Capítulo 67

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Era impossível que aquela sala estivesse tão fria. Enrolada na coberta que Ian trouxera, Anahí tremia encolhida na cama. Aliás, graças a Ian, naquele dia, ela se alimentou. Mas então veio a noite, e com ela Christopher, que depois de mais uma série de perguntas, a espancou. E a cada soco, diferente de querer revelar alguma coisa, Anahí se convencia a não dizer nada. Agora era pessoal. Ela não daria o gosto da vitória a Uckermann, não depois de todo o nojo e a raiva que passara a sentir dele.

Mas ali, deitada depois de tanta dor, sua mente buscava refúgio num sonho bom.

Em um campo repleto de lírios brancos, Anahí sentia o sol aquecer a sua pele. Em paz, ela sorria e caminhava pela grama verde. Olhando para o horizonte, ela o viu. Todo de branco, com um sorriso aberto no rosto. Os braços cruzados foram abertos para recebê-la.

Anahí: Poncho... – Sussurrou, correndo para ele. Deus, Alfonso estava tão lindo.

Mas antes que pudesse alcançá-lo, o chão cedeu sob seus pés, e ela foi engolida por um imenso buraco. A terra se fechava sobre sua cabeça e lá só havia escuridão. Risadas altas ecoavam na sua mente, e de repente o frio se fez insuportável. Anahí tentou gritar, mas sua voz se negava a sair. As lágrimas que escorreram de seus olhos alcançaram a sua boca. Tinha gosto de sangue.

Anahí: Ajuda. – Suplicou num murmúrio. Sentia seu coração bater cada vez mais rápido, seus ossos pareciam estar quebrando. Aquele buraco parecia não ter fim.

Mais alguns segundos agonizantes e, com um baque, ela atingiu o chão. Os olhos de Anahí se abriram, assustados. E enfim ela visualizou o teto da cela onde estava presa. Apesar de toda a agonia, ela teria preferido continuar sonhando. O seu coração ainda estava acelerado, seus ossos ainda pareciam quebrados, o gosto de sangue ainda estava na boca e o frio... O frio ainda era insuportável. 

Ela tentou sentar, sem sucesso. Mas então uma forte pontada em seu ventre a fez contorcer-se de dor. Abraçando os joelhos, Any se encolheu na cama, tremendo, sofrendo. Ela apertou os olhos, deixando as lágrimas escorrerem por seu rosto. E foi quando voltou a abri-los que ela o viu. Agora era real, ele estava ali, parado à porta, os braços cruzados e o cenho franzido.

Alfonso a observava há vários minutos. A vira dormir, chamar seu nome baixinho, e acordar tomada pela dor. No entanto, ele não movera sequer um músculo.

O pequeno cômodo, iluminado apenas pelo fraco feixe de luz que vinha do corredor, não permitia que ele a visse com precisão, mas ainda assim ele podia visualizar seus olhos molhados, sem expressar qualquer vida. Até mesmo o azul daquela mirada parecia menos intenso.

Anahí não disse nada, ele tampouco. E em vez de se aproximar dela, Alfonso saiu da cela, batendo a porta. As lágrimas que já eram correntes no rosto dela se intensificaram. Para piorar, as pontadas não passavam, e agora ela começava a suar frio.

A dor a obrigou a cerrar os olhos outra vez, os dedos estavam emaranhados na roupa, na altura da barriga. A camiseta branca, manchada de sangue estava abarrotada.

Anahí: Então é assim a morte? – Perguntou a si mesma, a voz custando a sair.

– Você não vai morrer. – A voz grave, baixa e dura vinda da porta a fez abrir os olhos.

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