Capítulo 44

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Anahí: Oi. – Começou, a voz rouca – Uma louca, uma mulher completamente ensandecida invadindo o palco... – Riu – Isso é deprimente, eu sei. Ou seria engraçado se eu estivesse bêbada e começasse a falar um monte de bobagens. Quer dizer, eu já estou falando um monte de bobagens. Bom, de qualquer forma, juro que não estaria aqui em cima se o que eu tivesse para dizer não fosse importante. Chega de bobagens. – Alfonso arregalou os olhos, aturdido. O burburinho no bar cessou e todos, sem exceção, olhavam atônitos para Anahí. – É o seguinte, eu estou apaixonada. – Ela respirou fundo. Nunca imaginou que faria algo assim. Era, no mínimo, constrangedor, algo que beirava a decadência, mas se era a maneira que ela tinha de fazê-lo escutar, ela o faria. Anahí não era uma pessoa que se deixava intimidar, e não seriam todos aqueles olhares que a fariam desistir e descer dali – E eu sei que ninguém aqui tem nada a ver com isso, mas acontece que eu já fiz tanta coisa idiota na vida que subir aqui nesse palco não é nada. E foi por causa de todas essas coisas idiotas que eu perdi o cara que eu... – Ela pigarreou – Que eu... Amo. – Alfonso tensionou na cadeira, o coração irritantemente acelerado – E hoje ele está aqui e, com razão, não quer me ouvir. – Ouviu-se suspiros, comovidos, vindos de algumas mulheres no bar. – Mas eu preciso dizer o que está preso aqui dentro, então me desculpem se a única maneira que eu encontrei foi subir aqui e atrapalhar a noite de todo mundo.

– Não tá atrapalhando não. Continua. – O vocalista, solidário, incentivou. Anahí sorriu, aproveitando para respirar fundo mais uma vez.

Anahí: Poncho, eu fui uma grande idiota, e eu poderia te pedir que entendesse que tudo o que fiz foi pensando que era o melhor pra você. Tudo o que eu faço é pensando no melhor pra você. – Ele meneou levemente a cabeça, negando, incrédulo – Mas eu sei que você não vai entender. Quem entenderia, não é? – Ela cerrou os lábios, a maldita vontade de chorar estava ali. Quando foi que ela se tornara tão frágil? – Eu menti pra você. Menti para te afastar, porque tinha a certeza de que você estaria melhor sem mim. Isso porque eu não era e não sou nada daquilo que você pensava. Eu não sou perfeita, não sou íntegra, eu não... – Ela parou. Uma lágrima escorreu de seu olho. – Eu sou um poço de problemas, de medos e de confusão. – Disse baixo. As duas mãos, trêmulas, seguravam o microfone. Como ela queria poder contar toda a verdade – Mas apesar de tudo isso, eu amo você. – Anahí o encarou. Com a expressão menos severa, ele a olhava, os olhos levemente mareados e um tanto confusos. – Você não precisa entender, mas acredite em mim quando eu digo que você é a pessoa mais importante da minha vida. – Sua voz falhou e, ainda olhando-o, ela continuou – E eu quero que você saiba que "eu vou segurar você acima de todos" – Mais duas lágrimas caíram, quando ela começou a citar o pequeno trecho daquela música – E "eu acho que você seria bom pra mim, e eu seria boa pra você". – Concluiu baixinho, devolvendo o microfone para o vocalista. Talvez tivesse ido longe demais.

Um tanto atônita ela viu os olhares compassivos das pessoas para ela, e fixou-se no olhar dele, longe de expressar compaixão, eles transbordavam uma confusão sem tamanho. Alfonso estava torturado. Resumidamente, sem rumo. Foi por isso que ele virou as costas e saiu do bar, deixando-a, com um buraco no peito, em cima do palco.

Anahí: Obrigada. – Ela agradeceu, quase sem voz, à banda, para depois descer do palco.

Ela não iria atrás dele. Agora, precisava esfriar a cabeça e pensar.


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