Capítulo 151

998 79 11
                                    

A capela estava vazia. Além do padre, apenas Anahí, Christopher e Denny. Os dois sentados no terceiro banco, ela em pé em frente ao caixão.

Anahí: Eu sinto muito, Paul. – Falava baixo, as lágrimas contidas – Você tinha tudo para ter uma vida maravilhosa, porque você era uma pessoa maravilhosa. – Suas mãos repousaram na madeira – Você está bem, não está? Por favor, onde quer que você esteja, esteja bem. Você só merece o bem.

Padre: O Senhor há de ter piedade da alma dele, minha filha. Ele está com o Pai. – Confortou o sacerdote. Ela assentiu, ensaiando um sorriso, mas não tirou os olhos de Paul.

Anahí: Quem é que vai ouvir todas as minhas besteiras agora, eim? – E aí, uma lágrima caiu – Você era um dos meus únicos amigos, senhor Wesley, por isso posso confessar que estou sangrando por dentro. Você deixou um vazio imenso. E esse vazio só é preenchido pela culpa que eu sinto. – Seus dedos delinearam o rosto dele – Eu não devia ter deixado você voltar para aquela boate. Meu Deus, como você foi teimoso! Tudo parece mais difícil agora. Tudo parece mais triste sem você.

A passos lentos, ela se afastou do caixão, sentando na beirada do primeiro banco, a cabeça baixa.

O silêncio que ficara na capela, foi substituído por uma oração feita pelo sacerdote. Depois, Anahí tornou a levantar-se, voltando para perto de Paul, colocando as mãos sobre as dele.

Anahí: Eu espero que você encontre a paz, meu amigo. Essa paz que, tenho certeza, estou longe de conhecer. – Aproximando seus lábios da testa dele, ela depositou ali um demorado beijo. Então olhou para Christopher e Denny e assentiu.

Ambos levantaram, e caminharam até ela, fechando o caixão.

Paul foi levado para o Green-Wood Cemetery, tudo pago por Anahí.

Denny: Eu sinto muito, Anahí. – Comentou, enquanto ela, calada, via o caixão sendo colocado debaixo da terra.

Anahí: Acho que podemos ir agora.

Denny: Tome o tempo que precisar.

Anahí: Eu já tomei. – Respondeu, tentando resgatar a força que não tinha. No entanto, quando se virou para dirigir-se à viatura, toda a fragilidade voltou.

Parado, ao lado de uma suntuosa árvore, estava Poncho. A vontade de correr para ele e pedir, em súplica, que fizesse aquela dor desaparecer era grande. Mas ela não o fez. Caminhou lentamente na direção do carro, e, consequentemente na direção dele, enquanto sentia seu rosto ser lavado outra vez pelas lágrimas.

Alfonso: Sinto muito, Any. – Murmurou quando ela parou à sua frente.

Anahí: Eu também.

Alfonso: Em nome do nosso distrito, eu presto as nossas condolências.

Anahí: Ele não merecia ter morrido, Poncho.

Alfonso: Não sei se há algo que eu possa dizer para te reconfortar nesse momento.

Ela pensou em pedir um abraço, mas não pediu. Ele pensou em abraça-la, no entanto, também não o fez.

Alfonso: Eu preciso conversar com você, ainda que esse seja um péssimo momento.

Anahí: Eu vou pedir permissão ao Christopher para irmos até o café que há aqui perto. O tenente me deixou sair sob os cuidados dele, então...

Alfonso: Não precisa, Any. Podemos nos falar aqui mesmo. Vai ser rápido. – Disse, a tristeza mal escondida na voz fraca.

Anahí: Tudo bem. – Concordou, secando o rosto.

Alfonso: Bom... – Começou, puxando uma golfada de ar – Pedi transferência, Any. Vou para Seattle. – Os olhos dela saltaram, a garganta secou.

Anahí: Seattle? Nossa, longe... – Comentou, nitidamente desestruturada.

Alfonso: Eu preciso dar um jeito na minha vida, Any. Os estragos que toda essa história me causou não foram poucos. Preciso me afastar daqui.

Anahí: Eu sei. E eu jamais tiraria a sua razão. Você tem o direito de recomeçar a sua vida e, mais do que ninguém, você merece ser feliz.

Alfonso: Eu sinto muito por estar indo embora justo agora, mas...

Anahí: Não se justifique pra mim, Poncho. – Interrompeu-o – Eu não estou julgando você. E você não está falhando comigo por estar indo embora. Jamais daria certo, ambos sabemos disso. Nossas vidas estão fadadas a rumos diferentes demais. – Contendo um soluço, ela abriu um fraco sorriso – Eu já disse isso uma vez, e repito, eu quero que você seja feliz.

Ele sorriu, fraco, melancólico. Talvez estivesse ali não para se despedir, mas esperando que ela pedisse para ficar. Talvez aquela fosse a sua última tentativa. A última deixa.
Mas o pedido não veio, e nem viria. Anahí tinha consciência da insanidade de pedir que ele ficasse por ela. Ela seria presa. E ele precisava seguir em frente, refazer a vida. Porque, embora doesse, ela sabia que era assim que tinha que ser.

Anahí: Boa sorte em Seattle.

Alfonso: Boa sorte na vida. – Com os olhos estreitos, Alfonso se adiantou e deu um abraço rápido nela. E ela agradeceu mentalmente por aquele contato ter durado tão pouco. Seria fácil desabar com aqueles braços amparando seu corpo.

Suspirando, ela o viu se afastar e entrar em seu carro. Então levou as mãos ao peito. Doía. Seu coração doía. Haviam sido despedidas demais para um único dia.

Let Me GoOnde histórias criam vida. Descubra agora