A conversa com Alexsander

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No horário combinado, Aisha chegou de carro em frente ao endereço que Alexsander havia passado para ela, correspondente a empresa que ele trabalhava. Estava começando a escurecer no Afeganistão quando ela ficou na frente daquele endereço a esperá-lo.

Assim que aquele jovem saiu do trabalho, ele avistou Aisha e foi caminhando em direção a ela. Ao chegar em sua frente, ele a abraçou e perguntou sorrindo se estava tudo bem:

- Está tudo muito bem Alexsander e com você? Está muito cansado?

- Um pouco. Mas, já estou acostumado com o trabalho. Já tem alguns anos que trabalho aqui, então, esse cansaço pra mim é normal.

- Vamos comer algumas coisa no centro da cidade e conversar um pouco? Depois eu te levo em casa.

- Claro Aisha. Podemos ir. Diz Alexsander, enquanto os dois caminhavam em direção ao carro que os aguardava, com o guarda-costas dentro, atento a qualquer movimento de pessoas próximas de sua protegida e pronto para agir em caso de necessidade.

Os dois entraram na parte de trás do carro e percorreram aquelas ruas enquanto conversaram sobre assuntos aleatórios do dia a dia daquela sociedade.

Assim que aquele carro parou em frente ao restaurante que Aisha queria levar o seu enteado, eles desceram, entraram naquele estabelecimento e se sentaram. Pediram um salgado típico da região e um suco natural para ambos.

Então, Aisha entrou no assunto que tanto queria conversar com Alexsander:

- Bem Alexsander, eu queria saber o que refletiu com relação ao que aconteceu com o seu pai naquela prisão nesses últimos dias? Por favor, seja sincero comigo. Eu estou aqui para te ajudar.

Por um momento, aquele jovem ficou quieto, sem saber muito bem o que dizer. Mas, logo em seguida começou a falar:

- Não é nada bom sabermos que o nosso pai foi preso, torturado de forma muito cruel e morto Aisha. Acho que você pode me entender quanto a essa questão.

- Em certa medida eu te entendo Alexsander. Afinal de contas, o seu pai era meu marido. E posso te afirmar que me senti muito mal ao saber tudo que aconteceu com ele no final de sua vida.

- Com todo o respeito Aisha, mas, acho que a sua situação é diferente da minha. O meu pai tinha o meu sangue. Ele me amava com todas as forças. Me protegia. Me dava o de comer. Depois da morte dele, diferentemente da sua vida, a minha virou um verdadeiro tormento. Afirma Alexsander de forma direta.

Aisha se assustou um pouco após essa fala daquele jovem. Ela ainda não havia pensado por essa perspectiva. Sem saber o que dizer, ela aguardou um pouco para ver se Alexsander diria algo mais e um silêncio ficou naquele espaço por algum tempo. Quando Aisha então disse:

- Você tem razão Alexsander. Eu não tinha pensado por essa perspectiva. Boa parte do sofrimento que você teve, provavelmente, não teria ocorrido se estivesse a viver com o seu pai e essa guerra não tivesse ocorrido.

- Eu tenho certeza que não Aisha. Essa maldita guerra criada pelos americanos e apoiada pela pior parte do Afeganistão, tirou o meu pai, a minha mãe e o meu irmão mais novo de mim. Como não ter ódio desse povo que está no comando do nosso país depois de tudo isso. Como não querer vingança Aisha! Me diga, por favor! Afirmou Alexsander, já exaltado, quase a gritar, começando a chorar de forma desesperada.

Tentando acalmar aquele jovem, Aisha se levantou e foi até ele lhe dar um abraço. E disse:

- Infelizmente eu não tenho muito o que dizer para te confortar Alexsander. Não vou ser hipócrita de dizer que sei o que você sentiu depois de tantas perdas e o que está a sentir agora. Só você sabe da sua dor, depois de perder tantas pessoas queridas. O que eu posso te dizer é que procurar vingança só vai trazer mais violência e sofrimento para você, para a sua família e para outras pessoas e não acho isso algo bom. Afirma Aisha também demonstrando emoção.

Casamento forçado e abusivo IIOnde histórias criam vida. Descubra agora