Era domingo à noite, o cenário na casa em Framingham era o seguinte: Megan assistindo televisão na sala, Andrew, que ainda não havia voltado para a sua casa, estava na cozinha preparando algo para o jantar e Anahí estava no quarto, deitada, deixando que sua mente voasse para longe.
E agora, com os olhos estreitos, ela tentava puxar do fundo da memória o rosto de sua mãe. Nunca se permitira pensar muito em seus pais, porque pensar neles poderia acender um sentimento que antes de Alfonso ela ignorara e bloqueara de todas as formas, a dor. Mas agora era diferente, com esforço ela tentava se lembrar dos traços de Marichelo e do sorriso acolhedor de Enrique. Era tão difícil. Os perdera tão cedo que quase não conseguia formar a imagem das feições de seus pais. O incêndio que destruíra tudo não lhe permitira ficar sequer com uma foto. Nada, nenhuma recordação.
Talvez tudo o que ela precisasse agora fosse um abraço apertado de sua mãe, e a voz suave e ao mesmo tempo tão segura de seu pai dizendo que as coisas ficariam bem. Seria tão bom se eles estivessem vivos. Pelo menos ela teria para quem voltar quando passassem aquelas semanas e ela estivesse recuperada.
Anahí não fazia ideia do que faria depois que estivesse em perfeito estado. Alfonso fora claro, o plano era que ela ficasse ali apenas enquanto estivesse se recuperando, depois deveria partir. Mas partir para onde? Ela não queria voltar à vida que levava antes de conhecer Herrera. Na verdade, ela só queria uma chance de recomeçar.
Andrew: Anahí? Hey?
Ainda que ouvisse a voz distante, ela não abriu os olhos. Sem que percebesse, pegara no sono. Sentia-se tão cansada que parecia quase impossível acordar.
Andrew: O jantar está pronto, quer que eu traga aqui pra você?
Anahí: Hm? – Resmungou, sonolenta.
Andrew: A janta. Você precisa comer. Sabe, se Alfonso imaginar que você não se alimentou exatamente como deveria nesses dois dias, vai me matar.
Anahí: Deveria matar a Megan, não é ela quem deveria cuidar de mim? – Murmurou, abrindo os olhos.
Andrew: É. – Riu – Deveria. Mas ele me pediu que ficasse aqui esse final de semana. Amanhã preciso ir trabalhar e então volto para casa.
Anahí: Por que ela? Megan não parece o tipo de pessoa que consegue cuidar de alguém.
Andrew: Porque ele precisava de pessoas de confiança.
Anahí: Hm. – Torceu os lábios.
Andrew: E ela entende de enfermagem e essas coisas. Mas e aí?Quer que eu traga o seu jantar até aqui? Fiz uma sopa até que atrativa.
Anahí: Não, eu desço.
Andrew: A ideia era que você ficasse de repouso.
Anahí: Eu passei o dia todo no quarto, mais repouso do queisso e eu vou enlouquecer.
Andrew: Como queira, senhorita. – Disse divertido – Vamos? –Ofereceu o braço à Anahí.
Quando chegaram à copa, integrada à sala, apequena mesa de madeira estava posta, mas não havia ninguém ali.
Andrew: Ué, aonde é que a Meg foi? – Anahí deu de ombros,sentando numa das cadeiras ao redor da mesa. – Talvez tenha subido, vou ver seestá no quarto.
Anahí: Tudo bem.
Andrew: Pode se servir, se estiver ruim, leve em conta que eu nãosou exatamente uma pessoa que tem um grande contato com a cozinha.
Anahí: A cara não está tão ruim. É até atrativa. – Brincou.
Sozinha, Anahí se serviu e antes de colocar aprimeira colherada na boca, ouviu a voz de Megan vinda de algum lugar.
Megan: Senti saudades. – Dizia – Estou feliz que veio. Penseique demoraria mais. Como está tudo em Nova Iorque? – Nesse momento Anahílevantou, apurando os ouvidos, indo em direção àquela conversa que parecia virda varanda. A porta estava semiaberta, Megan estava sentada no baixo degrau quedividia varanda e jardim, de costas para a porta e ao lado dela, Alfonso.
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Let Me Go
FanfictionEra só para ser mais um trabalho. Ela o faria, o deixaria e seguiria a sua vida. Autossuficiente demais, fria demais, sádica demais, Anahí Portilla era incapaz de amar qualquer pessoa que não fosse ela mesma. Acontece que o destino adora pre...