Uma nova tentativa

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O dia 16 de julho de 2015 amanhece e Aisha acorda logo cedo. Ela estava inquieta na expectativa de encontrar novamente com o seu pai.

Já no café da manhã, ela conversou com o seu guarda-costas sobre a sua mudança de planos e vontade de ficar naquela cidade por mais um dia, quando ele a respondeu que estava a disposição dela para ficar o tempo que necessitasse. Assim que combinou com o seu segurança, ela enviou mais uma mensagem de SMS para Johnson, informando sobre a sua decisão e que partiria apenas no dia seguinte para Cabul.

Depois daquela primeira refeição, ela foi novamente ao templo religioso e lá encontrou com uma de suas vizinhas. Quando Aisha a cumprimentou dizendo o seu nome, aquela senhora ficou muito surpresa, mas não a reconheceu. Foi quando ela se apresentou e aquela senhora demonstrou uma felicidade enorme em vê-la.

Aisha tinha ótimas lembranças daquela senhora que fora a sua vizinha enquanto era criança. Ela visitava a casa dela e aprendeu a fazer muitos quitutes com aquela senhora. Elas conversaram por algum tempo e ela rememorou o que aprendeu com aquela senhora a agradecendo por ter sido tão bondosa com ela quando era criança. Aquela senhora ficou muito feliz em ver o quanto Aisha evoluiu e estava bem.

No final daquela manhã, depois de muito conversarem, sentadas em uma praça, elas se despediram e Aisha foi almoçar na pousada em que estava hospedada, feliz por ter reencontrado com alguém que lhe trazia boas lembranças dos tempos em que viveu naquela terra.

Assim que deu 14 horas, após se alimentar pouco naquele dia durante almoço, devido à ansiedade, Aisha foi para o hospital e lá foi recebida com surpresa e alegria pela recepcionista. Logo ela a levou até o quarto de seu pai e ele naquele dia estava a agir de uma forma estranha. Não havia aberto nem os seus olhos, como fez nos dias anteriores.

Aquela reação era diferente das que Aisha havia visto e ela ficou muito preocupada. Mas, quando a enfermeira entrou naquela sala, afirmou que ele costumava a ficar daquela forma durante alguns dias. Era um estado de sonolência acima da média o qual elas já estavam acostumadas.

Com o tempo passando, ela tinha a expectativa de que ele despertasse e ficasse como nos dias anteriores, mas isso não acontecia. O seu tempo para visitas estava quase a acabar, quando ela tentou novamente estimulá-lo para ver se ele respondia de alguma forma, mas as suas tentativas eram inúteis.

Nesse dia, ele parecia mais cansado e debilitado do que nos anteriores e isso deixou Aisha ainda mais triste e chorosa nos últimos momentos que pode ficar próximo de seu pai biológico.

O horário de visitas finaliza e ela para não gerar nenhum trabalho adicional para aquelas profissionais, se despede do seu pai, novamente lhe dando um beijo na testa, enquanto ele encontrava-se imóvel e em um sono profundo.

Aquela situação a deixou ainda mais triste. Nos dias anteriores ela pôde pelo menos ver os olhos do seu pai e algumas mínimas ações dele, no dia de hoje isso foi impossível. Ela chegou a questionar a enfermeira o porque ele ficava assim e ela respondeu que isso era normal para alguns pacientes que estavam em estado vegetativo como ele. Alguns dias eles costumavam despertar e em outros não.

Muito triste ela faz um novo questionamento para a enfermeira:

- Eu estava com uma expectativa tão grande que ele me reconhecesse hoje. Eu ontem tive convicção que ele reagiu a uma de minhas falas na hora que estava indo embora. Você acha que tem alguma chance disso ter acontecido enfermeira? Seja sincera comigo, por favor. Pediu Aisha enquanto lágrimas escorriam dos seus olhos de forma incontrolada.

- Pelo tempo que o seu pai está nessa situação Aisha, eu acho muito difícil que ele tenha reagido de forma diferente no dia de ontem. Depois que me aproximei, não vi indícios dos movimentos que você relatou. Mas, é impossível eu dizer pra você se aconteceu ou não. Eu torço para que tenha acontecido, pois isso trás uma esperança para nós de uma possível recuperação.

- Entendo! Por favor, se ele tiver qualquer alteração, entrem em contato comigo. Farei o possível para vir imediatamente, seja lá onde eu estiver, se ele retomar a consciência. Um dos meus maiores desejos que tenho hoje é poder contar para o meu pai como foi a minha vida depois que fui para o Ocidente. Acho que ele ficaria muito orgulhoso de mim! Afirma Aisha esperançosa.

- Eu não tenho dúvidas disso Aisha. Pode deixar. Faço um compromisso com você de entrar em contato, caso o seu pai tenha alguma melhora. Diz aquela enfermeira a se despedir dela, a abraçando.

Mais uma vez Aisha se despediu daquela simpática recepcionista e caminhou naquela rua, rumo ao carro do guarda-costas, que a aguardava em frente a aquele hospital.

Muito triste e desiludida, ela foi para a pousada e naquele dia nem quis jantar. Combinou de sair logo pela manhã rumo a capital com o guarda-costas e se dirigiu imediatamente aos seus aposentos, onde ficou a chorar por um bom tempo, relembrando da possível ação que seu pai fez no dia anterior.

Depois de rememorar aquele instante, Aisha tinha uma convicção muito grande de que seu pai reagiu a sua despedida. Era uma pena que ela não tinha como comprovar isso nem para si mesma. Ela sabia que a sua imaginação já havia a pregado muitas peças, essa poderia ser apenas mais uma.

Por ter sido muito julgada pelo seu pai quando adolescente, especialmente, por ter colocado a sua vida em risco, na ocasião em que colocou aquele livro sagrado em meio aos seus pertences, Aisha parecia ter uma necessidade de reconhecimento de seu pai muito maior do que o normal, por aquilo que ela se tornou. Todo esse contexto a fazia sentir uma tristeza ainda maior por ele não estar consciente, bem como, por não poder fazer mais nada para ajudá-lo a sair da situação em que se encontrava.

Era como se o seu psicológico remetesse aos seus sentimentos do passado, quando o seu pai demonstrava orgulho dela pelas suas boas notas tiradas na escola e isso de alguma forma a trazia uma vontade ainda maior de demonstrar para ele que ela se tornou alguém muito mais qualificada profissionalmente do que ele pretendia que ela fosse. 

Aisha tinha uma necessidade muito grande de que seu pai sentisse orgulho dela novamente, depois daquele ato que o gerou tanta preocupação e, em certa medida, prejuízos, inclusive financeiros. Era como se, no inconsciente dela, ela se sentisse ainda em dívida com ele, por aquele ato e a repercussão que aquilo poderia gerar para ambos. Por isso, aquela necessidade de conversar com o seu pai lúcido, para ela, se tornava um desejo ainda maior, quase que uma obsessão.

Após refletir muito sobre aquele dia e a situação de seu pai, depois de chorar muito, cansada, ela finalmente conseguiu pegar no sono, mais conformada de que o sonho de reencontrar com o seu pai lúcido, dificilmente, se realizaria algum dia.

Casamento forçado e abusivo IIOnde histórias criam vida. Descubra agora