A continuidade daquela semana

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A segunda-feira passa e Aisha volta do trabalho para o seu apartamento. Ao chegar em casa ela prepara uma comida e depois de jantar vai assistir televisão em seu quarto demonstrando uma tristeza enorme em seu semblante.

Ela sente que poderia perder Saleh para sempre se não tomasse alguma atitude e aquela sensação a fazia sentir que gostava muito mais dele do que havia imaginado anteriormente. Entretanto, os seus dogmas culturais não permitiam que ela agisse de forma diferente das ações tomadas até aquele momento, todas no sentido de fazer com que o seu melhor amigo cumprisse com a sua palavra e realizasse os desejos de sua família.

No seu íntimo a pensar, pela primeira vez ela sente uma vontade incontrolável de saber o que aconteceu com a sua família, especialmente com o seu esposo. Ela insistia em querer que nada de ruim tivesse acontecido com Osnin, pois, ela não guardava maus sentimentos quanto a ele, mas, sabendo o seu paradeiro, como ela tinha muitos recursos, talvez poderia tentar de alguma forma convencê-lo a pedir o divórcio, já que aquela ação quando tomada pelo homem, na sua cultura, era muito mais fácil de ser realizada.

Muito triste com tudo o que estava acontecendo, ela começou a chorar intensamente em sua cama. Quando então, ligou para a sua irmã para conversar um pouco:

- Alô. Minha irmã, que saudade de você! Diz Aisha a chorar no telefone.

- Aisha, porque você está chorando? Questiona Loren assustada.

- Eu estou muito triste minha irmã. O pai de Saleh depois que viu que ele estava a querer ficar na Inglaterra pela nossa amizade, decidiu fechar um acordo com uma família influente no Afeganistão e ele vai precisar ir pra lá nesse fim de semana para fechar o seu acordo de casamento. Saleh vai se casar! Afirma Aisha a chorar ainda mais intensamente.

- Acalme-se Aisha. Para tudo há uma forma. Porque você não pede ele para não ir e não fechar esse acordo? Questiona Loren.

- Eu não posso fazer isso. Eu nem sei como está o meu casamento, minha irmã. Eu não poderia casar com ele ou construir uma família. Eu estou impedida de qualquer relacionamento enquanto não souber o paradeiro do meu esposo.

- Eu já te disse que você precisava ter resolvido isso a muito tempo, Aisha. Olha quantos anos tem que você mora aqui. Já deveria ter arrumado uma forma de buscar mais informações sobre o seu marido para começar uma vida nova. Enquanto você tem ele em sua vida, você está presa ao seu passado. Desde que chegou aqui que eu te falo isso.

- Eu sei minha irmã. Mas, você sabe o quanto isso foi difícil pra mim no começo. Eu tenho medo de procurá-lo e voltar a ter aquelas ansiedades intensas novamente. Eu tenho muito medo. Além disso, morro de medo dele me encontrar. Eu tenho certeza que ele não teria nenhuma piedade de mim depois de tudo o que aconteceu. Afirma Aisha em tom desesperado.

- Aisha, pelo que você me disse, Osnin não é mais tão jovem a ponto de fazer algo contra você com tanta facilidade e você já é uma mulher. Se quando você se casou ele tinha 52 anos, agora ele já é um idoso. Contra ele você tem condições de tentar se proteger. Você não é mais uma menina de 15 anos. Você agora já tem mais de 25. Não tem mais porque ter tanto medo dele assim. Eu sei que você tem traumas. Eu sei que tudo que passou foi muito aterrorizante, mas estamos em outro momento. Ele não tem mais a mesma diferença de força com relação a você quanto tinha naquela época. Afirma Loren em tom incisivo.

Nesse instante, Aisha reflete um pouco. A sensação de terror dela, só de pensar em Osnin, era tão grande que parecia que a sua cabeça retornava ao tempo em que ela era uma criança. Em sua mente era como se ela não crescesse durante aquele tempo e Osnin continuasse sendo sempre aquele homem forte, robusto e agressivo ao extremo. O seu terror era tão grande ao pensar nos atos de violência que ele havia realizado contra ela, que Aisha não conseguia ver os dois de outra forma que não fosse quando se casou com ele. O seu trauma era tão intenso que a sua mente nunca conseguiu romper essa visão de que o tempo havia passado e imaginar sobre a perspectiva que Loren acabava de lhe apresentar. Depois de muito refletir, ela diz:

Casamento forçado e abusivo IIOnde histórias criam vida. Descubra agora