O mês de setembro

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O mês de setembro inicia e Aisha vai para o seu primeiro dia de aula na escola em que Loren estuda. As duas são deixadas na porta do colégio, a aquela altura, Aisha com 19 anos e sua irmã com 18.

A estratégia de Loren de evitar encontrar Tommy havia dado certo na segunda metade do último ano. Ela ainda tinha sentimentos por ele, mas, com o tempo sem vê-lo eles ficaram mais controláveis. Novamente ela percebeu que não seria da mesma sala daquele jovem e que estudaria na mesma sala que Aisha, conforme os seus pais solicitaram.

As duas estavam muito decididas a conseguir conquistar uma vaga nos seus cursos de desejo em alguma das melhores universidades do país e estudavam intensamente tanto no período regular de aula, quando depois que chegavam em casa, não tendo muito tempo para outros pensamentos.

Com o ótimo tratamento psicológico e psiquiátrico que Aisha realizava a anos, aqueles picos de ansiedade dela acabaram totalmente, lhe dando uma boa condição de vida. Sempre que possível ela ia ao templo religioso e realizava os rituais da sua cultura. Lá ela tinha a possibilidade de conhecer muitas pessoas de sua religião, incluindo, ex-moradores do seu país.

Na última semana daquele mês, enquanto ela saía do templo religioso, ela ouviu a voz de um homem que disse:

- Com todo o respeito. Poderia saber o nome dessa nobre dama?

Assustada, ela olhou bem para ele e o cumprimentou questionando:

- Quem é o senhor?

- Eu me chamo Saleh. Te vi no templo e estava sozinha. Queria saber o seu nome?

- Para que quer saber o meu nome? Questiona Aisha ainda desconfiada e preocupada, tentando proteger os seus segredos do passado.

- Já tem algum tempo que te vejo aqui no templo senhora e vejo que é uma jovem muito devota. Queria lhe conhecer melhor.

- Será que eu posso confiar no senhor? Questiona Aisha ainda com um semblante fechado.

- Mas, é claro que pode. Porque não iria confiar em mim? Questiona Saleh, sem entender muito bem o porque da reação daquela jovem.

Ao ver que ele fez aquele questionamento de forma muito sincera, ela sentiu confiança e disse:

- Me desculpe senhor. Eu fico muito preocupada de ser mal vista pela comunidade. Por isso fiz esse questionamento. Eu me chamo Aisha.

- E vem de onde essa jovem de tão rara beleza? Questiona Saleh.

- Eu nasci no norte do Afeganistão. O senhor é daqui mesmo? Nunca te vi no templo.

- Não. Eu também venho do Afeganistão. Eu sou da cidade de Cabul. Pra dizer a verdade eu já sabia algumas informações sobre você. Tem umas duas semanas que estou apreciando a sua presença no templo. Cheguei aqui há um mês para iniciar os meus estudos em uma Universidade do país.

Aisha então se assusta com aquela fala de Saleh, quando ele percebe o seu olhar assustado e diz:

- Mas, não precisa ficar assustada Aisha. Eu só busquei informações de onde você era e me disseram que você nasceu no meu país. Isso me trouxe ainda mais esperanças de poder te conhecer melhor. Justifica ele.

Aisha confusa diz:

- Você está a estudar em qual Universidade?

- Eu estudo na University College London. Vejo que está muito desconfiada. Diz ele a sorrir, quando então pega a carteirinha da Universidade e demonstra para Aisha para comprovar a informação que havia dito a ela, o que faz Aisha respirar fundo e ficar um pouco mais tranquila.

- Que legal! Eu também pretendo iniciar um curso no ano que vem. Afirma ela com um sorriso no rosto.

- Há quanto tempo mora aqui Aisha?

- Eu vim pra cá em 2001. É a primeira vez que vem a Inglaterra?

- Sim. É a primeira vez e estou muito encantado. É muito diferente da realidade no nosso país. Afirma aquele jovem com um sorriso no rosto.

- Eu posso imaginar. Eu também fiquei impressionada quando cheguei.

- Poderíamos tomar um chá juntos? Questiona Saleh.

Aisha faz uma cara de quem não desejava realizar aquela ação naquele momento, quando ele insiste:

- Por favor Aisha? Você é a primeira pessoa do meu país que encontro desde que cheguei aqui. Eu estou com uma saudade enorme de conversar na minha língua. Me faça companhia para que possa falar a nossa língua nativa novamente. Pede ele encarecidamente.

- Tem muito tempo que não falo a minha língua nativa. Não sei se vou me lembrar como se falava nela. Afirma Aisha a sorrir depois da desculpa arrumada por aquele cavalheiro.

- Mas, é claro que vai. Ninguém esquece da língua nativa assim tão rápido. Diz ele em afegão, quando Aisha entende a sua forma de falar e começa a sorrir.

- Então vamos. Você me convenceu. Afirma ela também na língua afegã.

Enquanto eles tomavam aquele chá, Aisha diz:

- Eu estou surpresa em te encontrar aqui. Eu já encontrei outras pessoas do Afeganistão, mas normalmente elas estavam de passagem. É difícil encontrar alguém que consiga o visto de estudante para cá.

- O meu pai é um Ministro importante do novo governo. Por esse motivo ele conseguiu organizar um pouco as coisas para que eu pudesse ser aceito pela Universidade e fizesse o curso de Medicina aqui. Eu não gosto muito desses ajustes de acordo com a situação, mas, morando no Afeganistão acho que não teria outra alternativa para conseguir o curso que sempre sonhei fazer.

- Eu entendo. Seria mesmo muito difícil de outra forma. Tem muito tempo que estuda o inglês?

- Sim. Eu estudei inglês no Afeganistão por três anos. Desde os 16 anos que estou me preparando para vir iniciar os meus estudos. Eu estava fazendo o ensino médio aqui e lá também. Eu consegui fazer o Ensino Médio Inglês em uma escola que tem aulas a distância.

- Que legal! Eu nem sabia que tinha essa possibilidade.

- Depois que o regime mudou no país surgiram algumas oportunidades. É uma pena que não é pra todo mundo, sabe Aisha. Mas, para algumas pessoas, mais ligadas ao governo, muita coisa boa agora é possível.

- E como estão as coisas na nossa terra? Questiona Aisha.

- Não está fácil. O Talibã ainda resiste em algumas áreas e muitas pessoas estão a morrer nos conflitos. Um outro problema que temos é com relação aos atentados terroristas. Carros bombas explodem constantemente nas ruas de Cabul. O medo é constante. Mas, aos poucos as coisas estão melhorando. Você veio pra cá fugida da guerra.

Aisha pensa um pouco para responder e diz:

- É. Mais ou menos isso.

- Como assim mais ou menos isso? Questiona Saleh a sorrir carinhosamente.

- Eu não gostaria de falar desse assunto agora. Será que poderíamos conversar sobre outras coisas? Questiona Aisha tentando mudar de assunto, com medo de que ele pudesse ter sido enviado por Osnin.

- Claro que sim. Me desculpe por ser tão intransigente. Afirma Saleh de forma carinhosa, quando os dois continuam a conversar sobre assuntos diversos.

Assim que terminaram de tomar o chá, Aisha se despediu dele, dizendo que tinha que ir embora, pois a sua família poderia se preocupar caso ela não chegasse logo em casa. Eles então se despedem e Aisha pega um táxi e vai embora.

Ela gostou muito de conhecer Saleh, ele parecia ser uma pessoa legal e tinha uma mente muito mais aberta do que os homens que ela havia conhecido enquanto morou no Afeganistão. Como ele era um adolescente na época da queda do regime Talibã, isso pode ter ajudado ele a ter uma visão mais moderna do mundo e por isso ele demonstrava ter conceitos tão diferentes. Pensava Aisha enquanto se dirigia para casa.

Casamento forçado e abusivo IIOnde histórias criam vida. Descubra agora