Capítulo 155

1.8K 110 62
                                    

Sugiro que segurem um pouquinho e liguem a música mais pra frente.

-

Último sábado do mês.
Sentada sobre o extenso gramado, Anahí mantinha os olhos fechados. Com um leve sorriso no rosto, tamborilava a caneta sobre o caderno que tinha no colo. Tranquilidade. Era isso que aquele lugar lhe proporcionava.

Anahí: Ah, Paul... Você deve estar gostando de ver isso, não? – Comentou simples. Então voltou a abrir os olhos, encarando a lápide do amigo.

Como todo último sábado do mês, lá estava ela, no Green-Wood Cemetery, o caderno em mãos, escrevendo. Gostava de ir ali não apenas para levar flores ao amigo, mas para ficar só, distante do mundo. Ali sentia-se em contato consigo mesma e agora gostava daquela sensação. Vivia finalmente em paz com tudo o que era e com o que fora.

Anahí passou a manhã inteira naquele cemitério, depois foi almoçar com Christian num restaurante no centro de Manhattan.

Anahí: Bom dia. – Abraçou-o quando o encontrou sentado à mesa ao lado da extensa janela. Depois de tantas provações, Anahí e Christian haviam formado, afinal, um bonito e forte laço de amizade. Mesmo depois de tudo, mesmo agora com suas vidas reconstruídas e tomando rumos diferentes, eles sabiam que podiam contar um com o outro independente de qualquer coisa.

Christian: Estou faminto! – Disse.

Anahí: Demorei um pouco, né? Desculpe, me distraí e perdi a hora.

Christian: Onde estava?

Anahí: No cemitério.

Christian: Ah, é... Último sábado do mês.

Anahí: Uhum.

Christian: Teve alguma resposta da Sarah? – Perguntou enquanto foleava o cardápio.

Anahí: Ainda não. Fico me perguntando se ela já leu e não gostou ou se ainda nem pegou no original.

Christian: Bem, acho que se ela já tivesse lido, teria falado com você. – Opinou – O que vai querer comer?

Anahí: Hum... – Torceu os lábios, olhando para o menu – Acho que essa salada de frango.

Christian: Bom, eu vou de picanha aos quatro queijos. Recebi uma proposta no meu emprego, mas não sei se devo aceitar. – Contou, mudando de assunto.

Anahí: E qual foi a proposta?

Christian: Querem me mandar para uma filial em Seattle. Como gerente geral.

Anahí: E por que está em dúvida? Parece ótimo.

Christian: Não quero ir embora de Nova Iorque. Eu amo essa cidade!

Anahí: Mas talvez você possa amar Seattle também.

Christian: Ai, Any, desse jeito até parece que você quer se ver livre de mim! – Reclamou divertido.

Anahí: Bobo! Eu só quero que você se realize na sua vida.Você parece estar gostando desse trabalho, e essa é a sua chance de crescer
dentro daquela empresa.

Christian: Eu não sei. Me parece assustador.

Anahí: Christian Chávez com medo de mudança? Quem diria! Tem até quando para dar a resposta?

Christian: Tenho uma semana. Caso não queira, mantenho o meu cargo aqui mesmo.

Anahí: Bom, Chris, eu acho que você deve arriscar, mesmo que eu vá sentir uma falta enorme de você.

Christian: Provavelmente eu vou sentir mais falta da cidade do que de você. – Brincou. Anahí riu, mas a risada foi morrendo aos poucos. Seus olhos adquiriram um tom distante, parecia não estar ali. – Any? O que foi?

-

Agora sim. Hora de ligar a música
🎶 Durban Skies - Bastille

-

Ela não respondeu, então ele acompanhou o olhar dela e fixou-se no que prendera a sua atenção.
Agora ambos observavam, através do vidro, a cena do outro lado da rua. Anahí não sabia dizer o que estava sentindo naquele momento, mas era algo muito próximo da comoção.

Saindo de um armazém, a poucos metros dos dois, Alfonso sorria, brincando com o garotinho que trazia no colo.

Alfonso. Aquele Alfonso. Logo ali.

Como se todo o resto perdesse o foco, ela conseguia apenas enxergar a ele e àquela criança. Tão cheios de vida, tão plenos. Sentiu então uma pequena lágrima escorrer, traçando uma fina linha molhada em sua bochecha.

Christian: Any?

Por um momento ela olhou para Christian, indicando que o ouvia.

Christian: É ele, não é?

Anahí: É sim. – Respondeu, agora sem fita-lo. Os olhos presos em Poncho outra vez. No sorriso que ele trazia nos lábios.

Christian: Você está bem?

Anahí: Estou. – E mais uma lágrima escorreu – Não estou chorando de tristeza.

Christian: Por que está chorando então

Anahí: Acho que é emoção. Estou emocionada em vê-lo, Chris.

Christian ia perguntar se ela gostaria de falar com Alfonso, mas o celular de Anahí interrompeu-os.

Anahí: É a Sarah. – Disse, pegando o aparelho. – Oi, Sarah. – Atendeu, os olhos voltados outra vez para Poncho, que agora conversava com um senhor. Logo ela identificou-o também, era o pai dele.

Sarah: Terminei de ler. – Any suspirou.

Anahí: E então?

Sarah: Estou sem palavras, Anahí.

Anahí: Isso quer dizer que...

Sarah: Que eu vou publicar o seu romance. – Assegurou – Mas eu preciso dizer que fiquei muito intrigada com o final. Depois de tudo o que os protagonistas passaram, eu pensei que eles fossem ficar juntos! Mas não. Eles não ficam. Anahí, o que foi esse final?

Anahí: Ah, o final... – Anahí suspirou outra vez, sorrindo com a boca e com os olhos. Olhos esses que ainda estavam em Alfonso – É apenas o final, Sarah. – Disse, observando Poncho dar um beijo demorado na bochecha do garotinho em seu colo – Costumamos tratar o final com demasiada importância. Mas a verdade é que você não pode esperar o final. Pensamos que ele é o grande momento, mas o que existe na verdade é uma sequência de momentos, e precisamos apenas viver e desfrutar de todos esses momentos. – Poncho agora alcançava um carrinho vermelho que estava nas mãos do seu pai e entregava ao menino. Devia ter pouco mais de dois anos – A vida, afinal, não se trata de alcançar o melhor final. O mais bonito. Às vezes você nem vai ficar com o cara. – Riu, enquanto Alfonso e a criança riam também – Mas o que importa, afinal, é tudo o que aconteceu no meio. Ah, o meio... – Pouco antes de Poncho entrar no carro com o pequeno, Anahí teve a impressão de que ele a vira – Não é no final que a vida acontece, Sarah. É no meio.

E, enquanto desligava o telefone, o carro partiu.

- Fim -

Let Me GoOnde histórias criam vida. Descubra agora