Casamento forçado e abusivo II

Os meses seguintes

Os dias foram passando e as conversas entre Aisha e Caivan se tornavam cada vez mais comuns durante o horário da noite na Inglaterra e madrugada no Afeganistão. Com declarações de amor, Caivan conquistava Aisha de forma cada vez mais intensa o que despertava nela uma vontade cada vez maior de voltar ao seu país de origem para visitar o seu pai e saber um pouco mais do seu passado, além de encontrar com o seu primeiro amor, obviamente.

Aisha conversava muito com a sua irmã Loren, que, mesmo sem ter muita experiência de vida, ouvia aquelas histórias, mas ficava sempre com um pé atrás com relação a um homem de uma cultura tão diferente da dela, morar naquele país durante todos esses anos e ser tão cordial daquela forma. Para ela, isso poderia até ocorrer, mas, Aisha deveria ter muito cuidado, antes de tomar uma ação mais séria em sua vida e conhecer bem aquele homem com quem pretendia se casar.

Ela chegou a comentar sobre esse reencontro de Aisha e o seu primeiro amor com os seus pais, que ficaram muito preocupados, pois Johnson conhecia muito bem os estilos de relação daquele país e tinha medo que ela pudesse se envolver com outro homem de valores conservadores como era o seu primeiro marido e isso a fizesse sofrer.

Nas visitas que realizaram a Aisha eles, sutilmente, tentavam conversar sobre o assunto, mas, percebiam que ela estava completamente apaixonada por Caivan. Por mais que eles pedissem para que ela fosse com calma nas etapas daquele relacionamento, ela, com idade mais avançada para se casar, de acordo com os padrões da sua cultura e com muito vontade de ter filhos não escutava ninguém que lhe dava esses conselhos.

Mas, Caivan demonstrava mesmo ser um homem muito cordial, em todos os sentidos. Por muitos momentos, ele citava passagens do livro sagrado de sua religião que pregava o respeito as mulheres, bem como recitava inúmeras poesias para Aisha, o que demonstrava ainda mais o seu perfil e encantava ela de forma profunda.

Com essas demonstrações de carinho nos constantes contatos realizados, sem nenhum conflito de valores sequer, o ano de 2014 foi passando. Em uma das conversas que teve, já pelo telefone, Aisha disse a Caivan que tinha muita vontade de ver o seu pai novamente e ele lhe deu todo o apoio para que ela fosse o visitar no futuro, dizendo que se ela quisesse, poderia lhe encontrar em alguma parte do seu país e levá-la até ele. Em resposta, Aisha disse que ele não precisava se preocupar. Que ela necessitava apenas saber como estava a saúde dele e Caivan se dispôs a ir a sua antiga cidade, no hospital em que seu pai se encontrava, de acordo com as informações contidas no dossiê de Sarwar e lhe passar informações sobre o seu estado de saúde.

Dias depois, ele trouxe informações de Mohamed. Caivan afirmou para Aisha em uma nova conversa por telefone que aquele senhor estava internado em uma espécie de hospital psiquiátrico e não reconhecia ninguém. Ele estava com problemas psicológicos depois de ter sido recrutado pelo Talibã para a guerra. Aquela informação deixou Aisha muito triste e sentindo uma necessidade ainda maior de retornar ao seu país para rever o seu pai biológico. A aquela altura as suas férias haviam passado, mas, no ano seguinte, ela pretendia fazer uma visita ao seu pai. Ela agradeceu Caivan imensamente por ter ido até o seu pai, ficando muito grata a ele por mais esse ato de generosidade.

A aquela Altura, Sarwar já estava sabendo de todos essas informações, pois, ainda estava hackeando o computador dela. Tomar conhecimento de que Aisha havia reencontrado o seu primeiro amor e fazia juras constantes a ele, deixou aquele senhor mais tranquilo. Dificilmente Saleh conseguiria reatar aquela relação e isso era tudo que aquele senhor mais queria. Na visão de Sarwar, era bom ver Saleh terminar triste e sozinho a sofrer por aquele amor após não ter cumprido com o seu compromisso de se casar com aquela que havia arranjado para ser a sua esposa.

O fim daquele ano passa com Aisha mais animada e feliz nas festas realizadas em Londres com a sua família de criação. Durante aqueles dias, os seus pais a questionaram sobre o seu relacionamento com Caivan e ela se abriu com eles. Mas, vendo que ela estava muito apaixonada, eles preferiram não dizer nada a respeito de suas preocupações, com medo de que ela pudesse achar ruim qualquer comentário que fizessem.

Loren, que era íntima de Aisha, era a que mais tinha coragem de dizer para que ela tomasse cuidado, pois, os homens de sua cultura pensavam de forma muito diferente da cultura ocidental e isso poderia a fazer sofrer. Entretanto, como resposta, Aisha dizia que Caivan sempre pensou diferente dos homens do seu país, por isso ele valorizava tanto a sua amizade quando criança. Além disso, ela afirmava que as coisas haviam mudado muito Afeganistão e que os homens não pensavam mais da mesma forma de quando o governo era o Talibã. Depois de escutar esses argumentos e ver que irmã estava irredutível, ela preferiu não dizer mais nada para evitar atritos.

Na virada daquele ano, muito apaixonada, ela prometeu para Caivan, em uma conversa pela rede social, que iria ao Afeganistão em suas próximas férias para ver o seu pai e encontrá-lo, algo que deixou o seu primeiro amor muito feliz e esperançoso, pois, ele também não via a hora de se encontrar com Aisha novamente.