Capítulo 101

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Antes das quatro da manhã Alfonso já estava de pé, encostado na bancada de pinheiro que dividia sala e cozinha enquanto esperava o café ficar pronto. As luzes ainda estavam apagadas e as cortinas fechadas.
Contemplando o silêncio, ele olhava fixamente para a luz vermelha que brilhava na cafeteira. Sua cabeça, no entanto, estava muito longe. Passado o êxtase da noite anterior, Alfonso se torturava. O orgulho pode ser mesmo um sentimento doentio.
Caramba. Aquela noite não deveria ter acontecido. Ele não podia simplesmente apagar todas as mentiras de Anahí. Ela o usara fria e impiedosamente, ganhara a sua confiança para depois rompê-la da maneira mais vil que podia imaginar. Certas palavras ditas ainda martelavam em sua cabeça repetidamente. 

"Anahí: Eu sou muito pior, Alfonso. Você não me conhece, nunca conheceu."

De fato nunca conhecera?
Imaginou quantas vezes ela devia ter rido às costas dele. Será que comentava com seus comparsas cada nova conquista? A primeira vez, o primeiro "eu te amo"... Ele nem sequer sabia se o que o incomodava mais era a decepção ou a raiva por ter sido feito de palhaço. Ou melhor, o que mais o incomodava era que ele tinha a plena consciência de que ainda assim a amava e era suscetível a ela, e a grande prova fora a noite passada. 

Megan: Poncho? – Ele virou o rosto. Megan atravessava a sala e caminhava até ele. – Acordou cedo. Eu ia fazer o café pra você e te chamar, mas pelo visto você foi mais rápido. – Sorriu – Dormiu bem?

Alfonso: É, dormi.

Megan: Continua inteiro depois de dormir naquela poltrona? – Ele riu, assentindo. – E aí? Ansioso para voltar a trabalhar? – Disse, encostando-se ao lado dele na bancada. Ele cruzou os braços.

Alfonso: Não. Estaria se tivesse sido colocado de volta no caso Damián.

Megan: Foi uma pena terem te tirado do caso...

Alfonso: Se eu fosse o Michael faria a mesma coisa, Meg. Estava envolvido demais.

Megan: Estava? Poncho, desculpa, mas você está envolvido. Agora muito mais do que antes. 

Alfonso: É, eu sei. – Encarou-a – Acha que agi errado?

Megan: Você fez o que achou que devia fazer, Poncho. – Colocou-se de frente para ele – E eu admiro muito você por isso. – Completou, levando uma das mãos até o rosto dele.

Alfonso: Obrigado.

Megan: Mas, olha, por melhores que sejam as suas intenções, quando ela ficar boa, você vai precisar se desligar disso. Assim que ela partir, vire a página, finja que nada aconteceu. – Alfonso apertou os lábios. A ideia de que Anahí partisse não parecia tão boa agora, na verdade, nunca parecera – Sabe, eu tenho medo que descubram o que você fez. Você perderia o seu emprego, Alfonso, capaz de até ser preso...

Alfonso: Isso não vai acontecer, Meg. Vou tomar cuidado. Relaxa. – Forçou um sorriso. – Não vou poder aparecer aqui durante a semana, você sabe.

Megan: Sei sim. Consegue voltar no final de semana?

Alfonso: Ainda não sei. Se não conseguir vir até aqui peço para que a Maite venha. – Ela assentiu, os dedos deslizando pelo rosto dele.

Megan: Não será a mesma coisa. – Ele ficou calado – Vai ser um pouco estranho ficar tanto tempo sozinha aqui com a Anahí. 

Alfonso desencostou da bancada, desvencilhando-se de Megan e caminhando até a cafeteira, alocada sobre a bancada de mármore da pia. 

Alfonso: Eu compreendo, mas você sabia que seria assim.

Megan: Eu sei. – Rebateu – E não estou reclamando. Só estou dizendo que será estranho. Sabe, ela não gosta muito de mim. – Alfonso meneou levemente a cabeça, seus lábios se repuxaram num leve sorriso.

Alfonso: Nem você dela. Não é?

Megan: Quem disse isso? Não é verdade. – Ele arqueou as sobrancelhas, voltando a olhar para ela. – . Tudo bem, eu não gosto muito dela mesmo. Mas tenho fortes motivos para isso. Poxa, Poncho, como quer que eu goste de alguém que te magoou tanto? – Balançou as mãos. Fingindo muito bem uma indignação que não tinha. – Quando você me procurou para que eu te ajudasse e me contou tudo o que aconteceu, eu fiquei perplexa. Só topei ajudar porque faria qualquer coisa por você. 

Doce Megan. Quando Alfonso contou o que acontecera, bem como os seus planos para a fuga de Anahí, Megan viu ali uma ótima oportunidade para se aproximar dele. Alfonso estava nitidamente magoado, enfurecido até. 

Depois de tudo o que acontecera, Meg não via chances dele reatar com Anahí, então aquela seria a oportunidade perfeita para que ela se fizesse mais presente. Seriam cúmplices, amigos e quem sabe ela conseguisse que fossem mais que isso.

Alfonso: Eu sei, Meg. Mais uma vez, obrigado. Você tem sido uma grande amiga.

Megan: Sou sua companheira, Poncho. Aquela que vai estar do seu lado sempre. 

Ela caminhou até ele, tirando a jarra de café de sua mão e colocando-a sobre a pia. Suas mãos alcançaram o rosto dele, os polegares contornando-lhe os lábios. Alfonso a encarava sério, mas não oferecia qualquer tipo de resistência. Então ela avançou, grudando seu corpo ao dele e aproximando seus lábios. 

Alfonso: Meg, não, okay? – Murmurou, a boca dela a milímetros da sua. 

Megan: Por que não? – Perguntou, sentindo as mãos de Alfonso segurarem seus ombros, afastando-a lentamente.

Alfonso: Não é o momento. Você é uma boa amiga, não quero perdê-la por bobagem. – Ela suspirou, consternada.

Megan: Tudo bem. – Disse, lutando para esconder a irritação que sentia – Me desculpe, Poncho. – Ele arqueou os lábios num sorriso, depois depositou um leve beijo na bochecha dela. 

Alfonso: Me acompanha no café? 

Megan: Claro. – Respondeu com um sorriso, pegando duas xícaras.    

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