Ele realmente não gostava do que estava fazendo. Mas seu faro não costumava falhar. Embora Alfonso quisesse acreditar que Anahí dissera a verdade, seu instinto insistia que as coisas não estavam do jeito que deveriam. E foi seguindo esse instinto que ele desceu as escadas e a viu saindo pela porta dos fundos.
Notando o cuidado que ela fazia para não bater a porta, Poncho sentiu como seu corpo ficava tenso. Com passos rápidos, repetiu os movimentos de Anahí a tempo de ver um vislumbre de seu corpo entrando pelo emaranhado de galhos e folhas.
Não havia nem ao menos uma sombra de dúvida. Ela mentiu, mais uma vez, e estava claramente escondendo algo dele. Sentindo cada parte de si gritar de raiva, Alfonso correu atrás dela, diminuindo os passos ao escutar vozes. Então freou bruscamente. Os olhos arregalados e o fôlego contido. Enquanto tudo o que podia escutar, repetidamente em sua cabeça, eram as palavras que Anahí havia dito antes de notá-lo.
– Eu não contei nada para ele, Rodrigo – Ela ofegou com o aperto dele em seu pulso – Eu disse que você podia confiar em mim, não disse? – Rodrigo a olhava fixamente, a raiva estampada em cada parte do seu rosto. – Confia em mim, eu vou com você para qualquer lugar. Só preciso me livrar do Poncho.
Foram os olhos de Rodrigo que o fitaram primeiro. Em seguida, notando a sua distração, Anahí virou o rosto, acompanhando a direção dos olhos enraivecidos de Rodrigo. E foi aí que o viu.
Paralisado a poucos metros dos dois, Alfonso bufava, o peito subindo e descendo com violência. Seu olhar pairava sobre ela e a raiva que ela viu estampada naquele semblante a calou. Pedaço a pedaço, ela viu a sua felicidade se desmanchar como pó. E antes que qualquer palavra ilógica pudesse saltar de sua boca, Alfonso encarou Rodrigo, cerrando os punhos e dando meio passo à frente.
Alfonso: Eu não vou perguntar o que está acontecendo aqui, por que eu já ouvi o suficiente. – A voz carregada e mais grave do que o de costume saiu cheia de ódio. E não só ódio. Havia também uma carga considerável de decepção ali.
Anahí: Poncho... – Tentou. O baixo sussurro que veio da boca de Anahí morreu quando Rodrigo soltou seu pulso e a afastou, tirando-a bruscamente do caminho.
Anahí tentou agarrar o braço de Rodrigo, mas poucas passadas depois ele estava parado na frente de Alfonso. Cara a cara.
Rodrigo: Detetive de merda. – Rosnou – Sempre aparecendo na hora errada...
E ele não terminou de falar. O punho de Herrera acertou em cheio sua bochecha esquerda, fazendo com que seu rosto fosse arremessado para o lado.
Anahí gritou no exato momento em que Rodrigo, limpando o sangue que escorria de seus lábios, avançou para cima de Alfonso.
Desviando do corpo alto e magro de Rodrigo, Herrera acertou-lhe outro golpe, dessa vez no estômago. Seu rosto, transtornado de raiva, parecia tão brutal quanto os movimentos que fazia. Um braço envolvendo o pescoço de Rodrigo, o outro acertando-lhe repetidamente a costela.
Num surto de raiva, o outro conseguiu livrar-se dos braços de Herrera e o atirou no chão. Poncho rugiu, as costas absorvendo o impacto da queda e, antes que pudesse se levantar, recebeu um soco no queixo.
Anahí: Para! – Rogou, a voz alta e falha.
Nenhum dos dois parou para ouvi-la. Rodrigo continuava sobre ele, disparando uma sequência de golpes certeiros no rosto de Alfonso, enquanto as mãos dele tentavam, inutilmente, afastá-lo.
Ela gritou mais uma vez, pediu que parassem, mas ela sabia que ninguém a escutaria. Exceto Megan, que da casa ouvira Anahí. Ela não se importaria se dentre todos os gritos não tivesse ouvido o nome de Alfonso.
Com toda aquela cena rodando em câmera lenta em sua cabeça, e com sua própria voz distante como um eco perdido, Any se viu partindo para cima de Rodrigo. Agarrando a camisa dele, ela tentou tirá-lo de cima de Herrera. De punhos cerrados, socou as costas daquele homem, até que, finalmente, os olhos azuis se voltaram para ela.
Rodrigo: Filha da puta! – Bradou, virando-se e empurrando-a com o braço.
Anahí caiu sentada no chão, mas aqueles poucos segundos de distração foram o suficiente para que Alfonso conseguisse se colocar de pé.
Anahí: Poncho, por favor, vamos embora. – Sentindo uma lágrima rolar por seu rosto, Any se levantou, correndo até Alfonso e segurando-lhe o braço – Eu vou te explicar tudo o que aconteceu, mas, por favor, vamos sair daqui.
No entanto, a raiva dele era tanta que sequer notara que ela falava com ele, sequer notara a pequena mão trêmula que tentava puxá-lo.
Com um gesto brusco, Alfonso limpou o suor que escorria em seu rosto e avançou outra vez para cima de Rodrigo, que conseguiu desviar de um primeiro soco para depois ser atingido no nariz. Anahí tentou intervir outra vez, procurando colocar-se no meio dos dois, foi quando, olhando no fundo dos olhos dela, Rodrigo se afastou.
E enquanto ela tentava entender o que estava para acontecer ali, ele sacou uma arma do cós da calça e apontou na direção de Herrera.
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Let Me Go
FanfictionEra só para ser mais um trabalho. Ela o faria, o deixaria e seguiria a sua vida. Autossuficiente demais, fria demais, sádica demais, Anahí Portilla era incapaz de amar qualquer pessoa que não fosse ela mesma. Acontece que o destino adora pre...