A viagem para Oxford

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Às nove horas do sábado, dia 27 de abril de 2013, Saleh chega na cidade de Oxford, passa em uma floricultura, compra algumas flores e vai em direção ao apartamento de Aisha. Ele chega então na portaria e por já ser conhecido, consegue convencer o porteiro a subir sem ser anunciado. Ao chegar em frente ao apartamento, ele chama na campainha.

Assim que Aisha abre a porta, ele não se controla, a segura imediatamente pela cintura com uma das mãos e lhe dá um beijo forte e intenso, de forma que ela nem consegue reagir. Aquele beijo começa avassalador e depois vai ficando mais lento. Em um primeiro momento Aisha ficou sem reação. Depois de algum tempo, ela deixou se envolver e foi correspondendo a ação dele. Foi algo muito inesperado e Aisha adorava situações assim.

Quando eles pararam de se beijar, ele lhe entregou aquelas lindas flores e disse com um sorriso no rosto:

- Que bom te ver Aisha!

- Que surpresa Saleh, eu não esperava te encontrar assim! Entre. Pede Aisha de forma carinhosa, ainda recuperando o fôlego depois daquele beijo surpreendente.

Assim que Saleh entrou, eles sentaram em um sofá da sala e começaram a conversar:

- Eu já não aguentava mais passar nenhum dia sem te ver Aisha. O que você está fazendo comigo não é justo!

- Saleh, eu não estou fazendo nada.

- É claro que está Aisha. Você está me evitando. Eu tento conversar com você e você não me atende. Não responde as minhas mensagens. Isso não fazia parte do trato quando assumi aquele compromisso de me casar com Amira.

- Acho que isso estava implícito Saleh. Não podemos ter a mesma relação de amizade, tendo todo esse sentimento um pelo outro depois que você assumiu esse compromisso.

- Esse pensamento é injusto Aisha. Eu tive esse tipo de relação com você enquanto você estava casada. Você não pode me abandonar assim. Afirma Saleh com um semblante triste.

- Sinceramente, eu não sei o que te dizer. Eu também estou muito confusa com tudo o que está acontecendo Saleh. Eu achei que se me afastasse seria mais fácil pra mim. Mas, vi que não é bem assim que as coisas funcionam.

- Eu não estou conseguindo ficar longe de você Aisha. Eu tenho tentado muito, mas está muito difícil. Eu não sei se vou poder me casar com Amira.

- Você não tem mais escolha Saleh. Está maluco? Você tem um compromisso selado com ela. O seu pai manda te matar se você não fizer isso! Afirma Aisha desesperada.

Saleh passa as mãos em sua testa demonstrando preocupação. Ele sabia que a hipótese apresentada por Aisha poderia ser real. Mas, estava em uma encruzilhada intransponível. Ele não iria conseguir se casar com aquela jovem do seu país tendo um amor tão grande por Aisha.

- O que vamos fazer Aisha?

- Você vai ter que seguir o que está no seu destino meu amigo. Não temos outra saída. As consequências seriam imprevisíveis caso você desviasse esse caminho.

- Eu sei disso! Mas, a vontade é tão grande de desviar dele as vezes...

- Eu sei. Eu também tenho vontade de jogar tudo para o alto as vezes. Mas, o preço que pagaríamos todos, seria alto demais. Pense bem o escândalo que seria para a sua família. Eles seriam desacreditados e desonrados perante toda a sociedade. Seria uma vergonha imensurável para os seus pais. Eles te odiariam por toda a vida e te amaldiçoariam por toda a eternidade. Afirma Aisha com um semblante triste.

- É nisso que mais penso Aisha. Eu não posso fazer isso com a minha família.

- Não pode mesmo Saleh. De jeito nenhum. Você não pode nem pensar nessa hipótese. Temos que assumir os compromissos que a vida nos deu. Por favor, somos apenas amigos. Esqueça os nossos beijos. Esqueça esses pensamentos. Siga o seu caminho que eu tenho que seguir o meu. Por favor Saleh, faça isso por nós e por sua família.

- Eu vou tentar Aisha. Eu juro que vou tentar. Mas, não sei se conseguirei ser feliz de novo. Com você tenho certeza que seria o homem mais feliz do mundo! Diz Saleh, quando lágrimas começam a rolar sobre suas bochechas e os dois se abraçam novamente de forma intensa.

Depois de alguns segundos estando abraçados, Aisha retorna para a sua posição naquele sofá e questiona para Saleh:

- Alguma notícia sobre a busca de informações do meu esposo?

- Não Aisha. Osnin sumiu de forma impressionante. Nos registros governamentais do país ele não aparece. Eles procuraram informações com os militares da região que você morava e não encontraram nada. Eles só conseguiram encontrar algumas informações dispersas de Sônia e alguns dos filhos dele. Mas, ainda são informações não confirmadas. Eu pedi a eles para confirmar, que repasso a você.

- Que bom que eles encontraram informações sobre Sônia. Se eles tem informações dela, certamente conseguirão saber o que aconteceu com Osnin. Ela é uma das esposas dele. Era a que me tratava melhor naquela casa.

- Eu vou pedir a eles para confirmar essas informações e repasso a você o que souber. Tem mais alguém que tinha uma boa relação com Osnin e que poderíamos procurar informações para que você entrasse em contato com ele? Algum amigo da família?

- O melhor amigo de Osnin era Rashid, um homem super legal que morava na nossa cidade. Acho que ele deve ter informações do meu marido. Eu anoto o nome completo dele e te passo. Quem sabe eles não tem alguma informação dele. Com o contato eu posso tentar falar com ele e saber o paradeiro do meu marido.

- Me passe sim Aisha. Eu repasso a eles. Encontrando alguma coisa eu te informo.

- Muito obrigada Saleh! Agradece Aisha demonstrando expectativa naquele momento.

Naqueles dias do final de semana eles saíram pela cidade. Tomaram sorvete, café, jantaram fora e conversaram muito. Eles não se beijaram mais no decorrer daqueles encontros e tratavam um ao outro como amigos.

O que eles não sabiam era que tudo aquilo estava sendo registrado por um detetive. Antes que Saleh retornasse para Londres o seu pai já havia recebido todas as fotos dele, inclusive o beijo que ele deu em Aisha na porta daquele apartamento. Em frente ao prédio de Aisha, havia um prédio comercial, o detetive entrou naquele prédio e conseguiu pegar aquele beijo com suas câmeras.

Ao receber essas imagens no Afeganistão o pai de Saleh ficou irado. Mostrou aquelas fotos para a sua esposa e seu filho mais velho, que era também responsável por manter a honra daquela família intacta perante a sociedade. O pai de Saleh estava decidido, se precisasse mataria Saleh, mas não deixaria que aquele acordo selado com aquela importante família do seu país fosse quebrado.  

Casamento forçado e abusivo IIOnde histórias criam vida. Descubra agora