Capítulo 114

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Já passava das duas. Depois de terem devorado a comida, sentados sobre a caçamba aberta, agora virada para o despenhadeiro, eles estavam quietos.

A inquietação começava a tomar conta dele. Estava procurando um meio de começar aquela conversa, ele queria colocar todas as cartas na mesa e encaixar as peças daquele quebra-cabeça para que a história dos dois fizesse o mínimo de sentido. Ela, no entanto, sequer pensava em qualquer coisa. Deixava que sua mente pairasse sobre os dois. Deus, estava feliz, feliz de verdade. Aproveitando um momento que ela não sabia o quanto duraria, mas que pouco importava, porque naquele instante perdido no tempo ele era eterno.

Com o canto dos olhos, ela percebeu que Alfonso esfregava as mãos no rosto. E então pôde notar a sua inquietação.

Anahí: Ok. – Ela se endireitou, ficando de frente para ele. – Tem algo te incomodando.

Alfonso: Na verdade, não. Não há nada me incomodando, mas há algo que eu quero conversar com você.

Anahí: Tudo bem. – E então foi a vez dele virar o corpo para ela.

Alfonso: Anahí, eu queria muito que você fosse sincera comigo nessa conversa. Eu preciso que seja sincera. – Ela pegou uma folha que caíra da árvore e passou a destrinchá-la discretamente.

Anahí: É o que eu venho tentando ser. – Disse, baixo, depois de clarear a garganta. Alfonso sorriu, levando a mão até o queixo dela e levantando seu rosto até que ela voltasse a olhar para ele.

Alfonso: Eu acredito. – Ela largou a folha, os olhos surpresos. Podia ver que ele estava sendo sincero naquelas palavras, e aquilo a pegou completamente desprevenida. Depois de tudo o que acontecera entre eles, aquela era a primeira vez que ele dizia acreditar nela. Ou talvez nunca o tivesse dito com aquelas palavras. – Acredito quando você diz que não vai fugir, quando diz que me ama. Mas, por mais que eu acredite nisso, eu não vou conseguir superar tudo o que aconteceu até que tenhamos conversado sobre isso. – O corpo dela retesou por um instante – Convenhamos, Anahí, toda essa nossa 'história' é ilógica demais.

Anahí: Eu sei. – Ele se mexeu, ajeitando-se e entrelaçando os dedos das mãos.

Alfonso: Eu preciso que esclareçamos algumas coisas antes de poder seguir em frente. Porque, sinceramente, se eu apenas tentar ignorar o que aconteceu, eu não vou conseguir. Olha, você não sabe o quão difícil é pra mim estar me abrindo para você outra vez, mas se eu me dispus a tentar, eu quero tentar direito. Eu quero derrubar essas malditas barreiras, Anahí, eu quero conseguir burlar a merda do meu orgulho ferido e fazer dar certo. Só que eu não vou conseguir fazer isso sozinho.

Anahí: Você não está sozinho. Eu estou aqui, e vou fazer o impossível para que consigamos. Juntos.

Alfonso permitiu-se alguns segundos de silêncio. Enterrou os dedos nos cabelos e respirou fundo.

Alfonso: Eu estive pensando muito, Anahí, e cheguei à conclusão que existem muitas peças que não se encaixam em toda essa história. Existe muita coisa que eu não sei. Você dizia me amar, mas tentava me afastar. Pedia para que eu confiasse em você, mas fez questão de deixar claro que aquela mulher que eu conhecia não existia, que tudo não passava de encenação. A minha pergunta é: o que mudou de lá pra cá? Eu, sinceramente, não entendo. – A mão dela buscou a dele, trazendo-a para o seu colo.

Anahí: Eu mudei, Poncho. Eu mudei. – Ele suspirou.

Alfonso: Não duvido que tenha mudado, Any, caso contrário não haveria porque estarmos aqui. Mas não é só isso. Preciso que me conte as partes dessa história que eu não sei. – Ela abaixou os olhos – Por favor.

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