Capítulo 134

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Anahí continuou no quarto até que amanhecesse. Não havia sequer um ruído naquela casa, e ela chegou a cogitar que Alfonso tivesse partido. Não ouviu a voz dele durante toda a noite, tampouco a de Megan ou Andrew. Parecia estar completamente só. Só em corpo e alma. Havia perdido o homem que amava, mais uma vez e pelos mesmos motivos. Pela estupidez em acreditar que podia resolver as coisas sozinha. Maldita solidão que sempre a acompanhara. Anahí não estava acostumada a dividir seus problemas, e o reflexo disso agora parecia muito mais cruel. 

Andrew: Posso entrar? – Perguntou, a voz abafada pela porta fechada.

Anahí: Claro. – Respondeu, sentando-se na cama.

Andrew trazia consigo uma bandeja com uma xícara de café e algumas torradas. Com um fraco sorriso, ele se aproximou e colocou-a sobre a cama.

Anahí: Obrigada. 

Andrew: Como você está?

Anahí: Sinceramente? Horrível.

Andrew: Bom, vai adiantar eu dizer que isso vai passar?

Anahí: Não muito. O Poncho voltou para Manhattan?

Andrew: Não. Ele ainda está aqui.

Anahí: E você conversou com ele? Quero dizer... Você sabe o que aconteceu ontem à noite? 

Andrew: Ele me contou hoje logo que acordou. Estava mais calmo e conseguiu me explicar melhor as coisas.

Anahí: E o que foi que aconteceu depois que eu fui tirada de lá?

Alfonso: Se você quer saber se eu matei o seu namoradinho, infelizmente, não. 

Anahí estremeceu ao ouvi-lo, e então levantou os olhos para fitá-lo parado à porta. Os braços cruzados e a mesma expressão fria da noite anterior.

Andrew: Eu... – Pigarreou – Eu vou deixar vocês conversarem. Ao passar por Alfonso, Andy parou, dando um tapinha no ombro do amigo – Pega leve, cara. – Disse e, obviamente sem resposta, deixou o quarto. 

Ainda de braços cruzados, Alfonso deu alguns passos, apenas o suficiente para que pudesse fechar a porta atrás de si. Anahí esperou que ele dissesse algo, mas Poncho se manteve quieto, a cara fechada e os lábios comprimidos. 

Os olhos fixos no chão estavam pensativos, como se ele formulasse algo para dizer ou, quem sabe, como se tentasse engolir o punhado de palavras hostis que queria despejar em cima dela. 

Anahí: Eu não estou preocupada com o Rodrigo, Poncho. – Foi Anahí quem começou, levantando-se da cama, mas mantendo uma boa distância dele – Estou preocupada com você. – Ela viu o movimento de sua mandíbula, e quase foi capaz de ouvir o ranger de seus dentes. Alfonso estava furioso, embora tentasse, com todas as forças, mostrar-se indiferente – E eu gostaria que você me deixasse explicar exatamente o que aconteceu. 

Alfonso deixou de olhar para o chão para encará-la. Então assentiu. Estranhamente calado. 

Anahí: Okay. – Ela apontou a cama para que ele sentasse, ele meneou a cabeça, negando, ato que repetiria inúmeras vezes durante aquela conversa. – Tudo bem. – Disse, e suspirou antes de limpar a garganta e continuar. – Tudo aquilo que você viu e ouviu naquele bosque não é o que parece. 

Anahí pensou que ele fosse protestar, ao contrário, Alfonso ergueu as sobrancelhas e encostou na parede ao lado da porta, cruzando também as pernas.

Anahí: Nunca pretendi ir embora com ele, eu só precisava ganhar tempo, Poncho. Caso contrário, ele nos entregaria. – Outra vez ela esperou que ele falasse. No entanto, só veio o silêncio. Pesado, gelado. – Ele tinha provas que incriminariam você, e ele iria me entregar essas provas se pensasse que eu fugiria com ele. E... – Ela hesitou por um segundo, deixando de encarar aqueles olhos tão severos sobre ela – Ele disse que sabia quem matou os meus pais. Ele ia entregar tudo, Poncho! Tudo! Bastava ele acreditar que eu estava do lado dele. 

Foi então que Alfonso descruzou os braços e bagunçou os cabelos. Então sorriu, um tanto perplexo. 

Alfonso: Engraçado, Anahí. Por que eu tenho a impressão de que já conheço essa história? Ganhar a confiança de alguém para conseguir o que você quer... Manipular... – Ele caminhou pelo quarto – Ah, acho que já sei. – Parou na frente dela, os olhos desafiadores – Foi exatamente o que você fez comigo.

Anahí: Poncho, não tem nada a ver...

Alfonso: Não? – Interrompeu, a voz calma e carregada de ironia – Você fingiu estar do lado dele para conseguir pegar o que queria. Simples. Não te perece familiar, Anahí?

Anahí: Não vamos retomar essa história. Já falamos disso, Poncho. Pensei que tivéssemos superado.

Alfonso: E tínhamos! – Dessa vez exaltou-se – Até você resolver jogar tudo para os ares mais uma vez. Como sempre, Anahí! Mas que merda!

Anahí: Eu ia te contar, Poncho!

Alfonso: Mas não contou!

Anahí: Assim que ele me entregasse as provas, eu contaria tudo pra você e sumiríamos daqui!

Alfonso: Eu.Não.Acredito.Em.Você! – Falou alto e claro. Pausando entre as palavras.

Anahí: Alfonso, por favor. Eu sei que devia ter dito antes, mas eu tive medo.

Alfonso: Medo, Anahí? Isso não é medo. Escuta, qual é a dificuldade que você tem em confiar em mim? 

Anahí: Eu confio em você. – Contestou. Ele riu.

Alfonso: Quer saber? Dane-se! Agora aquele merda está solto por aí, com todas as supostas provas que você queria pegar. 

Anahí: Eu posso tentar...

Alfonso: Você vai ficar aqui por algum tempo, até que eu resolva tudo. – Continuou, seco. 

Anahí: O que você vai fazer? – Perguntou, burlando o nó em sua garganta, mas deixando transparecer a preocupação e o desespero que a assolava.

Alfonso: Isso não importa. Mas você vai ficar aqui, escutou? – Repetiu, enfatizando cada palavra.

Anahí: Poncho, não faça nenhuma besteira. 

Alfonso: Quem faz besteira aqui não sou eu, Anahí. – E, dito isso, ele deixou o quarto.

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