Sonya conta como foi fuga

213 20 6
                                    

Após alguns minutos a chorar copiosamente ao se lembrar daquela situação e vendo Aisha também se emocionar ao saber dos detalhes daquele momento de sua vida, Sônya parou um pouco e pegou um copo com água para se acalmar. Nesse instante, Aisha sentou no banco em frente a ela e ficou aguardando que tudo acalmasse para ouvir a continuidade daquela história.

Depois de alguns minutos, a segunda esposa de Osnin se recompõe e continua a relatar as suas memórias daquela noite.

Com aquele plano em mente, ele ordenou que eu fosse para o meu quarto e continuasse a arrumar nossas coisas e preparar os nossos filhos para a fuga. As crianças ainda estavam dormindo e o meu olhar era de desespero para eles. Tão inocentes e tendo que passar por toda aquela situação que ninguém sabia onde iria terminar.

- Assim que preparei tudo, quis ir logo em direção ao quarto em que você estava Aisha, para observar as suas reações e rezar ao seu lado para que tivesse condições de suportar e voltar a ter consciência. Só assim, em minha mente, pensei que poderia sobreviver depois da nossa partida. Afirmou Sonya quando novas lágrimas desceram dos seus olhos.

Eu chorava muito antes da partida. Parecia que quanto mais se aproximava da hora marcada por Osnin, mais o meu coração apertava. Era uma sensação de impotência saber que não poderia cuidar de você e nem fazer nada para que a sua vida fosse salva. Eu olhava para aquele seu rosto de menina, tão delicado e belo e ficava impressionada como alguém teve coragem de te maltratar tanto durante aquele curto espaço de tempo. Pior do que isso, como eu ajudei na estratégia de minha sogra e de Parisa nos primeiros meses para que Osnin te odiasse daquela forma.

- Perdão Aisha. Perdão por tudo que fiz para que Osnin te maltratasse como ele fez. Eu juro que no meio de minhas ações eu me arrependi de tudo que fiz e só queria cuidar de você! Eu só queria que tudo ficasse bem, quando vi que estava errado colocar o nosso esposo contra alguém tão pura e indefesa. Diz Sônya a chorar intensamente se ajoelhando aos pés de Aisha, lhe pedindo perdão.

Aisha segura as suas mãos, a levante e pede para que ela se sente, quando diz:

- Você não tem culpa de nada Sônya. Era tão inexperiente como eu e usaram a sua inocência como a minha. Hoje consigo fazer uma leitura do que aconteceu naquela casa quando fui casada. Eu fiquei por muitos anos a raciocinar o que eu fiz de errado. No que o contexto me prejudicou. Conversei muito com a minha analista sobre tudo. Hoje entendo que todas nós éramos subjugadas e, de alguma forma, está na nossa cultura uma certa vontade de fragmentar a relação de nós mulheres para que consigam nos controlar com maior facilidade. E tenho certeza que era isso que acontecia naquela casa. Graças as ações de Marian, nós mulheres não nos uníamos e éramos subjugadas e violentadas pelo nosso esposo, sem nenhuma piedade em alguns casos.

Sônya se assusta um pouco após a fala de Aisha, pois ela nunca tinha pensado dessa forma. Então, mais confiante e reflexiva, ela questiona:

- Então você me perdoa?

- Como não poderia perdoar aquela que fez tanto por mim enquanto estive casada. Você me deu muito apoio Sônya, especialmente, nos momentos em que Osnin estava mais violento. Se não fosse a sua ajuda, hoje tenho certeza que não estaria mais aqui.

- Eu fico feliz em ter ajudado Aisha e, em alguma medida, diminuído um pouco o mal que lhe causei nos primeiros meses em que viveu naquela casa. Perdoe, mas, o ciúme e o medo de perder a atenção do meu marido, foram mais fortes e te ataquei com todas as minhas forças. Até que percebi que estava errada. Mas, muito estrago já estava feito.

- Vamos lembrar apenas dos momentos bons juntas. Dos momentos em que me ajudou a fugir de mais punições de Osnin. Do momento em que queria salvar a minha vida. Vamos superar os momentos ruins e lembrar das coisas boas quanto a nossa relação. Eu quero saber o que aconteceu depois. Eu quero saber da minha história. Quero entender, para poder superar de vez tudo isso.

Casamento forçado e abusivo IIOnde histórias criam vida. Descubra agora