Capítulo 140

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Decisões drásticas exigem medidas drásticas. Quando nos resta um pingo de dúvida ou nos falta um pouco de coragem, tendemos a tentar, de inúmeras formas, dar uma chance para a vida nos fazer mudar de ideia, ou decidir por nós, quem sabe. Talvez fosse por isso que Anahí passara aqueles minutos tentando convencer Andrew a ir embora, sabendo bem que ele não o faria sem ela. Mas então, por algum pequeno detalhe, a dúvida some e a certeza se torna tão intensa que não há espaço para nada a não ser a ação. Não era a primeira vez que aquilo acontecia com Anahí, mas talvez seria a última. 

Anahí: Me desculpe. – Sussurrou, fitando no fundo dos olhos do amigo. E num instante ele estava estirado no assoalho de madeira. Trêmula, ela largou a pequena estatueta de bronze que acabara de acertar na cabeça de Andrew. Forte o suficiente para derrubá-lo, mas fraco o suficiente para não causar nenhum dano mais grave – Me desculpe. – Repetiu num suspiro.

Agora ela precisava ser rápida. O barulho certamente despertara a atenção de Rodrigo, e vale lembrar que ela pretendia pegá-lo e não ser pega. Não demorou mais de cinco segundos para que ela se adiantasse e trancasse a porta do escritório. 

Rodrigo: Então é aí que você está, vadia? – Vociferou enquanto esmurrava a porta fechada. 

Ela não respondeu, e tampouco estava lá quando ele arrombou a porta.

Rodrigo: Desgraçada. – Rosnou, encarando a janela.

Rodrigo se adiantou e saiu pela janela aberta, exatamente por onde ela passara segundos atrás. Lá fora, atrás de uma árvore, ela esperava que ele aparecesse. E não demorou muito para que isso acontecesse.

Anahí apertou o cabo metálico da faca que tinha na mão direita e respirou fundo enquanto ouvia, atenta, os passos de Rodrigo quebrando as folhas secas. Ordenou a si mesma que mantivesse a calma e, se Deus ainda não tivesse desistido dela, pediu que a perdoasse. 

Quando o barulho denunciou que ele estava prestes a encontrá-la, não havia mais tempo para nada. Era agora, estava nas mãos dela. Aquela era a hora. Já não cabia tempo para lamentos.

Num movimento rápido e certeiro, ela impulsionou o corpo para o lado, o braço direito voando no ar e cravando a faca no pescoço de Rodrigo. O jorrar do sangue foi imediato. Ela acertara. Era o fim. O fim da ameaça e o fim da sua paz de espírito. Aliás, será que um dia ela tivera paz? 

Anahí: Eu sinto muito. – Murmurou, encarando os olhos raivosos e arregalados de Rodrigo. Então o deixou lá, o corpo desmoronando até que estivesse inerte no chão. 

Ela não ousou olhar para trás, não se orgulhava do que acabara de fazer. A frieza que era tão necessária naquele momento parecia ter se esvaído como névoa. Tinha também plena consciência das consequências que teria de enfrentar, em contraponto agarrava-se à necessidade daquela ação, à necessidade de manter Poncho a salvo. 

De volta à casa, Anahí procurou não fazer barulho. Mandaria ajuda para Andrew, mas não podia ficar lá para se certificar de que ele estava bem. 

Anahí: Oi, sou eu... – Disse ao telefone – Preciso que venha me buscar, vou te dar as coordenadas. Estou voltando.     

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