A captura

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Eu conheci Osnin no campo de batalha um dia antes de sermos capturados. Me lembro que no dia 14 de janeiro de 2002, os homens daquela cidade receberam uma convocação para que comparecessem em uma praça que ficava no centro dela. Todos nós nos apresentamos e recebemos armas a munições para o combate que se aproximava. Havia mais de cinco mil homens naquele local, prontos para a luta.

Começou a contar aquele senhor, enquanto todos os presentes o observavam atentamente. Então ele continuou a sua fala:

- No dia seguinte, o comandante daquela operação, nos enviou para várias partes da cidade e eu fiquei no mesmo destacamento que Osnin. Estávamos esperando que os ataques viessem do Nordeste e do Sul da cidade, que era onde passava a maior das estradas da região. Mas, não sabíamos o que estava por vir. Afirmou aquele senhor, demonstrando emoção em seu olhar ao relembrar daqueles momentos.

Eu e Osnin fomos deslocados para a região Noroeste da cidade e todos disseram que tivemos muita sorte, pois, aquele ponto seria de retaguarda. Ficaríamos fora da linha de frente, o que nos dava uma chance maior de sairmos vivos daquela batalha.

Estávamos em um destacamento pequeno naquela parte, com mais ou menos uns 200 homens. No horário do jantar, eu sentei ao lado de Osnin e nós nos apresentamos. Ele me disse de que cidade era e nós conversamos por um bom tempo. Ali surgiu a nossa amizade. Naquela noite, felizmente, conseguimos dormir, atentos, mas, com uma certa normalidade, pois os conflitos ainda não haviam iniciado.

No outro dia, fomos acordados de forma brusca pelos soldados que dormiram no galpão em que nos encontrávamos. A cidade estava sobre ataque vindos do Nordeste e do Sul, conforme o comandante havia previsto. As baixas do nosso exército eram enormes, não tínhamos como disputar com as armas modernas dos inimigos e rapidamente aqueles destacamentos foram desfeitos, pois parte importante dos homens começaram a fugir e os que ficaram foram dizimados.

Ao saber dessas informações, os soldados do nosso destacamento, começaram também a fugir pelas montanhas e nós fomos para o norte, junto a outros homens. Ao chegar em uma região próxima a uma pequena cidade, onde vivia uma comunidade tribal, fomos recebidos a tiros e parte importante dos homens que nos acompanhavam, morreram. Ficaram vivos, apenas eu, Osnin e mais uns oito homens daquele grupo.

- Como havíamos matado algumas pessoas daquela tribo, os homens que nos capturaram estavam com sangue nos olhos para nos maltratar. Nos pegaram, nos amarraram uns aos outros virados de costas no chão e, parte dos homens daquela tribo, pegaram pedaços de madeira e começaram a nos bater de forma muito violenta. Ao ver que estávamos quase a desfalecer, nos deixaram moídos naquele chão, por onde passamos toda aquela noite gélida. Alguns dos homens que estavam no nosso grupo não suportaram o frio da madrugada e, debilitados, morreram. Afirma aquele senhor com um semblante triste.

Todos estavam a observar as falas de Mukhammad de forma atenta. Quando ele contou o que aconteceu naquela noite, parta daquela família engoliu seco. Sônya tinha experimentado o que era enfrentar o frio durante o inverno naquele país. Nesse instante, ela conseguiu imaginar um pouco do sofrimento daquelas pessoas, ao passar a noite ao relento, amarradas e em meio a um frio terrível, extremamente machucadas.

Logo em seguida a essas reações, aquele senhor continuou a relatar:

- Sinceramente, eu não sei se aqueles que partiram já naquela noite tiveram tanto prejuízo assim. Por algum tempo, enquanto ficamos presos na cadeia que nos levaram depois, eu, por muitas vezes desejei ter sido um daqueles homens. Pelo menos o sofrimento deles foi muito menor do que o nosso! É difícil dizer isso, mas, eu, por muitas vezes, tive inveja daqueles homens que morreram enquanto passava pela violência dos homens que nos prenderam. Afirmou Mukhammad demonstrando convicção no que estava a dizer.

Casamento forçado e abusivo IIOnde histórias criam vida. Descubra agora