As semanas seguintes

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O domingo foi de muita conversa entre os membros da família de Aisha. Loren demonstrava felicidade o tempo inteiro, na expectativa para os eventos de formatura e de casamento com o seu amado noivo. Aisha estava muito alegre por ver a felicidade da irmã e por saber que contribuiu para que ela chegasse a aquele momento, quando deu uma forcinha para que os dois se conhecessem melhor.

No final da tarde, Johnson chamou Aisha para uma conversa:

- Aisha, eu estou um pouco preocupado com essa ação tomada por Saleh.

- Como assim pai?

- Eu conheço bem aquelas famílias do Afeganistão minha filha e eles não costumam deixar barato uma ação como essa que ele tomou. Ele quebrou um acordo entre duas famílias importantes.

- Mas, ele está aqui na Inglaterra meu pai. Acha que eles teriam coragem de tentar se vingar dele aqui? Questiona Aisha assustada.

- Eu não me surpreenderia se eles tentassem alguma coisa nesse sentido Aisha. Você sabe o quanto a honra na sua cultura é importante e Saleh quando tomou essa decisão, ele abalou totalmente a reputação da família dele, que é uma das mais tradicionais do seu país e da noiva dele, que é de outra família também muito tradicional. É importante que o seu amigo tome muito cuidado daqui pra frente. E digo mais, é importante que você também tome cuidado. Afirma Johnson com um semblante preocupado.

- Porque diz isso meu pai?

- Loren me contou o que aconteceu na formatura de Saleh.

- Porque ela fez isso? Afirma Aisha triste, quando complementa a sua fala: - Isso era pra ser um segredo. Diz ela demonstrando tristeza e revolta pela irmã ter dito aquilo aos seus pais.

- Aisha, você é nossa filha, precisamos saber o que acontece com você para que possamos te aconselhar melhor.

- Eu sei pai. Mas, é que...

- Posso te dar um conselho. Interrompe Johnson.

- Sim pai.

- Provavelmente, pelo contexto que Loren me contou, eles arrumaram uma esposa para Saleh porque queriam o ver longe de você. Se antes dele quebrar esse acordo eles já não apreciavam a sua amizade com ele, agora que ele fez isso, eles devem estar muito chateados com ele, mas com você também. Eu temo pela sua segurança.

- Pai, isso não faz sentido. Como eles conseguiriam me atacar aqui?

- O dinheiro consegue tudo minha filha. Seja lá onde for, especialmente nos próximos dias, por favor, fique atenta aos detalhes. Se ver que tem alguma coisa diferente, proteja-se e me conte imediatamente. Qualquer coisa você terá que retornar para cá, pois, aqui eu consigo te proteger melhor. Afirma Johnson demonstrando um semblante de preocupação.

- Pai, isso não vai acontecer. É claro que eles não tem condições de nos atacar aqui. Temos lei aqui na Inglaterra. É totalmente diferente de lá. Eu temia por Osnin porque ele era meu esposo e tinha prometido vingança. A família de Saleh, influente como é tem uma reputação ainda a zelar, não é como Osnin que já estava acabado. Eles não cometeriam um crime assim para serem investigados pela justiça.

- É exatamente essa reputação a zelar que me preocupa. Fique atenta! Recomenda Johnson.

- Tudo bem pai. Eu vou ficar atenta. De qualquer forma, muito obrigada pela preocupação.

- Eu te amo minha filha! Quero te ver bem! Afirma Johnson a abraçá-la.

Na segunda-feira, pela manhã, Aisha retornou para a cidade de Oxford. Naquele dia ela trabalhou normalmente, mas, preocupada, em alguns momentos, ela se lembrava das dicas do pai.

No dia seguinte, ela teve uma sessão de terapia e contou todo o seu contexto para a psicóloga, que a aconselhou a não forçar muito os seus atos e só entrar em contato com Rashid quando se sentisse preparada para isso. Ela também aconselhou que Aisha não ficasse muito ansiosa com a possibilidade de que a família de Saleh estivesse chateado com ela, pois, sabia que foi exatamente esse medo que Osnin a causava, devido as ameaças que recebeu, que tinham a levado a aquelas crises de ansiedade assim que ela chegou na Inglaterra.

Aisha saiu mais segura daquela conversa. A sua psicóloga a conhecia muito bem e sempre a deixava mais tranquila em meio aos seus problemas. Ela foi para casa e durante aquela noite decidiu que precisava pensar mais um pouco antes de confirmar aquela informação com Rashid e que só faria isso quando se sentisse mais segura de que o seu psicológico estava mesmo preparado para qualquer resposta que lhe fosse dada.

A quarta-feira amanhece e ela vai para o trabalho. Aquele dia a sua agenda estava cheia, ela tinha muitas reuniões com os seus superiores e de certa forma aquilo a agradava, pois, com muito trabalho ela não precisava pensar no contexto de sua vida e nem no seu passado.

Ao terminar o expediente, ela estava a andar pelas ruas em direção a um ponto de ônibus. No momento em que ela foi atravessar uma larga avenida, notou um carro distante a andar mais rápido, quando ela acelerou os seus passos. A cada segundo que passava aquele carro acelerava mais e saiu da faixa da direita indo para a faixa do meio. Aisha então acelerou ainda mais os seus passos começando a correr para terminar aquela travessia, quando ela notou que aquele carro aumentou ainda mais a velocidade e veio para a faixa da esquerda, onde ela estava.

Ao ver que aquele carro iria atingi-la em cheio, ela correu ainda mais rapidamente, fechou os seus olhos de tanto medo que ficou daquele impacto que poderia ocorrer e pulou em direção a calçada, caindo e rolando no chão, assustando a todas as pessoas que passavam por aquela rua, que foram em sua direção para ajudá-la a se levantar e perguntar se ela havia se machucado.

Aquele carro atravessou aquele cruzamento em uma velocidade impressionante. As pessoas ficaram perplexas ao ver aquela cena e Aisha também. Ao cair ela teve uma pequena luxação no ombro, que estava doendo bastante, mas ela conseguiu se levantar e continuar a caminhar rumo ao ponto de ônibus.

A sua cabeça durante aquele trajeto e o retorno para casa ficou a pensar naquela cena. Por, muito pouco aquele carro não a atingiu em cheio. Ela estava com dúvidas se aquela ação foi deliberada a mando de alguém ou foi uma coincidência. Se foi a mando de alguém quem teria ordenado aquele ataque, Osnin ou Sarwar? Muito preocupada, assim que ela desceu do ônibus, caminhou rapidamente pelas ruas e entrou no seu apartamento.

De lá uma dúvida persistia em sua cabeça: Será que falo sobre esse acontecimento com o meu pai? Se eu disser ele vai ficar muito preocupado e querer que eu retorne para Londres. Eu tenho um emprego aqui, não posso largar a minha vida por algo que não tenho certeza. Então depois de pensar por muitas horas, ela resolve que não avisaria ao seu pai sobre aquele fato e que teria mais cuidado no decorrer dos próximos dias.

Nos dias seguintes Aisha ficou em uma tensão enorme ao andar por aquelas ruas. A sua ansiedade estava a retornar, quando a psicóloga insistiu para que ela ficasse calma e que se fosse necessário a encaminharia novamente ao psiquiatra para que ela pudesse retomar o uso dos remédios que a mantinham mais tranquila. Em um primeiro momento, aquela jovem entendeu que ainda não precisava de ansiolíticos e com o passar das semanas ela foi ficando mesmo mais tranquila.

Em meados de agosto, Aisha entrou de férias e foi para Londres para as festas de formatura e o casamento de Loren. Ela só retornaria para a cidade de Oxford depois daquele casamento tão esperado que ocorreria nas próximas semanas. A casa de seus pais em Londres estava extremamente movimentada e a expectativa era enorme, de todos. Vários parentes daquela família chegariam nos próximos dias e Wilian, sua esposa e seus filhos viriam também para aquela cerimônia de casamento. Aisha não via a hora de os encontrar novamente.

Casamento forçado e abusivo IIOnde histórias criam vida. Descubra agora