Capítulo 37

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Quando Anahí voltou para a sala, Poncho ainda dormia, exatamente na mesma posição. Um sono pesado, tranquilo. Ela se sentou entre ele e o sofá, observando as feições perfeitas.
Impulsivamente, ela levou uma das mãos até o rosto dele, tocando-o com leveza. Os dedos deslizaram pela lateral do rosto de Alfonso, chegando à boca pequena e bem desenhada. Se ela pudesse estender aquela noite para sempre, ela o faria.

Anahí: Ah Anahí... – Ela fechou os olhos – Como é que você foi deixar uma coisa dessas acontecer?

Abraçando os joelhos, Anahí o observou durante a noite toda. Velando o seu sono, contemplando-o enquanto podia. A noite deu lugar ao dia, e ela ainda estava ali, buscando a coragem necessária para afastá-lo. Mas quanto mais o olhava, mais difícil parecia encarar o que teria de fazer.

Alfonso: Já acordada? – Perguntou ao abrir os olhos. A voz rouca e sonolenta.

Anahí: Perdi o sono. – Ela sorriu fraco, vendo-o sentar-se ao lado dela.

Alfonso: Obrigado por tudo.

Anahí: Por tudo o que? – Ela abaixou os olhos, sentindo a mão de Alfonso virar o rosto dela para ele.

Alfonso: Por me fazer sentir assim. – Os lábios dele tocaram os dela. Anahí fechou os olhos, segurando a pequena lágrima que queria escapar.

Anahí: Alfonso, nós precisamos conversar. – Tocou o rosto dele, tão próximo do seu.

Alfonso: Fale. – Murmurou, acariciando os braços dela, o nariz roçando o dela.


Sugestão de música para a cena: Reik - Fui

https://www.youtube.com/watch?v=ui2ypJs4URo


Depois de um longo suspiro, Anahí se afastou. Olhando-o. Podia se perder naqueles olhos.

Anahí: Ahm... – Ela encarou as mãos, nervosa. – Alfonso, a noite de ontem não devia ter acontecido.

Alfonso: Como? – Perguntou confuso.

Anahí: Alfonso, eu... – Anahí se levantou, afundando os dedos nos cabelos. – Bom, existem coisas sobre mim que você não sabe. – Alfonso parou na frente dela, esperando que continuasse – Eu... Eu tenho outra pessoa. – Imediatamente um vinco se formou no cenho dele. Ela viu a boca de Alfonso abrir e fechar várias vezes, em choque. – Eu amo outro cara.

Alfonso: Você só pode estar brincando. – Riu, incrédulo.

Anahí: Não, eu não estou. – Continuou, com a certeza de que aquilo era o certo a fazer. Não havia outra saída. Ela não poderia contar a verdade, tampouco poderia continuar um romance com ele. Talvez não fosse o melhor para ela, mas, certamente, era o melhor para ele.

Alfonso: Giovanna, qual é? – Balançou a cabeça, se negando a acreditar no que ouvia.

Anahí: Me desculpa, Alfonso. Eu devia ter te contado ontem à noite. Foi um pouco depois que a Dulce voltou e nós dois paramos de nos ver. Eu me apaixonei por esse homem e...

Alfonso: E o que? – Cortou-a, a voz alterada – Giovanna, o que você quer dizer? – Ele esfregou o rosto, a irritação nítida nos gestos bruscos e na feição perturbada. – Quer dizer que está com outro e ainda assim passou a noite comigo? Quer dizer que eu fiz papel de palhaço dizendo tudo o que sentia?

Anahí podia sentir todos os músculos do seu corpo se contraindo, pedindo para que fugisse dali. Sua boca parecia se negar a pronunciar aquelas palavras, e o nó, o impiedoso nó que se formara na sua garganta, parecia querer rasgar-lhe. Ela não choraria. Não podia demonstrar sequer um pingo de fraqueza perante ele. Alfonso deveria odiá-la e cabia a ela se encarregar disso.

Anahí: Não fala assim. Poncho, foi atração física, só sexo.

Alfonso: Só sexo? Depois de tudo o que eu te falei, foi só sexo? Porra! Pra mim não era só sexo. – Ele esmurrou a parede. Anahí se encolheu, os lábios cerrados, a respiração acelerada.

Anahí: Me desculpe. – Sua voz saiu baixa – Eu não queria que você tivesse entendido errado.

Alfonso: Se não quisesse que eu entendesse errado, bastava ter me dito isso ontem, quando eu cheguei aqui. Pra que fazer isso, Giovanna? Pra que?

Anahí: Eu ia dizer. Mas você insistiu, me disse tantas coisas. Pelo amor de Deus, eu sou humana, não é tão fácil assim resistir a você. – Disse com o tom mais arrogante que conseguiu.

Alfonso bufou, apoiando os braços na parede. Não queria olhar para Anahí, não queria acreditar que ela era tão vil.

Alfonso: E você não ouviu nada do que eu disse ontem, não é? Ignorou cada palavra minha.

Anahí: Sinto muito.

Quando Alfonso virou, Anahí pôde ver que seus olhos estavam úmidos. A decepção que ela viu dentro daquela íris verde a destroçou, e a fez se odiar de uma maneira que ela nem imaginava ser possível. Sentia-se, pela primeira vez, a pessoa mais suja e desprezível de todo o mundo. Jamais, nem nos trabalhos mais sujos, ela se sentira daquela forma. Anahí já havia seduzido inúmeros homens, já havia brincado com o sentimento de tantas pessoas que nem podia contar, mas nunca havia sido assim. Alfonso, mais do que tê-la feito se apaixonar, a havia mudado.

Alfonso: Pode ficar com a camisa. – Disse, duro. Já havia vestido a calça e colocado os sapatos.

Anahí: Quer um conselho? Volte pra Du... – Ela começou, mas foi interrompida por ele.

Alfonso: Não, eu não quero um conselho seu. Mas vou te dar um: Guarde a camisa no fundo da gaveta, vai que o seu namorado a encontre. Sabe, não é bom correr o risco. – Ela fechou os olhos, enchendo os pulmões de ar. Alfonso estava tão magoado, tratando-a com tanto desprezo e, ainda que aquilo fosse exatamente o que ela esperava, machucava.

Quando ela ouviu o barulho da maçaneta, seus olhos se abriram em par. Droga.

Paul: Amor, cheguei. – Ele jogou as chaves na mesinha ao lado da porta. Alfonso virou o rosto para ele, rígido. – O que está acontecendo aqui? – Perguntou, fingindo um misto de surpresa e desapontamento.

Alfonso: Um conselho pra você também – Disse, frio – É melhor tomar conta da sua namorada, ela não sabe resistir aos instintos. – Ele entortou os lábios, e Anahí viu o velho Alfonso voltar. Aquele que se escondia atrás da indiferença e do sarcasmo.

À passadas largas ele caminhou até a porta e, muda, Anahí o viu sair do apartamento batendo a porta com força. Depois disso, ela desabou.


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