Capítulo 127

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Quando Anahí fechou a porta do quarto, desabou. Encostada na parede, deixou seu corpo cair sentado ao lado da porta e, ao levar as mãos ao rosto, nem se deu conta de que já chorava. Um choro silencioso, sofrido.

Doía. Definitivamente, doía muito pensar que aquele homem podia ameaçar seu mundo inteiro, aquela felicidade tão duramente construída e que agora parecia um frágil castelo de cartas, esperando um mísero sopro para que pudesse desmoronar majestosamente.

Anahí não tentou impedir que as lágrimas caíssem, tampouco tentou sufocar o seu medo, sequer procurou pensar em qualquer saída. Ela sabia que precisava arrumar um jeito de contornar aquela situação, mas o medo a desestruturara de tal modo que parecia impossível pensar em qualquer solução coerente. Não havia lógica ali, só desespero. Aquela era uma das poucas vezes onde Anahí se permitia perder o controle e sucumbir ao apelo gritante que crescia em seu peito, e, naquele momento, era pânico.

Megan voltou, a noite deu lugar ao dia e ela não pregou os olhos. Continuava sentada no mesmo lugar. Bom, ao menos, parara de chorar.

Com certa dificuldade, Anahí se levantou. Pensou em descer, mas não queria correr o risco de encontrar Megan. A morena certamente notaria as olheiras profundas e os olhos inchados que o espelho sobre a cômoda denunciava. Arrastou então os pés até a cama e buscou seu celular, outrora desligado. Ao ligá-lo, o aparelho apitou, anunciando 3 novas mensagens de voz. Todas de Alfonso. Estava preocupado. Com razão, pensou ela.

Juntando a pouca coragem que tinha e pigarreando para espantar o tremor em sua voz, ela discou os números e esperou que ele atendesse.

Alfonso: Any! Como você está? Tentei falar com você inúmeras vezes hoje e não consegui.

Ela suspirou.

Anahí: Estou bem. Estava dormindo, a bateria do celular acabou. Só vi as suas ligações agora.

Alfonso não disse nada, talvez tentando decifrar o que havia por trás da voz fraca.

Anahí: E você? – Prosseguiu – Como está?

Alfonso continuou quieto, e quando o silêncio já se tornava incômodo ela o ouviu soltar o ar pesadamente.

Alfonso: Não minta pra mim.

Anahí: Como assim? Mentir sobre o que?

Alfonso: Você não parece bem. Tem algo errado.

Anahí: Por que diz isso?

Alfonso: Pela sua voz.

Anahí pigarreou outra vez, fechou os olhos com força e pensou no que diria a seguir. Deveria contar que Rodrigo os encontrara? Não. Ela não queria preocupá-lo nem arriscar o bem estar dele. Anahí daria um jeito naquilo sem que Alfonso se envolvesse. Ela era capaz de fazer isso, ou, ao menos, pensava que fosse.

Anahí: Eu só... Bem, eu só estou com saudades. – Disse, por fim.

Alfonso: Any... – Do outro lado da linha, Poncho coçou a nuca. Havia algo errado. Algo que ela não queria contar. – Não é só isso.

Anahí: Óbvio que não é isso! Minha saudade é imensa, Poncho, não a chame de "só isso". – Mesmo desconfiado, Alfonso riu. – Você vem amanhã?

Alfonso: Claro. Sabe, eu também sinto a sua falta.

Anahí: Será que algum dia vamos conseguir ser um casal normal?

Alfonso: O que seria um casal normal?

Anahí: Ah, daqueles que podem dormir e acordar juntos todos os dias.

Alfonso: Espero que sim... Acredito que sim. – Completou.

Anahí comprimiu os lábios, depois de semanas, aquela era a primeira vez em que se preocupava com o futuro. Talvez porque, depois que fugira, aquela fosse a primeira vez que se sentia ameaçada, que sentia que Alfonso estava ameaçado. Mas, ora, por quanto tempo ela achou que poderia continuar brincando de casinha sem que a realidade batesse à sua porta? Pedro, Rodrigo e toda a sujeira que eles representavam eram a sua realidade, e ora ou outra ela teria que encarar os fatos e enfrentá-los.
Ela era, afinal, uma fugitiva, vivendo escondida sob os cuidados de um investigador da polícia. Um cara que poderia ter a vida arruinada por culpa de um amor que simplesmente não deveria ter acontecido. Não deveria? Céus, ela estava perdendo a cabeça. Anahí não se culparia por ter se permitido viver aquela história. O que sentiam um pelo outro era forte demais para que fosse ignorado, e ela não deixaria que aquele pânico idiota a fizesse lamentar pelos melhores dias de sua vida.

Alfonso: Any? – A voz de Alfonso varreu seus pensamentos.

Anahí: Oi?

Alfonso: Você ouviu o que eu disse?

Anahí: Desculpa. Eu me distraí.

Alfonso: E depois ainda quer que eu acredite que não há nada de errado.

Anahí: Ai, Poncho, para. Você está sendo paranoico.

Alfonso: Não é paranoia, Anahí.

Anahí: O que é então?

Alfonso: Você está distante, Any. Parece preocupada. Eu, simplesmente, não sei o que esperar.

Anahí: O que quer dizer com isso?

Alfonso: Quero dizer que já tivemos problemas demais, que já tive surpresas demais com você... Então não chame isso de paranoia.

Anahí: Você confia em mim?

Alfonso: Sim.

Anahí: Então acredite quando eu digo que está tudo bem.

Alfonso: Tudo bem. – Ele suspirou – Eu preciso ir para a delegacia. Se cuida, okay? Qualquer coisa, me ligue.

Anahí: Amo você.

Alfonso: Eu também, Any. Até mais.

Anahí desligou o celular e abraçou seu travesseiro. Mentir para Alfonso era a última coisa que queria, mas ela precisava de tempo. Precisava ouvir o que Rodrigo tinha a dizer e resolver o que faria a respeito. "Talvez Pedro não precise ficar sabendo", aquela frase vinha martelando em sua cabeça. O que Rodrigo quisera dizer com aquilo? De qualquer forma, ela o ouviria para então tomar um rumo. E, por mais incerto que fosse, uma coisa era certa: ela não deixaria que Alfonso saísse prejudicado.

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