Os antecedentes da viagem

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O mês de julho se inicia e as férias de Aisha começariam na segunda quinzena. A sua expectativa era muito grande de retornar ao seu país e poder ver o seu amor de infância. A conversa entre os dois exalava amor em meio a troca de palavras:

(Aisha) – Eu não vejo a hora de estar em Cabul e poder te ver novamente.

(Caivan) – Eu que não vejo a hora de te ver Aisha. Você não sabe o quanto esperei por esse momento em minha vida. Eu te procurei em muitas partes desse país. Cheguei a ir na nossa escola, perguntei a pessoas da nossa cidade. Depois da guerra fui a cidade do seu esposo. Eu te procurei muito aqui Aisha. Que bom que você me encontrou e poderemos nos ver pessoalmente em breve.

(Aisha) - Eu também pensei muito em você! Enquanto estive casada, eu só pensava que aquele matrimônio poderia ter sido entre nós dois e que eu seria muito mais feliz se estivesse ao seu lado.

(Caivan) – Mas, esse erro de percurso histórico de nossas vidas vai acabar Aisha. Você está desimpedida e eu estou desimpedido, já que agora temos a mesma religião. Em breve nos casaremos e o nosso destino seguirá a mesma estrada. Teremos muitos filhos!

(Aisha) – Muitos filhos é o que mais quero Caivan. Você precisa resolver logo os seus problemas aí para poder se mudar logo para cá e começarmos a nossa vida. Eu já estou bem velha para me casar e para ter os filhos que tanto desejamos.

(Caivan) – Em breve meu amor. Eu já estou dando um jeito em tudo aqui. Em breve eu vou para a Inglaterra e todos os nossos sonhos irão se realizar!

As conversas entre os dois duravam horas. A cada fala carinhosa de Caivan, Aisha muito carente de relacionamentos, verdadeiramente amorosos, ficava ainda mais encantada e hipnotizada por aquela paixão avassaladora. A sua vontade era ver aqueles dias passarem mais rápido para que ela pudesse chegar logo a sua terra natal.

No seu planejamento, ela pararia na Turquia e ficaria lá por dois dias. Ela queria encontrar com Rashid e já havia combinado com ele de passar uma noite em sua casa, para lhe agradecer por toda a ajuda enquanto estava casada com Osnin.

Depois disso, ela viajaria para a cidade de Mazar e Sharif, cidade com voos comerciais mais próxima de sua terra natal, onde o seu pai estava internado em uma espécie de hospital psiquiátrico. Assim que desembarcasse no aeroporto, ela já encontraria com o segurança da empresa contratada e andaria com o carro blindado por aquele país durante todo o seu trajeto.

O valor pago a essa empresa foi substancial, entretanto, a essa altura, Aisha ganhava muito bem na empresa em que trabalhava e o câmbio da moeda Afegã, por ser bem abaixo da Libra, também controlava um pouco o valor para que ele não fosse tão exorbitante.

Como tinha 21 dias de férias, além dos dois dias na Turquia, ela planejava ficar mais três dias em sua terra natal e depois se deslocaria para a Capital. Lá ela procuraria informações sobre a sua antiga família. Nas conversas que teve com Rashid por rede social, ele afirmou que tentaria obter o endereço de alguma das esposas de Osnin, que ele já havia obtido informações de que morava em uma região próxima a capital. Essa fala deixou Aisha muito feliz, finalmente, ela teria condições de saber em detalhes tudo o que aconteceu com a família de seu esposo após a sua partida.

Caivan a encontraria na capital exatamente uma semana depois dela chegar ao país. Na data em que Aisha provavelmente chegaria na capital, ele estaria em viagem para negociar alguns animais para um de seus patrões, portanto, ele só conseguiria encontrar com a amada na segunda semana que ela estivesse no Afeganistão e dois dias após a sua chegada em Cabul. Se o planejamento inteiro fosse cumprido, eles poderiam ficar juntos na mesma cidade por duas semanas, para matar a saudade.

Faltando uma semana para a viagem, Johnson resolveu ir a Oxford para ter uma conversa com a filha. Quando ele chegou no apartamento, Aisha o atendeu surpresa. Os dois conversaram muito e depois de algum tempo ele entrou no assunto da viagem, ao ver as suas malas sendo feitas em seu quarto:

- Você vai mesmo para o Afeganistão não é minha filha?

- Sim pai. Eu preciso resolver algumas coisas de meu passado por lá. Eu adiei muito esse meu encontro com os meus traumas. Mas, acho que chegou o momento de seguir em frente.

- Eu admiro muito a sua coragem depois de tudo que passou. Eu queria ir com você, mas infelizmente não será possível devido ao meu trabalho.

- Acho que agora sou adulta pai. Eu já sei me cuidar, não precisa mais se preocupar comigo dessa forma. Vai ficar tudo bem! Eu estou sendo acompanhada por uma empresa de segurança particular. A melhor do país. Eu prometo que vou ficar bem.

- Eu queria muito acreditar nisso minha filha. Mas, não tenho tido bons pressentimentos quanto a essa sua viagem. Eu sinto que você vai correr riscos desnecessários, indo para a sua terra natal.

- Eu entendo as suas preocupações meu pai. Mas, eu preciso fazer isso! Sinto que apenas depois que enfrentar o meu passado e saber efetivamente tudo o que aconteceu, eu terei condições de construir a minha vida aqui. Eu preciso disso. De verdade. Eu preciso saber e tentar ajudar o meu pai biológico. Eu preciso saber como ficou a família do meu primeiro esposo e ajudá-los, se eles estiverem passando por alguma dificuldade. Eu preciso agradecer pessoas que me ajudaram enquanto eu estava a passar por momentos difíceis naquele país.

- Tudo isso pode ser feito a distância minha filha!

- Não será a mesma coisa pai. Eu espero muito que o senhor entenda. Eu preciso estar lá. Sentir de novo a minha terra. As minhas origens! A minha cultura. Eu preciso disso!

- Eu não consigo entender muito bem, mas, eu respeito a sua decisão. Só lhe dou dois conselhos. Tome muito cuidado e não saia de perto do seu segurança por nenhum momento sequer. Tem muita gente com ódio de você naquele país Aisha. Tem pessoas da sua cidade que devem te odiar até hoje. Tome muito cuidado.

- Eu tomarei meu pai e prometo que não vou sair de perto do segurança. Estarei com ele nas proximidades o tempo inteiro. Nada acontecerá comigo. O senhor pode ficar tranquilo.

- Tranquilo eu só ficarei daqui 28 dias, quando for te buscar novamente no aeroporto de Londres.

- Eu estarei aqui de volta pai. Eu prometo ao senhor.

Os dois continuaram a conversar por um bom tempo naquele dia. Johnson tentou atualizar Aisha com as informações que recebeu de colegas que ainda estavam no Afeganistão e lhe dar dicas de segurança para quando estivesse lá. No final daquele dia, ele se despediu da filha e retornou preocupado para a Capital.

Aisha naquela noite dormiu tranquilamente depois de falar com Caivan e sonhar com ele. Em uma semana ela iria para Londres, onde pegaria o avião para a Turquia no seu primeiro dia de férias. Ela estava com uma expectativa enorme para de alguma forma se encontrar com o seu passado.  

Casamento forçado e abusivo IIOnde histórias criam vida. Descubra agora