A chegada na Turquia

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 No horário marcado, Aisha chegou em Istambul. Rashid a esperava no saguão do aeroporto com uma plaquinha para que eles pudessem se encontrar com maior facilidade, já que fazia muito tempo que não se viam.

Assim que Aisha viu o seu nome na placa, ela abriu um sorriso e foi para próximo daquele senhor para cumprimentá-lo. Depois de tantos anos, Rashid estava com uma aparência bem mais velha do que no período que ela o conheceu, mas ainda era um senhor com uma ótima aparência. Sorrindo muito, eles sentaram em um café para conversar um pouco e Aisha lanchar antes que fossem para casa.

Quando se sentaram aquele senhor disse:

- Que bom te ver novamente Aisha. Sinceramente, eu achei que isso nunca mais fosse acontecer, depois que recebi a informação de que você morreu e Osnin partiu sem você para fugir do exército invasor.

- É um prazer encontrar o senhor também. Tudo que sei daquela época é o que meu pai adotivo e o doutor Wilian me contaram, senhor. Segundo eles, eu fui abandonada sozinha em casa, desacordada, e o meu pai, Johnson, me achou na casa abandonada e me levou para o hospital.

- Eu não acredito que Osnin teve coragem de fazer tamanha maldade Aisha! Afirma Rashid demonstrando surpresa em seu semblante.

- Bem, as vezes eu me pergunto se isso aconteceu, senhor. É algo tão desumano, que eu fico em dúvidas se o meu ex-marido teria coragem de tomar tal ação. Eu cheguei a amar muito Osnin por um tempo de meu casamento. Eu confiava que ele era uma pessoa boa, incapaz de fazer algo nesse sentido. Mas, no desenrolar do meu casamento, ele foi demonstrando a sua verdadeira face e depois das inúmeras surras terríveis que levei, hoje entendo que ele seria sim capaz de me abandonar inconsciente como afirmam que ele fez.

- Eu conversei tanto com Osnin para que ele não fosse tão severo com você Aisha. Eu dizia a ele que você era uma menina. Uma pessoa de 14 ou 15 anos, ainda precisa aprender muita coisa e você teria tempo para isso. Por alguns momentos, ele parecia escutar. Por outros, ele demonstrava que não estava nem ligando para a sua baixa idade.

- Eu acho que a mãe dele e Parisa ajudaram muito para que Osnin criasse um ódio incontrolável de mim, senhor. Eu não sei bem, mas, acho que ele não era tão mal o quanto demonstrava em suas ações. Algumas vezes, olhando tudo o que aconteceu, eu penso que Osnin era muito manipulável e a mãe dele fazia isso muito bem, em favor de Parisa, que se sentia ameaçada por minha presença naquela casa. Eu acho que foi isso que gerou boa parte dos meus problemas enquanto estive casada.

- Mas, eu penso que Osnin não poderia ter te tratado daquela forma Aisha. Eu nunca precisei tocar em uma mulher minha para que ela fizesse aquilo que teria que fazer. Com diálogo elas sempre agiram bem e são ótimas esposas. Mesmo quando novas não me davam trabalho. Os livros sagrados não dizem que você deve castigar as mulheres como aqueles homens entendiam. Sinceramente, eu não sei de onde eles tiravam essas coisas. Era uma pena que eu tinha um pensamento solitário naquele conselho, mas, fiz o que pude para tentar proteger ao máximo você e as outras mulheres daquela comunidade.

- Eu sei disso senhor Rashid. Eu sei que a ação Marian e Parisa não justifica as ações violentas de Osnin contra mim, especialmente, no ato de tentar me abandonar desacordada a própria sorte. Mas, mesmo com tudo isso acontecendo, eu nunca desejei nenhum mal a ele e que ele morresse da forma que aconteceu.

- Isso só demonstra que estava certo Aisha. Eu falava sempre para Osnin que quando olhava para você via bondade em seus olhos. Depois de tudo que passou, ainda ter esses sentimentos bons quanto a ele, a ponto de não o desejar mal, mesmo depois dele ter atentado contra a sua vida, quando você não podia se defender, mostra que eu sempre estive certo em só ver bondade em você.

- Eu agradeço pelas lindas palavras senhor. Pode ter certeza que o que vê em mim é o que vejo no senhor também.

Eles continuaram a conversar por algum tempo naquele local, enquanto Aisha lanchava. Depois que terminou, ela pediu licença a Rashid para entrar em contato com o seu pai e avisar que deu tudo certo na viagem e que já estava com aquele senhor na Turquia.

Johnson ficou muito feliz ao saber que aquele reencontro foi possível e conversou um pouco com aquele afegão pelo telefone, pedindo para que ele cuidasse da filha, enquanto ela estivesse naquele país, sempre falando de forma descontraída.

Ao encerrar aquela ligação, ambos saíram do aeroporto e Rashid a levou para casa. Assim que as portas da sala foram abertas, ela se encontrou com as 3 esposas dele e seus 9 filhos, dos 15 que ele tinha. Três dos seus filhos e três filhas, eram mais velhos, já haviam se casado e a aquela altura moravam com os seus cônjuges.

As duas esposas mais velhas de Rashid, conheceram Aisha enquanto ela esteve casada com Osnin e ficaram muito felizes em reencontrá-la. Elas conversaram muito durante aquela noite e foram até a madrugada a contar novidades sobre suas vidas. Depois de tantos anos, elas tinham muito o que conversar sobre o passado.

Aquelas senhoras contaram muitas histórias de quando partiram do Afeganistão para se livrarem da guerra. Por terem saído muitas horas antes da invasão, aquela família teve a possibilidade de se dirigir para a Turquia, sem maiores problemas. Osnin, provavelmente, não conseguiu sair do país porque saiu para Leste, em vez de ir para o Norte e tomou a decisão de sair da cidade muito tarde e com poucos recursos. Isso impediu que ele fosse para outro país e pudesse proteger melhor a sua família.

Depois de muito conversarem, Aisha foi levada aos seus aposentos, após de se despedir de todos e deitou na cama, ficando a pensar em como Rashid era um homem bom e suas esposas e filhos eram felizes. O semblante delas era muito diferente do que ela se lembrava da casa de Osnin. Nos seus pensamentos, Aisha queria muito que Caivan tivesse um perfil parecido com aquele senhor para que ela pudesse construir uma família linda como ele tinha.

Naquela noite, ela mandou uma mensagem para o seu amor, informando que havia chegado na Turquia e que estava tudo bem. Caivan a respondeu desejando boa noite, pois imaginava que ela estava cansada depois de tão longa viagem, dizendo que ligaria para ela no dia seguinte. Em sua última frase, ele disse que a amava muito e já a sentia mais próximo, através das intensas batidas do seu coração, que pareciam mais intensas a cada momento que ela se aproximava do Afeganistão. Assim que viu aquela mensagem carinhosa, Aisha sorriu e cansada, minutos depois, conseguiu pegar no sono.

Casamento forçado e abusivo IIOnde histórias criam vida. Descubra agora