Capítulo 148

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Anahí olhou ao redor, estava tudo escuro. Sua cabeça doía e ela percebeu que há pouco havia perdido a consciência. Tentou levantar, não teve forças. Levou então as mãos à boca, o gosto de sangue era forte. 

Anahí: Droga. – Murmurou. O sacolejar de seu corpo indicava que estava em movimento. 

Tentou levantar outra vez e sua cabeça bateu numa superfície dura. Então voltou a cair deitada.

Anahí: Que merda é essa? – Questionou enquanto tateava a extensão daquele local. Parecia uma espécie de carpete. Então, aos poucos, ela percebeu onde estava. No porta-malas de um carro. E com os pensamentos mais ordenados, lembrou-se do exato momento em que apagou.

A conversa com Pedro havia sido intensa. Tensa.

Quando chegou, Anahí estranhou o vazio da boate. Ninguém para observá-la, ninguém para revistá-la. Subiu as escadas que outrora foram tão familiares e sentiu-se uma estranha naquele lugar. O lugar que fora seu refugio tantas e tantas vezes. 

Como já sabia o caminho até mesmo de olhos fechados, ela dirigiu-se até a sala onde Damián costumava ficar. E lá estava ele. Displicentemente sentado, os pés sobre a mesa e um copo de uísque nas mãos.

Pedro: E o filho pródigo à casa torna. – Proclamou, levantando-se. E, indiscutivelmente calmo, caminhou até ela.

Anahí arqueou a sobrancelha, mas não fugiu do abraço esmagador que Pedro lhe dera. 

Pedro: Senti sua falta, filha. – Disse, ainda abraçado a ela – Você demorou a voltar, pensei que voltaria pra mim mais depressa.

Ela sabia que ele estava fingindo. Por isso não cogitara enganá-lo com a história manjada da filha arrependida. Pedro era esperto o suficiente para saber que ela não voltaria atrás depois de ter ido tão longe.

Anahí: E por que eu voltaria pra você, Damián? – Perguntou, afastando-se.

Pedro: Porque eu sou seu pai. – Respondeu, dando de ombros. 

Anahí: Você ainda insiste nisso? Damián, você não é o meu pai. Nunca foi. Meu pai morreu há muito tempo. E, se quer saber, eu desconfio que tem um dedo seu nisso.

Pedro: Dedo meu em que? – Estalou os lábios após dar um gole na sua bebida.

Anahí: No incêndio que matou os meus pais.

Pedro: Da onde você tirou essa loucura, querida? – Sentado outra vez, ele a observava. 

Anahí: Havia me esquecido do quanto você pode ser cínico. 

Pedro: Porque voltou? 

Anahí: Para acertar as coisas.

Pedro: E o que temos para acertar?

Anahí: Você me deixou apodrecendo na cadeia, Pedro! – Com a voz alterada, ela se aproximava. O dedo apontado para ele – Eu que sempre estive do seu lado! Eu que sempre te ajudei com as suas sujeiras! Como você teve a coragem de deixar eu me foder naquela delegacia sabendo de tudo o que eu poderia ter dito sobre você? Eu podia ter acabado com você! – Ela deixou de falar um instante. Ofegante.

Pedro: Terminou? – Perguntou, calmamente, rodopiando o cubo de gelo no copo. 

Anahí: Eu podia ter acabado com você. – Repetiu – Eu devia ter acabado com você. 

Pedro: Podia e devia. Mas não o fez. E por que não o fez, querida? – Perguntou, mas não deu tempo para que ela respondesse – Oh, porque você estava morrendo de medo de mim. Estava morrendo de medo que eu fizesse alguma coisa com aquele detetive de merda.

Anahí: Você iria matá-lo. – Jogou – Eu devia ter duvidado?

Pedro: Meu bem, eu prometi que o manteria em segurança, se você voltasse para mim. – Rebateu, tão calmo quanto no início. 

Anahí: Porque se eu ficasse contra você, você o mataria. Como fez com tantas outras pessoas. Uma vida não é nada pra você, Pedro. Nem mesmo a minha. 

Pedro: Prezo muito a sua vida, minha querida. Caso o contrário, teria te matado assim que você pôs os pés aqui na minha boate com essa escuta maldita.

Any sentiu a garganta travar. A meia quadra dali, Uckermann desceu da minivan onde estava escondido.

Christopher: Vamos entrar. – Avisou-a – Saia já daí.

Anahí: E por que eu estaria com uma escuta, Pedro? – Questionou, a voz branda, os olhos fugazes procurando qualquer coisa que pudesse usar em sua defesa. 

Pedro: Eu não sou idiota, Anahí! – Bradou, e o golpe foi tão rápido que ela não teve como desviar.

Pedro avançou para cima dela, a mão voando no ar e acertando em cheio seu rosto. A força fora tanta que o anel que ele usava rasgou a bochecha de Anahí.

Depois do tapa, ele arrancou o ponto quase imperceptível que ela usava no ouvido esquerdo e tateou-lhe o colo atrás do microfone. Encontrou-o atrás do pingente do colar que ela usava. Arrancou-o também.

Pedro: Queria uma confissão, não é mesmo? – Perguntou, uma das mãos agarradas ao cabelo dela. Então aproximou o microfone da boca e disse em alto e bom som – Eu, Pedro Damián, matei Anahí Giovanna Puente Portilla. – Sorrindo, ele arqueou uma sobrancelha – Aí está a sua confissão. – Completou para depois arremessar o microfone no chão.

Christopher: Filho da puta! – Rugiu ao ouvi-lo em seu ponto. Correndo o mais rápido que podia, ele atravessou a calçada e adentrou a boate. Com a arma empunhada e três outros policiais em seu encalço, estranhou a monotonia que envolvia o local. 

Denny: Hey. – Murmurou, apontando as escadas.

Denny e Uckermann subiram, os outros dois se encarregaram de vasculhar o andar de baixo.

Anahí: Você não teria coragem. – Rosnou. Os cabelos ainda presos pela mão de Pedro.

Pedro: De matar você? – Questionou, rindo. Então sacudiu a cabeça dela – Já matei um de meus homens hoje por sua culpa. Se quer saber, já não dou a mínima pra você. Você deixou de valer qualquer coisa quando se debandou para o outro lado. Você se perdeu, Anahí!

Ela já não ouvia. A frase dita há pouco ecoava em sua cabeça. Paul! Meu Deus. Seus olhos lacrimejaram, sua garganta secou.

Anahí: Você não... – A voz embargada e carregada de desespero custava a sair – Como você pôde? Não! Não... Não... Não! – Repetia atordoada, disparando socos no peito dele.

Pedro: Eu sei... Eu sei. – Dizia calmamente, numa frieza desumana – Ele era seu amigo. – Segurando-a pelos braços, ele a obrigou a parar e olhá-lo – Viu só o que você fez com o seu amigo, Anahí? Isso tudo é culpa sua. Se não tivesse se voltado contra mim, nada disso teria acontecido. Pobre, Paul... 

Ela podia ver a diversão nos olhos dele. Podia notar como ele ansiava pelo seu desespero. Como esperava ardentemente pela sua dor. E céus, como doía. Era aterrorizante pensar que ele pudesse ter feito qualquer coisa contra Paul. Era insuportável.

Anahí: Pedro... Por favor! – Rogou, mostrando a sua fraqueza, as lágrimas rolando pelo rosto – Me diga que está blefando! 

Pedro: Por que eu estaria blefando?

Anahí: Porque você sempre se divertiu com a dor alheia. Pedro... O Paul não tem nada a ver com isso! Por favor.

Pedro: Já está feito, querida. – Deu de ombros, soltando-a – Mas vamos acabar com o seu sofrimento, certo? Vamos te dar o fim que merece.

Anahí cerrou os lábios, meneando a cabeça. Suas mãos alcançaram a estatueta de cobre que estava sobre a mesa, mas antes que ela pudesse acertar Pedro, algo atingiu sua cabeça e ela desmaiou.


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