A decisão

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No dia 08 de fevereiro de 2002, Wilian se encontrava em um enorme dilema. No dia 15, na sexta feira da semana seguinte, acabaria o seu contrato com a Ong e daquele momento em diante ele deveria decidir se cumpriria o acordo ou não com aquele líder religioso, assinando um contrato com o governo local, o que poderia o deixar completamente vulnerável naquela cidade. Ele sabia que aquele hospital estava com muita gente ferida e que ele não poderia abandonar aquelas pessoas e nem teria condições para fazer isso. Ele queria apenas pensar na melhor forma de agir para ficar naquela cidade, tendo o menor risco possível.

A aquela altura ele já havia recebido a informação de que aquele líder religioso não tinha mais poderes para condenar as pessoas a morte antes de montar um Conselho. Aquilo, de certa forma, o deixava um pouco mais tranquilo, entretanto, ele sabia que, na prática, aquela decisão não mudava muito o cenário. Durante aqueles atentados terroristas que aconteceram naquelas semanas, muitas pessoas haviam sido presas, suspeitas de terem participado daquelas ações. Depois de dois dias presas, misteriosamente, algumas dessas pessoas apareciam mortas em suas celas, sem que nenhuma investigação fosse aberta para averiguar os fatos. Claramente, as pessoas estavam deixando de ser executadas após serem condenadas, mas, essas execuções estavam ocorrendo nos porões daquela cadeia.

Na segunda feira da semana seguinte, no dia 12 de fevereiro de 2002, ele pediu para que Tody realizasse um contato com Johnson, pois ele queria conversar com aquele oficial para saber a sua opinião sobre aquela situação. Durante a noite, Tody levou o rádio comunicador e eles conseguiram conversar:

- Olá Wilian, como estão as coisas por aí?

- As coisas aqui não estão nada bem Johnson. Esse líder religioso resolveu começar a executar prisioneiros e a situação aqui na cidade está muito delicada. Muita repressão, pessoas mortas e muita gente ferida. Estamos a beira de uma guerra civil. Atentados terroristas que não aconteciam aqui, agora estão a ocorrer de forma frequente, eu estou muito preocupado.

- Minha nossa. Que ação mais sem sentido a desse líder religioso.

- Muito sem sentido. Ele não é uma pessoa ideal para estar na posição que está. Felizmente o governo central recebeu informações do que estava a ocorrer aqui e disseram para ele para não executar ninguém daqui pra frente.

- Mas, então isso é muito bom Wilian. Melhora inclusive a sua situação.

- Até parece que você não conhece como funcionam as coisas aqui Johnson. Depois dessa ordem do governo central, dezenas de pessoas foram presas, suspeitas de participar dos atentados terrorista e dia após dia, misteriosamente, eles aparecem mortos na cadeia e nenhuma investigação é realizada. Coincidência!

- Eu posso imaginar. De forma prática isso não muda nada né!

- Exatamente isso. Eles deixaram de executar condenados e estão a matar prisioneiros. Enquanto esse líder estiver aqui, governando essa cidade dessa forma, nada vai mudar.

- E a população como está?

- Revoltada de ambos os lados. Muitas pessoas que odiavam os Talibãs, agora estão do lado deles, porque entendem que esse regime é ainda pior. Os contrários aos Talibãs tem sofrido com os atentados terroristas e estão com posições cada vez mais extremas em defesa da execução de prisioneiros. Estamos próximos como nunca de uma guerra direta entre esses dois grupos.

- Isso é péssimo Wilian! Afirma Johnson preocupado.

- Eu que sei. Andar aqui nas ruas dessa cidade, hoje em dia é uma aventura, nunca sabemos quando irá explodir a próxima bomba. Tudo aqui hoje é uma tensão total.

- Eu vivi isso nos primeiros dias que tomamos o Afeganistão e a sensação é horrível. É uma ameaça real o tempo inteiro.

- É sim. Não há nada pior do que isso. Mas, eu entrei em contato porque não sei mesmo o que fazer. Eu temo que se não cumprir com o acordo aquele líder queira me matar. O meu contrato com a Ong acaba na quinta-feira.

Casamento forçado e abusivo IIOnde histórias criam vida. Descubra agora