Capítulo 136

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Há vezes em que a vida insiste em dar errado, ou talvez, à sua maneira, ela esteja dando certo, percorrendo caminhos tortos para chegar a um determinado ponto. Ponto este onde será possível olhar para trás e pensar que tudo, absolutamente tudo, valeu a pena. 

Bem, a vida de Alfonso ainda não havia chegado a esse ponto, e ele tampouco acreditava que algum dia chegaria. Sentado ao balcão de um bar, ele esvaziava mais um copo de uísque. Com os olhos perdidos no único cubo de gelo que dançava pelo vidro, ele procurava apagar aquelas últimas horas da sua vida. Alfonso sabia que teria de resolver toda aquela situação, Rodrigo havia fugido e tinha provas contra ele, mas não agora. Não havia como raciocinar com clareza depois da conversa que tivera com Anahí, aliás, era ela a razão de todas as ações ilógicas que ele havia tomado nos últimos tempos. Ações que agora pareciam todas vãs.

– Posso me sentar? – Uma moça de cabelos longos e dourados perguntou, apoiando o corpo esguio no balcão. Alfonso a olhou de canto, depois deu de ombros.

Alfonso: O banco está aí pra isso. 

– Hm. – Mesmo depois da grosseria, a garota se sentou, pedindo uma cerveja – A vida anda difícil? – Puxou assunto.

Alfonso não se daria o trabalho de responder. Não tinha vontade alguma de conversar com alguém, muito menos com uma estranha. No entanto, havia outra coisa que ele podia fazer para tentar afastar aquele turbilhão de pensamentos que parecia sufocá-lo.

Alfonso: Muito. – Respondeu ao virar-se para ela – Mas, se quiser torná-la mais fácil... – Sugeriu, deixando o copo sobre o balcão e alcançando uma das coxas desnudas dela.

Depois de um sorriso torto, a loira se levantou, envolvendo o pescoço dele com os braços.

– Me chamo Amanda. 

Ele não ouviu. Pouco importava. Segurando a cintura dela, Alfonso devorou sua boca. Implorando para que seu corpo conseguisse falar mais alto do que o eco das malditas palavras de Anahí. Mas ele não conseguiu. 

Minutos depois estava cambaleando para fora do bar, caminhando com dificuldade até a casa de Andrew. 

O estrondo na porta fez Anahí se levantar do sofá. Ela não conseguira dormir, e esperava que Alfonso voltasse para que pudesse se desculpar. Outra vez.

Desconfiada, Any demorou um tempo segurando o trinco da porta, ponderando se devia abri-la ou não. Agora tudo era silêncio. Tanto dentro como fora da casa. Rodrigo podia estar ali, pensou. Mas então ouviu um baixo resmungo, e em questão de segundos estava do lado de fora. 

Anahí: Poncho... 

Naquele estado, ela não esperava que ele respondesse qualquer coisa. Então apenas se sentou ao lado dele, esparramado na varanda, e trouxe o rosto dele para o seu colo. 

Anahí: Eu sinto muito. – Murmurou, os lábios tocando os cabelos negros de Herrera. 

Ela o ouviu suspirar, enquanto se aconchegava a ela. Bêbado demais para ficar longe. Fraco demais.


"Its been a long a day and all I've got to say is I've been wrong

Tem sido um longo dia e tudo o que eu tenho a dizer é que eu estava errado

So take a leave of absence, tell me you'll be gone, I don't want to see your face

Então pegue um pouco da ausência, me diga que você irá embora, eu não quero ver seu rosto"


Enquanto os dedos de Anahí deslizavam pelos cachos dele, ela se perguntava se algum dia conseguiriam colocar as coisas no lugar. Talvez não. Ou talvez aquele fosse o lugar dos dois. No meio da turbulência, sendo ambos um pequeno refúgio, um pequeno ponto de paz.

Quando a respiração de Alfonso ficou pesada e seus olhos se fecharam, Anahí deixou que seus lábios tocassem a testa dele. Devagar. 

Alfonso: Droga. – A palavra baixa e arrastada saiu rasgando a garganta de Alfonso – Droga, Anahí. 

Anahí: Eu sei. – Disse sem se afastar.

Alfonso: Por que, eim?

Anahí: Porque eu sou uma idiota. Me desculpa. 


"Its been a long week, I'm finally feeling like its ok to break into a thousand pieces, 

Tem sido uma longa semana, eu estou finalmente sentindo como é normal quebrar em mil pedaços

No one can replace, only I can find my way

Ninguém pode substituir, somente eu posso encontrar meu caminho"



Ele não respondeu.

Anahí: Eu sei que sou toda errada, Poncho, mas eu amo você. E espero que um dia você consiga perdoar tudo o que eu fiz.

Ele arrastou uma das mãos, pousando-a sobre a cintura de Anahí, apertando-a quase carinhosamente. E com o rosto afundado no peito dela, sem mais nenhuma palavra, deixou que o sono o levasse. E naquele mísero momento, sem lógica, mas cheio de sentimentos, ela se lembrou daquilo que já sabia. Que não importavam as barreiras, eles sempre estariam juntos. Talvez não em corpo, mas juntos.


"It's been a long year and I'm finally ready to be here.

Tem sido um longo ano e eu finalmente estou pronta para estar aqui."


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