O fim do ano de 2002

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O dia seguinte amanhece e no café da manhã o clima estava bastante pesado. Loren percebia que aquela viagem que estava programada provavelmente não ocorreria naquele sábado. A sua mãe acordou com um semblante muito fechado e quando ela acordava assim, ninguém tinha muita coragem de dizer nada para ela. Evelyn tinha um temperamento extremamente forte.

Johnson acordou um pouco mais tarde e quando foi cumprimentar a esposa ela saiu de perto, se dirigindo para a sala. Todos entenderam que ele teria um pouco de dificuldade para reverter aquela situação chata que ocorreu naquela confraternização.

Durante aquele dia Johnson tentou se aproximar várias vezes da esposa, querendo conversar com ela, mas Evelyn estava muito chateada e evitava falar com ele. Novamente naquela noite ela entrou para o seu quarto assim que o jantar acabou e dormiu sozinha. Johnson nem quis tentar acessar o quarto naquele dia para tentar convencê-la a dormir com ela. Ele preferiu novamente ir deitar no quarto que anteriormente pertencia a Aisha.

Loren estava triste a conversar com irmã naquela noite antes de dormir:

- Eu não sei mais como vai ser o nosso natal viu minha irmã. Se a mamãe continuar assim, brava do jeito que está, vamos passar aqui mesmo.

- Eu até agora não entendi porque ela ficou tão brava. Não sei se é coisa da minha cultura, mas, um homem tem o direito de conversar com outras mulheres lá e até casar com elas se ele quiser. Afirma Aisha se mostrando confusa.

- Pois aqui não. Isso é inconcebível. A nossa cultura e monogâmica.

- Mono o que? Questiona Aisha sem entender o que a irmã queria dizer.

- Monogâmica. Aqui uma mulher só pode ter um marido e um homem só pode ter uma esposa.

- Isso eu entendi. Eu só não entendi o porque ela ficou tão chateada por ele ter conversado com a primeira namorada. Afirma Aisha confusa.

- Quando um homem se relaciona com outra mulher aqui, chamamos de traição Aisha e as mulheres traídas ficam muito bravas. Por isso a mamãe está assim.

- Mas, ele traiu ela? Questiona Aisha, confusa.

- Não. Ele não fez isso. Mas, o fato de conversar de forma carinhosa com ela, despertou ciúmes na minha mãe.

- Mas, então o problema não está com ele, mas sim com minha mãe? Questiona Aisha sem entender o contexto daquela cultura.

- Acho que vai ser um pouco difícil de você entender por enquanto, porque ainda é nova na nossa cultura. É uma pena que poderemos não encontrar os nossos parentes nesse fim de ano. Estou com tantas saudades dos meus primos. Afirma Loren com um semblante triste, tentando mudar os rumos daquela conversa, por entender que Aisha não conseguia compreender aquele contexto.

- Acho que a nossa mãe pode acalmar um pouco. Quem sabe o nosso pai não consegue convencer ela amanhã.

- Espero que sim. Diz Loren, quando se deita para o lado, se preparando para dormir.

No dia seguinte Evelyn agiu da mesma forma durante o café da manhã. Quando então, Johnson percebeu que teria que usar outras estratégias para tentar amolecer o coração da sua esposa, as filhas. Essa estratégia, normalmente, não costumava falhar.

Ele conversou com Loren e Aisha, pedindo que elas pudessem intervir de alguma forma para tentar acalmar um pouco a esposa. Loren, com muita vontade de viajar, logo topou fazer parte daquele plano, Aisha, com receio, preferiu não dizer nada.

Como primeira ação para tentar amolecer o coração da mãe, Loren começou a demonstrar tristeza em seu semblante e Aisha ficava aos cantos, demonstrando estar preocupada com aquela situação.

Evelyn começou a mudar o seu semblante na tarde daquele dia, quando Loren viu uma oportunidade de conversar com ela:

- Nossa mãe, eu estou com tanta saudade dos meus primos. Afirma ela com um semblante triste.

- Lá vem você não é Loren. Repreende Evelyn.

- É sério. Eu me preparei tanto para essa viagem. Aí chega agora a senhora fica emburrada com o meu pai e nós estamos aqui em casa.

- Você viu o que o seu pai fez?

- Vi sim. Claro que vi.

- Então. Vai falar com ele, porque ele é o culpado de tudo.

- Eu já falei com ele.

- E o que ele disse?

- Disse que se sente culpado. Que a culpa é toda dele. E que ele queria te pedir perdão, mas que a senhora não deixa. Afirma Loren tentando passar credibilidade em sua fala.

Evelyn então fica um tempo a refletir e diz:

- Eu odeio aquela mulher. Aquela mulher me provoca o tempo inteiro naquele hospital. Ela queria o meu marido. Sempre quis. E por ele estar comigo ela insiste em me provocar.

- Eu entendo mãe. Mas, a senhora já demonstrou para o papai que não vai mais aceitar essa ação dele. Que a senhora não suporta ela. Acho que depois do que a senhora fez, ele vai pensar umas 500 vezes antes de ficar com ela a conversar a sós de novo. Diz Loren.

- Jura que pensa assim?

- Claro. Eu se estivesse no lugar dele, pensaria.

- Então acho que já atingi o meu objetivo. Tudo bem. Você me convenceu mocinha. Sempre me convence. Eu vou conversar com o seu pai. Não tem garantia de que vamos viajar, vai depender de como ele vai me convencer. Mas, espero que possamos ir amanhã.

Loren dá um grito de felicidade naquela sala e abraça a mãe, sorrindo, quando Evelyn com um semblante mais aberto, sorri também. Parece que ela havia conseguido conquistar o seu objetivo, que era convencer a sua mãe a dar uma chance para que o seu pai esclarecesse as coisas.

Naquela tarde os dois conversam por algumas horas no quarto daquela casa. Depois eles saem, já no escurecer e afirmam com um semblante mais tranquilo que partiriam para a viagem na manhã do dia seguinte. Loren e Aisha ficam muito felizes que eles tenham se acertado.

No dia seguinte, 24 de dezembro, eles partem logo pela manhã e o clima já estava mais tranquilo naquele carro. Evelyn conversava com Johnson tranquilamente enquanto ele dirigia e Loren escutava música no fone de ouvido, enquanto Aisha ficava a ver a paisagem da Inglaterra, algo que ela adorava.

Ao chegar na casa dos pais de Johnson, a família estava toda feliz por aquele novo reencontro. Os dias passaram e aquela viagem estava sendo muito boa para todos. Aisha já estava mais ambientada a família e se sentia mais à vontade naquela casa. Ela até arriscou um pouco a fazer alguns pratos de sua região para a sua família e foi muito elogiada por saber fazer uma comida tão gostosa.

Ela passou aquela semana na casa de seus avós paternos e na semana seguinte eles retornaram para a capital. Wilian havia combinado de pegá-la para que ela passasse o Revellion daquele ano com a família dele. No dia 31, ele foi até a capital buscar Aisha e a levou para a sua casa em Manchester, onde aquela jovem teve a oportunidade de conhecer toda a sua família.

Aisha era apaixonada por crianças e teve um carinho enorme pelos três filhos de Wilian de 3, 5 e 7 anos. A sua relação com Wilian era de uma ligação impressionante. Aisha se sentia muito bem quando estava com ele. Ela foi muito bem acolhida também pela esposa dele e as duas conversaram bastante durante aquelas duas semanas que ela ficou na cidade.

Wilian ficou muito impressionado com a rápida evolução que Aisha teve desde que chegou a Inglaterra. A aquela altura, ela conversava o inglês fluente e tinha aprendido muito sobre a cultura local depois de estar a pouco mais de um ano naquele país. Além disso, ela se mostrava muito feliz, não tendo mais aqueles reflexos de crises de ansiedade que chegou a ter em alguns momentos de sua vida na Inglaterra.

No dia 13 de janeiro de 2003 ela retornou para casa para continuar os estudos. Ela estava extremamente feliz por ter conhecido a família de Wilian. Aquelas crianças ficaram encantadas com o carinho de Aisha, que brincava com elas em boa parte dos dias. Durante alguns dias, ela até propôs ficar com as crianças para que Wilian e sua esposa pudesse passear um pouco. Já fazia anos que eles não realizavam passeios a sós e aquela proposta de Aisha, possibilitou isso. Foi um final e início de ano muito feliz para todas aquelas pessoas.

Casamento forçado e abusivo IIOnde histórias criam vida. Descubra agora