A mudança de Osnin

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 Ainda chorando, muito triste por saber que o marido passou por todo aquele martírio antes de morrer, Aisha questiona a aquele senhor:

- Eu quero saber o que ele dizia sobre mim nesse momento senhor? Porque o senhor diz que ele teve uma relação de amor e ódio comigo, sendo que nas últimas ações que vi dele só continha ódio? Quando foi que ele mudou o seu modo de ver? Osnin me perdoou antes de morrer?

Aisha soltou aquelas questões em meio a um momento de desespero, tentando mudar, pelo menos, momentaneamente os caminhos daquele relato, para que ela e sua família pudesse respirar um pouco antes que novas falas demonstrando o sofrimento de Osnin fossem relatadas.

Então, aquele senhor para um pouco, pensa no que dirá e relata:

- Osnin mudou o seu pensamento e as suas versões depois de um tempo que estava comigo naquela cela, Aisha. Acho que você pode imaginar o porque? Vou ser sincero para você... A primeira coisa que Osnin me disse ao ser torturado naquela cadeia pela primeira vez, foi que você era a culpada de toda a ruína dele. Ele afirmou ainda que se arrependia por não ter te matado, com as próprias mãos, no último dia em que te viu. Afirma aquele senhor demonstrando um semblante severo.

Nesse momento o choro de Aisha aumenta ainda mais. Ela parecia não conseguir ouvir mais nada. Para ela, que era extremamente frágil e sentimental, aquele senhor dizia as coisas de forma muito dura e direta. Aquela história estava a trazer um sofrimento ainda maior do que ela poderia imaginar antes que aqueles relatos começassem.

Logo, Sônya, que estava ao seu lado, a abraçou mais uma vez, enquanto ela continuava a chorar de forma muito intensa. Depois de alguns segundos, Sônya a questionou baixinho em seu ouvido:

- Tem certeza que quer continuar a escutar tudo isso Aisha? Acho que essas falas estão te afetando demais!

- Eu preciso Sônya. Eu tenho que ser forte. A minha analista sempre disse que eu precisava enfrentar os meus traumas do passado e, por mais doloroso que isso seja, acho que preciso enfrentar.

Então ela começa a limpar as suas lágrimas, e quando todos pensaram que ela estava a desistir, Aisha pediu para que o senhor Mukhammad prosseguisse, dizendo:

- Eu sabia que Osnin me odiava. Uma pessoa que não odeia a outra não tem coragem de deixá-la desacordada para morrer sem água e sem comida! Por favor, senhor, continue. Eu quero saber até onde vai o ódio de Osnin contra mim.

- Ele te culpava pela ruína dele Aisha. Ele dizia naquela cela que outras pessoas tiveram a oportunidade de fugirem com suas famílias para lugares seguros, porque tinham recursos e influência para isso e você tirou tudo isso dele. Diz o senhor Mukhammad, complementando a sua fala, logo após Aisha pedir que ele continuasse.

- Quer dizer então que, provavelmente, as minhas ações levaram a ruína de toda a minha família? Questiona Aisha, demonstrando-se confusa, depois daquela fala daquele senhor. Quando ela continua a questionar: - Tudo que você passou também é culpa minha Sônya? Então eu não tenho outra coisa a fazer a não ser pedir perdão a todos vocês. Diz Aisha, com a voz extremamente embargada, quando o seu corpo começa a tremer ainda mais intensamente e lágrimas caem dos seus olhos de forma ainda mais descontrolada.

- Aisha, não é assim! Isso tudo que está sendo relatado é na visão do meu pai. Diz Alexsander tentando tranquilizá-la.

- Vocês também pensam isso? Sônya, por favor, seja sincera comigo. Você pensa como Osnin? Questiona Aisha olhando dentro dos olhos de Sônya, aguardando a sua resposta.

- Claro que não Aisha. Eu acho que cada pessoa tem o seu destino nessa terra. Independente do que acontecesse, todo esse sofrimento que passamos já estava no nosso destino. Você não tinha como mudar isso. Nem você e nem ninguém. Não se martirize mais pelo que aconteceu. Você não tem culpa de nada. Diz Sônya ainda abraçada a ela, tentando tranquilizá-la.

Depois dessa fala, um silêncio toma conta daquele espaço, quando o senhor Mukhammad diz:

- Mas, com o tempo passando ele foi mudando a forma de falar de você Aisha e o ódio dele foi diminuindo. No dia em que ele estava tentando acabar com a própria vida e me pedia ajuda para isso, ele se lembrou de você e do ato que o fez perder a vaga no Conselho Religioso. Pelas palavras dele, ele pareceu entender o porque você tomou aquela atitude desesperada. Afinal de contas, ele estava a ter o mesmo desejo que você para sair também de uma situação extrema.

Aquela fala faz Aisha demonstrar um pouco mais de força e começar a limpar as lágrimas dos seus olhos. Então aquele senhor continua a relatar.

Nos últimos dias de vida de Osnin, ele já estava tão debilitado, que não estava conseguindo mais andar por aquela pequena cela. Nesse dia ele me disse: - Eu julguei Aisha por ter ido buscar ajuda de alguém que intercedesse para que ela não fosse tão castigada por mim. Confesso que se a encontrasse em casa naquele dia, eu teria a matado em meio a minha fúria. Hoje, tudo que gostaria era de ter alguém, para, pelo menos, pedir para interceder por mim, com o intuito de que aqueles homens não sejam tão cruéis comigo daqui pra frente. Uma pena que não tenho a quem suplicar isso. Todas as vezes que fiz isso em meio a aqueles interrogatórios, aqueles homens riam de mim. Hoje entendo o que Aisha passou naquele dia.

Após ouvir esse relato, Aisha respirou fundo. Tudo aquilo que o senhor Mukhammad estava a dizer fazia muito sentido. Tudo que ela havia feito para se livrar da violência extrema do seu ex-marido, era exatamente o que ele faria se tivesse condições para isso. Claramente, na mente de Aisha, ela entendia, que não estava tão errada assim, quando tomou aquelas ações. Muitas pessoas em desespero extremo, teriam agido da mesma forma, inclusive, o seu marido.

- Por fim, quanto a você Aisha, eu posso dizer que Osnin te perdoou por tudo o que aconteceu. Ele deixou isso bem claro para mim no seu último dia de vida, quando afirmou categoricamente que se arrependeu muito pela atitude que tomou ao te deixar morrer. Ele disse que entendia exatamente o que você havia passado e que você não estava errada em tomar as ações que tomou. Osnin disse que você era muito jovem, era ainda uma criança e que estava muito arrependido em ter te maltratado daquela forma, reconhecendo que o seu melhor amigo estava certo em lhe aconselhar que ele não fosse tão severo com você. Ele reconheceu também que estava cego de ódio e por isso lhe fez tanto mal. Que se tivesse a oportunidade de te encontrar de novo, te pediria perdão e se você o perdoasse, ele faria tudo diferente. Afirma aquele senhor demonstrando verdade em seu olhar.

Ao ouvir aquelas palavras, Aisha ficou em silêncio. Aquelas falas finais tiraram um peso de sua mente. Tiraram parte importante da culpa que ela levava. Trouxeram uma leveza muito grande para o seu coração.

Então, depois de muito refletir, ela diz:

- Ele não precisaria me pedir perdão senhor. Não devemos guardar rancor das pessoas. Por mais que Osnin me fez mal nessa vida, eu também já o perdoei. Eu não tenho mais nenhuma mágoa do meu ex-marido. Afirma Aisha demonstrando força em sua fala.

- Eu fico muito feliz que você pense dessa forma Aisha. Eu também não pensava assim. Mas, agora que vejo que a minha vida está próxima do fim, tenho tido uma visão mais complacente do mundo. Que bom que você adquiriu essa sabedoria muito antes de chegar a minha idade! Se todos pensassem como você, certamente, teríamos um mundo muito melhor! Afirma o senhor Mukhammad.

Casamento forçado e abusivo IIOnde histórias criam vida. Descubra agora