Ao chegar no restaurante, ele estava vazio. Já era tarde para o almoço. Eles pararam e o segurança desceu com a sua metralhadora do carro, algo que assustou Aisha em um primeiro momento, pois, ela não estava acostumada a andar com um guarda-costas fortemente armado daquela forma em seu país.
No restaurante ela pediu uma comida típica de seu país para ambos. Após almoçarem, eles continuaram a percorrer aquelas estradas, até que chegaram no entroncamento da estrada de terra que levava ao local em que Aisha nasceu.
Ao percorrer alguns quilômetros, Aisha percebeu que estava a se aproximar da terra em que viveu e muitas lembranças de sua infância começaram a aparecer em sua memória. Por um momento, ela tece a impressão de que quanto mais se aproximava de seu pai, mais as memórias dos momentos bons que passou com ele vinham em sua mente.
Ela passou ao lado de um vilarejo que moravam alguns de seus parentes e questionou a aquele segurança se ele tinha notícias de onde estava a sua família. Aisha se lembrava de algumas vezes ter os visitado durante a infância e adolescência.
Como resposta, aquele senhor afirmou que os moradores daquela pequena via haviam mudado há alguns anos, devido a escassez de alimento causada pela guerra, informação que a deixou extremamente triste, por saber que os seus parentes não viviam mais em suas terras porque não tiveram condições de se manter ali.
Pouco mais de meia hora após passar naquele pequeno conjunto de casas abandonadas, ela finalmente entrou nas primeiras ruas do Vilarejo em que nasceu. Aquele local teve uma pequena evolução durante todos aqueles anos. Haviam muitas casas novas e bonitas.
Aisha passou no centro daquele local e viu algumas casas ainda de sua época, ficando muito emocionada ao retornar ao Vilarejo em que nasceu. Então, aquele senhor contratado, a levou ao hospital que supostamente o seu pai estava. Quando ele parou o carro e olhou para o lado, percebeu que ela chorava muito.
Muito emocionada, naquele instante, um filme passou na cabeça dela, com muitas cenas de quando era criança e andava por aquelas ruas acompanhada por seu pai, ou quando ia para a escola feliz da vida, por saber que encontraria com o grande amor da sua vida, Caivan.
Depois de algum tempo ao ver que Aisha estava muito emocionada e não parava de chorar, aquele senhor disse:
- Chegamos senhora. É aqui o endereço que a senhora me deu.
- Muito obrigada. Agradeceu Aisha, antes de abrir a porta daquele carro e caminhar em direção a aquele pequeno espaço, muito parecido com um lar para idosos.
A sua expectativa era enorme por ver o seu pai novamente. O seu coração estava a bater mais forte. Os seus olhos estavam ainda a lacrimejar. Aisha não sabia qual seria a sua reação e nem a reação de seu pai naquele reencontro depois de ficar quase 15 anos sem vê-lo. Eu esperei tanto por isso! Pensou ela, ao dar os primeiros passos na entrada daquele hospital, caminhando para próximo da recepcionista, para buscar informações sobre o seu pai biológico.
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Casamento forçado e abusivo II
General FictionApós passar por muitos percalços em sua história, Aisha consegue finalmente se livrar do seu casamento e tenta construir uma nova vida. Entretanto, os fantasmas do passado a assombram constantemente e ela tem dificuldades de superar os seus diversos...