Casamento forçado e abusivo II

A amizade se intensifica

No decorrer das semanas, Aisha sempre se encontrava com Saleh após as suas orações no templo e ela sentia que aquele jovem estava se apaixonando cada vez mais por ela. Entretanto, muito devota aos seus princípios religiosos, ela sabia que estava impedida de retribuir qualquer gesto de carinho daquele rapaz e tentava sempre demonstrar para ele que não estava aberta a um relacionamento naquele momento de sua vida.

Aisha justificava que teve uma oportunidade única de ir para a Inglaterra e que queria aproveitar essa chance que a vida lhe deu para ser uma mulher independente. Portanto, em sua mente, ela queria estudar, se formar e conseguir um bom emprego, antes de assumir um compromisso sério.

Essa fala deixava Saleh um pouco triste, mas, ele entendia e em certa medida admirava as intenções de Aisha. Ele era um jovem mais moderno e gostava também desse jeito mais libertário de Aisha, algo que não era comum para as mulheres do seu país.

Mesmo depois de muitas semanas a conversar com aquele novo amigo, Aisha evitava falar do seu passado no Afeganistão. Ela decidiu que não falaria sobre isso para Saleh até ter certeza de que ele não tinha nada haver com o seu passado, ou qualquer relação com Osnin, algo que ainda a assombrava muito, mesmo depois de conhecer e gostar daquele rapaz. Quando Saleh via que Aisha não queria falar sobre isso, ele sempre recuava, demonstrando muito respeito por ela e suas ações.

Na primeira semana do mês de dezembro, Saleh conversava com Aisha na saída daquele templo, quando disse:

- Você já viu como a internet aqui é rápida. Eu estou impressionado.

- Sim. Eu nunca tinha acessado a internet do Afeganistão. No antigo regime isso era completamente proibido para as mulheres. Mas, vejo que a internet daqui é realmente muito rápida.

- Eu estudei pela internet lá. Infelizmente caia muito e isso me atrapalhava um pouco. Agora estudo nos computadores aqui da Universidade e é impressionante a velocidade. Dá pra fazer coisas incríveis em pouquíssimo tempo.

- É sim. Tem um mundo inteiro a ser explorado na internet. Eu estou maravilhada com os conhecimentos que tenho adquirido por lá. É uma grande maravilha!

- Por falar em internet. Você tem MSN? Questiona Saleh.

- Sim, tenho, mas o uso muito esporadicamente. Normalmente, uso apenas para conversar sobre trabalhos escolares com as minhas colegas da escola.

- Mesmo assim eu gostaria de ter o seu MSN. Poderemos conversar por ele também no decorrer dos dias dos meios de semana. Diz Saleh a sorrir demonstrando felicidade.

- Tudo bem. Eu te passo. Afirma Aisha, quando Saleh pega uma caneta e um papel para que ela possa anotar o endereço de e-mail.

Saleh estava muito esperançoso de que poderia conversar com Aisha por mais vezes por semana naquele programa de mensagens instantâneas, o mais famoso daquela época. A conversa rendeu por mais alguns minutos, quando ele pediu que ela entrasse no MSN durante as noites, para que eles pudessem conversar um pouco e Aisha afirmou que faria o possível para entrar quando as coisas estivessem mais tranquilas na sua casa.

Após aquela conversa eles se despediram e nos dias da semana, praticamente em todos eles, foram trocadas mensagens entre os dois. Saleh estava ainda mais feliz que agora não precisaria mais esperar o fim de semana para conversar com Aisha. Aquela espera maltratava muito o seu coração. Agora eles conversavam toda a noite. Ele tinha uma companhia que conhecia a sua origem e Aisha também tinha alguém que ela estava construindo a confiança necessária para poder se abrir mais. A conversa por aquele programa era sempre muito agradável.

Depois de semanas a conversar presencialmente e alguns dias a trocar mensagem on-line, mais confiante, Saleh, enquanto conversava com Aisha pelo MSN, a chamou para sair e almoçar com ele após a cerimônia religiosa matinal naquele templo, no final de semana.