O sábado amanhece e Aisha acorda bem cedo, ansiosa para a viagem que ocorreria na tarde daquele dia rumo a Turquia. Ela desce com as malas por volta das 9 horas da manhã e pega um táxi rumo a rodoviária. Daquele local ela pegaria um ônibus que iria até Londres. Ela almoçaria com os seus pais em sua antiga casa e por volta das 15 horas pegaria o voo para a Turquia, chegando em Istambul por volta das 23 horas no horário local.
Naquela manhã, enquanto se dirigia para a rodoviária, ela se sentia ansiosa, mas, decidida a voltar ao seu país. No caminho para Londres, vieram vários flashes do seu passado em sua mente. A violência de Osnin era um dos pontos mais presentes em sua memória. De certa, forma, por um lado, Aisha ficava triste pelo que aconteceu com ele, mas, por outro, ao rememorar os momentos ruins que teve ao lado de seu esposo, sentia um certo alívio.
Quando chegou em um dos pontos de parada daquele ônibus mais próximo de sua casa, ela desceu e pegou um táxi até o prédio de seus pais. Ao entrar no apartamento, recebeu logo um abraço apertado de Evelyn que estava com um semblante preocupado. Imediatamente aquela senhora questionou:
- Tem certeza de que sabe o que está a fazer minha filha?
- Certeza nós nunca temos minha mãe. O destino é algo incontrolável. O que tenho é convicção de que esse é o momento de eu retornar ao meu passado para conseguir superá-lo. E estou muito confiante de que vou conseguir me libertar de tudo o que passei e dos traumas que ainda persistem quando chegar ao local em que eles foram criados. Eu preciso passar por isso.
- Se você diz isso minha filha. Não temos outra escolha a não ser te apoiar e torcer para que dê tudo certo. Afirma Evelyn já com um semblante mais aberto se dirigindo para a cozinha, no intuito de continuar os preparativos para o almoço.
Johnson aparece em seguida e abraça a filha, quando questiona:
- Está tudo bem minha filha? Como foi de viagem?
- Muito bem meu pai. A viagem foi muito tranquila. Espero que a próxima de avião também seja.
- Será minha filha. Você terá uma viagem tranquila até a Turquia e espero que tenha também até a sua terra natal. Mesmo com esses pensamentos eu não vejo a hora de te ver aqui na Inglaterra novamente.
- De novo com essa história pai. Eu estarei segura. Pode ficar tranquilo. Nada de mal vai me acontecer.
- Eu estou torcendo muito para isso minha filha. Mas, me conte um pouco do seu planejamento para a viagem.
- Eu pretendo passar dois dias em Istambul para conversar um pouco com Rashid pai. Ele foi um homem que me ajudou muito naquelas discussões do Conselho Religioso. Eu fiquei sabendo que eles queriam me condenar por algumas vezes e ele intercedeu sempre em meu favor, mudando o entendimento dos conselheiros. Eles poderiam ter me condenado a morte por algumas atitudes que tomei. Rashid também salvou a minha vida a exemplo do que o senhor e Wilian fizeram. Por isso quero agradecê-lo por tudo pessoalmente.
- Muito bonita a sua proposta minha filha. Uma das coisas que mais me encanta em você é o reconhecimento que tem pelo que as pessoas fazem para te ajudar. E depois, pretende ir para onde? Ainda continua com o mesmo plano que me contou?
- Sim pai. Está tudo de pé. De lá eu vou para Mazar e Sharif. Nessa cidade tem uma central daquela empresa de segurança que contratei e eles me levarão até a minha cidade natal para visitar o meu pai biológico, que pelas informações que tenho, não está bem de saúde.
- Tem certeza que é seguro ir para essa área mais tribal do norte do país minha filha? Pelo que sei, lá é uma terra em disputa e os conflitos com os talibãs estão muito intensos.
- Um dos meus principais objetivos em ir para a minha terra natal é visitar o meu pai. Um amigo meu de lá me disse que foi visitá-lo e tudo foi muito tranquilo no trajeto, que não tenho o que temer.
- Loren me falou sobre esse seu amigo. Acho que ele tem interesse direto em te ver no Afeganistão. Não acha que ele possa estar falando isso para que você se sinta mais segura e decida ir?
- Loren sempre entrando no meio das coisas não é pai! Afirma Aisha com um semblante irritado.
- Ela faz isso para te proteger Aisha. Eu fiquei muito triste quando ela me disse que vocês brigaram e você não conversou mais com ela. Eu não esperava isso de vocês duas. A relação de vocês sempre foi de irmandade. Tão linda! O que está acontecendo?
- Ela que saiu do quarto por último e não quis falar comigo. Eu também não corri atrás. Loren tem intrometido muito em minha vida e minhas escolhas. E eu já sou adulta, tenho condições de tomar a minhas próprias decisões.
- Eu entendo a sua necessidade de tomar as próprias decisões minha filha. Mas, a gente fica preocupado. Queria que você entendesse ela também. Vocês não podem ficar assim brigadas.
- Me desculpe pai. Eu vou tentar falar com Loren antes de ir para o Afeganistão. Eu não sei se ela vai querer falar comigo, porque eu realmente fui grossa com ela naquele dia que estive aqui, mas, prometo tentar.
- É melhor assim minha filha. Nossa família sempre foi tão unida. Não gostaria de ver vocês duas brigadas.
- Eu sei pai. Prometo mudar tudo isso.
- Depois que você visitar a sua cidade natal qual é o planejamento?
- Eu vou procurar as esposas do meu antigo marido pai. Eu quero ver se elas precisam de alguma ajuda. Eu me sinto na obrigação de ajudá-las. No meu país, mulheres solteiras passam por muitas dificuldades, inclusive financeiras. Então vou procurá-las e se puder ajudá-las de alguma forma, farei isso.
- Muito nobre o seu pensamento minha filha. Faça mesmo isso. E depois?
- Por fim, eu quero encontrar esse meu amigo de infância, que há muitos anos não vejo.
- Seus olhos chegam a brilhar quando você fala desse menino. Espero que ele seja uma pessoa boa.
- Eu vou me abrir para o senhor meu pai. Ele foi o meu primeiro amor e estamos namorando há algum tempo depois que reencontrei. Eu quero me casar com ele. Vou tentar facilitar a vinda dele para a Inglaterra para que possamos nos casar em breve.
- Fico feliz que esteja a gostar desse rapaz minha filha. Aproveite para conhecê-lo e se for mesmo um bom homem, eu prometo lhe ajudar em tudo que puder para que ele venha morar aqui na Inglaterra.
- Eu agradeço muito pelo apoio de sempre pai. Depois dessa visita a ele por duas semanas na capital eu retorno para cá. Ficarei aqui no domingo com vocês e retorno na segunda para trabalhar em Oxford.
- Esse será o momento mais esperado por mim. Não deixe de me ligar todos os dias. Eu quero saber se está tudo bem. Fique próximo do segurança o tempo todo e escute as recomendações dele.
- Pode deixar pai, que farei isso. Vou me cuidar o tempo todo. Vai ficar tudo bem.
Aisha almoçou com os seus pais e antes de pegar o carro para ir ao aeroporto, tentou ligar por duas vezes para Loren, mas, ela ocupada não viu as chamadas e as duas não conseguiram se falar naquele dia. Então, às 13:00 horas, ela se despediu dos seus pais e foi para a sala de embarque, aguardar a hora de entrar no avião e se dirigir para a Turquia.
Aquela despedida foi de abraços intensos a sua mãe e seu pai e a promessa de que voltaria em breve e que ficaria tudo bem. Johnson e Evelyn, mesmo muito preocupados, ficam contentes que a filha estava de alguma forma crescendo, no sentido de enfrentar os seus problemas do passado de forma autônoma e corajosa, com o intuito de poder viabilizar um futuro mais livre de traumas.
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Casamento forçado e abusivo II
General FictionApós passar por muitos percalços em sua história, Aisha consegue finalmente se livrar do seu casamento e tenta construir uma nova vida. Entretanto, os fantasmas do passado a assombram constantemente e ela tem dificuldades de superar os seus diversos...